i gave my life to a simple chord

sexta-feira, agosto 29, 2003

Saudades do Rio
[22.ago.03]

vetaram a minha BELISSIMA ilustracao de PAINT ART



São Paulo é uma cidade venenosa. Em vários sentidos, em todos os sentidos possíveis e imagináveis.

Começando pelo ar, que é essencial para a vida, toda a vida. O ar é podre, entope os poros, suja a pele, encarde a alma. O ar é venenoso. O ar não tem jeito.

São Paulo é a cidade dos desesperançados, dos que largaram suas raízes, migraram de suas terras esperando uma vida melhor e tudo que encontraram foi cimento e ar sujo, asfalto esburacado, ônibus velhos balançando aos solavancos, pichações que agridem os olhos e não respeitam nem os templos dos deuses alheios. Tanto os miseráveis quanto os meninos do interior que esperam uma vida melhor vêm para cá em busca de algo, alguma chance, alguma esperança e só encontram um gosto amargo e uma saudade de casa, da inocência. São Paulo é a cidade onde quem não tem dinheiro, está fodido. Um abismo social enorme, os pobres morando nas bordas e os ricos morando em mansões no Morumbi.

São Paulo não tem horizonte. Se você está estressado, cansado, irritado, não tem o que fazer a não ser andar pelas ruas sujas ouvindo o barulho dos carros, olhando o céu tóxico que às vezes até fica bonito, e de tanta poluição cria uns rosas absurdos no pôr-do-sol. Bonito, mas venenoso. Tentando se esconder em praças banguelas com suas árvores mirradas, mil prédios em volta, como que se curvando, oprimindo, sufocando. Não tem para onde fugir.

São Paulo é uma cidade venenosa, uns pisando na cabeça dos outros, uma ou outra rara amizade nas quinas da cidade, sem competição, sem inveja. O maior veneno de São Paulo é a inveja, a inveja de quem faz alguma coisa, alguma diferença no mundo, de quem consegue não ser engolido pelo concreto. Porque muitos são engolidos pela grande metrópole-província e não há jeito de esquecer disso olhando para o mar, dando uma voltinha na praia, tomando uma água de coco no quiosque, porque não há mar, não há brisa, não há um descanso para olhos feridos, doloridos, ardendo de tanto veneno. Punhais nas costas, logo depois do sorriso cínico e do beijinho no rosto. São Paulo é uma cidade venenosa.

Uma cobra, uma puta que te seduz no escuro, promete mil coisas e quando você chega perto ela não passa de uma velha sem dentes, as sobrancelhas falhadas, a carne flácida, o hálito azedo causando repulsa e a vontade de se mandar correndo. Cidade dos trapaceiros, dos interesseiros, dos falsos. Cidade de cimento e veneno.

Cansei.

Cansei do veneno, cansei de tudo, cansei do asfalto sujo, do barulho, das luzes. Cansei dos ônibus, das bandas, do metrô lotado, das ruas, do trânsito, do complexo equivocado de cosmopolita, do ar, do clima, da inveja. Cansei de tudo. Quero me mandar. Empacotar tudo e me mandar, assim que der. Assim que der, eu vou.

.: Clara Averbuck :. 9:03 PM

O Cuzão

*Publicado originalmente em 25 de julho como "O Bundão", que eu não estava afim de chocar os leitores do jornal

foi o marcelo que fez



Agora que somos uma família (contando, é claro, os gatos), resolvemos, um pouco tarde, procurar uma casa maior do que nosso apartamento-de-um-quarto-de-frente-para-a-feira-numa-rua-barulhenta, perto do centro da cidade. Rodamos como loucos enquanto eu ainda estava grávida, vimos milhares de casas, todas com algum defeito. Balançávamos a cabeça, desolados, e continuávamos a busca pela Casinha Perfeita. Finalmente encontramos, e ela era branca, e ela era em uma rua silenciosa, e ela era linda, e soubemos, mesmo antes de entrar, que era ali.

Marcelo juntou documentos, convenceu o fiador, enfrentou bravamente a burocracia do mal e foi fazer uma reunião com o advogado responsável pelo imóvel. Ressaltando que não somos o que se pode chamar de pessoas arrumadinhas, sabe, nós somos roqueiros e nos parecemos com pessoas que gostam de rock. Nada de piercings pendurados na cara ou moicanos, nada de exageros. Só que eu não uso terninhos, a não ser que esteja me sentido mod, e o Marcelo não é um penteadinho fedendo a loção de barba, diferente do Senhor Advogado que o atendeu. Ele sim, fedia a loção de barba e usava um vidro inteiro de gumex no cabelo. E eu que achava que ninguém mais usava gumex. Se fosse só no cabelo, tudo bem, mas aparentemente o gumex vazou para o cérebro do tal indivíduo. Vamos chamá-lo de O Cuzão, por razões óbvias. O Cuzão olhou para a jaqueta de couro do Marcelo, para o bigode do Marcelo, para o All Star do Marcelo, como se ele estivesse vestindo um macacão sujo da prefeitura, aqueles que os lixeiros usam. Ele usava um terno bem alinhado, sapatos impecavelmente engraxados, a pele cuidadosamente raspada com Gillette Mach 3 e aquele cabelo absurdo lambido e grudado na cabeça, com a marquinha do pente e uns cachinhos que sobravam na nuca, também duros de gumex.

Depois de apresentar o contrato, o Cuzão olhou de novo com aquele nojinho e aquele ar de superioridade que só os legítimos Bundões conseguem ter e perguntou:

- Você toca alguma coisa?

Marcelo, todo feliz, respondeu que sim, guitarra e violão. Talvez O Cuzão não fosse tão Cuzão, afinal de contas. Mas era, e respirou, contrariado.

- Vvocês não vão ficar tocando guitarra em casa, né? Porque o inquilino anterior trouxe muitos problemas. Eles tocavam rock o dia inteiro, faziam festas, levavam pessoas, ficavam cheirando cocaína até de manhã. Os vizinhos reclamavam muito. Vocês não vão fazer essas coisas, não é mesmo?

Marcelo, rangendo os dentes, respondeu que se ele tocasse um acorde alto, acordaria a Catarina. O Cuzão ignorou, como se o fato de ter uma criança recém-nascida em casa não impedisse que nós, os roqueiros sujos, mal-vestidos e pervertidos, ficássemos tocando rock muito alto e usando drogas e fazendo orgias e incomodando os vizinhos. Aliás, eu tenho uma dúvida. Como eles sabiam que as pessoas cheiravam cocaína até de manhã? Tinha um buraco na parede? Uma câmera? Os vizinhos tinham um binóculo? Ou será que os inquilinos anteriores simplesmente tinham cara de quem fazia essas coisas? Eu acho que sim.

De qualquer forma, o Cuzão entregou o contrato e Marcelo disse que levaria para casa, para analisar, e traria de volta com uma proposta de melhoria na casa, que apesar de ser perfeita, não tem banheiro no andar de cima. Foi mencionar “reforma” que O Cuzão literalmente arrancou o contrato de volta.

- Não senhor. Nada de reforma. Ou assina o contrato como está e entrega na segunda-feira, ou se manda. Vai, vai embora. Não quero mais alugar essa casa para você. Volta aqui com o seu pai. Tem um monte de gente querendo esse imóvel. Se manda.

Isso tudo enquanto espanava a mãozinha manicurada no ar, como quem espanta uma mosca. Cuzão. Marcelo, urrando por dentro, apaziguou O Cuzão e seu ataque de bundice e recuperou a papelada, com vontade de rasgar tudo, queimar e entregar junto com uma fralda suja da nossa filha na porta do escritório d’O Cuzão.

No fim, tudo deu certo, a casa é nossa e teremos que apresentar uma proposta formal à proprietária sobre o tão temido banheiro. Se pudéssemos, também avisaríamos a pobre senhora de que o advogado que ela escolheu para administrar seu imóvel ficará para sempre imortalizado em nossos corações como O Cuzão. Meu objetivo aqui é eternizar O Cuzão, seu cabelo penteadinho com gumex e seu preconceito babaca contra qualquer pessoa que seja diferente dele e sua vida de advogado engomado. Talvez um dia, daqui a muitos anos, quando ele for velho e não sobrarem mais cabelos para pentear nem clientes nem bdentes, ele abra um livro, encontre esse texto e se arrependa amargamente. Tomara. Não vai acontecer, mas tomara.
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Apêndice

A casinha estava longe de ser perfeita. Quando os especialistas (leia-se encanadores e eletricistas) foram fazer a vistoria, descobriram que estava tudo podre por dentro. Tudo. A água estava cortada da rua. O relógio de luz havia sido roubado. A Eletropaulo acusava uma dívida de 700 reais. O encanamento estava completamente destruído. Tudo podre. Tudo errado. O Cuzão nos engambelou. Marcelo fez um super relatório, com fotos, com tudo, pedindo rescisão de contrato. Eles tiveram que aceitar. Claro que não foi fácil assim, mas isso fica para a semana que vem, só para obrigar vocês leitores a comprarem o jornal. Sexta-feira, hein. Tribuna da Imprensa. Não esqueçam. Estou falando com vocês, leitores do blog. O jornal é baratinho. Não tenho decência nenhuma, estou mendigando. Leite da Catarina, não esqueçam. Leite e fraldas. Tô pedindo, não tô roubando.

.: Clara Averbuck :. 9:01 PM

Sim, o blog está abandonado, cheio de teias de aranha, mais por falta de saco do que por falta de tempo. Virei uma dona de casa, é verdade. Lavo roupa no tanque. No tanque! Nunca pensei. Sempre quis preencher formulários e assinalar "do lar" na profissão. Sensacional.

Mas já que reclamam tanto que o blog faz falta, por que não lêem a Tribuna da Imprensa nas sextas? Eu tou lá, sempre. Nem sempre inédita, é verdade. Quase sempre. Às vezes eu sou tomada de uma puta preguiça do caralho e mando umas coisas muito velhas, mas ninguém nunca reclamou. Duvido que o povo que lê a Tribuna da Imprensa leia o meu blog. E vice-versa. Comprem a Tribuna da Imprensa, leitores. Escrevam para lá falando que me amam e que compraram o jornal só por minha causa, mesmo que seja mentira. É que eu preciso de dinheiro para comprar fraldas e Nan. Nan é um leite em pó que dá prisão de ventre na minha filha, mas que o pediatra mandou dar porque meu leite não sai direito. Tenho que ficar me ordenhando e comprando Nan. E Nan é caro. Então ajudem, vocês que estão aí sem fazer nada.

Tá um frio absurdo em São Paulo. Faz três dias que não saio de casa. Não por opção, porque não dá mesmo. Tudo que eu queria hoje era encontrar meus amigos e ficar bêbada, mas não tem ninguém pra ficar com a Catarina, então eu vou ter que ficar em casa lendo e assistindo tv aberta. Super excitante. Yeah. Alegria.

A festa da Fun House foi foda. FODA. A melhor festa que fui nos últimos tempos. Ok, a melhor festa que fui nos últimos anos, já que foi a ÚNICA festa em que eu fui nos últimos tempos. Foi foda. Os shows foram foda. Estava muito cheia, muitas pessoas, me perdi de todo mundo. Fiquei muito bêbada pra caralho para tirar o atraso. Tentei dirigir o carro do meu namorado, e eu não sei dirigir. Não consegui, obviamente. Ele não permitiu. Nem precisava, porque eu sequer consegui ligar o carro, tinha pisado no corta-combustível. Eu e ele ficamos até o meio-dia tirando caixas e bebidas e coisas de lá. Eu mal me agüentava em pé. Meu salto e meu teor alcoólico eram muito altos. Daí, quando eu rolei escada abaixo e quebrei uma cachaça em cima de mim, o Marcelo achou melhor me deixar no carro, mas eu insistia em ajudar. Tinha uns caras escrotos, acho que eram os peões que estavam desmontando o som, ajudando a gente. Uma hora eu me rendi, deitei no balcão e um desses orangotangos me deu um beijo na barriga. Se eu estivesse um pouco menos morta e se eu tivesse conseguido ver quem foi, teria quebrado uma garrafa e enfiado no pescoço do cara. Eu só consegui xingar e rolar para baixo e me trancar no carro, xingando mais ainda. Que ódio. Filho da puta. Sujo. Escroto. Porco. Se aproveitando da mulher do dono do bar só porque ela estava deitada de sutiã em cima do balcão. PORCO. Eu fiquei tão puta que nem consegui xingar direito. E agora, quando me lembro, o sentimento volta, estou tão puta que não consigo pensar em adjetivos a altura para aquele paspalho. GRRRRRRRRRRRRR.

Mas enfim. O que eu vim fazer aqui, na frente desse computador, era postar umas crônicas semanais da Tribuna, já que tanto reclamam que o blog está morto. Mas agora deu preguiça.
Força, Clarah. Força. Vencerei a preguiça. 1, 2, 3.

.: Clara Averbuck :. 8:13 PM

quinta-feira, agosto 21, 2003

Um ano? Um ano. Um ano! Meu deus, UM ANO!!!

No dia 23 de agosto faz um ano que entrei na FunHouse pela primeira vez. Sábado tem aniversário de um ano do bar. Uma puta festa, mas espera, antes eu tenho que contar uma história.

Show dos Irmãos Rocha! em algum outro lugar. Eu estava lá, no meio da gauchada, falando "bahm" e "tcheam". Já sabia que um bar chamado FunHouse abriria as portas naquela noite e estava afim de ir pra ver se era um entendido ou um oportunista. Obriguei meus amigos gaúchos a subirem a Bela Cintra inteira, porque eu sabia, eu sabia que precisava estar lá. Cheguei e quase tive um treco. Era o lugar perfeito. Irretocável.
Tum-tum.
Subi as escadas, os olhos saltando da cara, a boca aberta, eu vendo todas aquelas coisas que falavam comigo e de repente eu vejo um moço sentado no sofá.
Tum-tum.
Tum-tum.
Quem é esse moço?
Quem é esse cara? Nunca vi esse cara. Esse cara não é daqui. Eu teria visto esse cara em qualquer lugar que ele estivesse. Qualquer lugar, em qualquer circunstância, qualquer teor alcoólico.
Quem é esse cara?
Ele tinha uma namorada sentada em cima, mas ignorei completamente.
Quem é esse cara?
Era o dono do bar. Descobri quando declarei a um amigo que ia morar na Funhouse.
Ele disse: "Marcelo, vocês já tem um morador."
E o Marcelo veio falar comigo. Beijou a minha mão, conversamos por dois minutos e eu já queria casar. Ótimo, a bêbada se apaixonando pelo dono de um bar. E ainda querem ficção.

Não era um lugar comum, não era um barzinho babaca adaptado para agradar os modistas. Não era um lugar qualquer. Tinha alma. Tinha alguma coisa respirando lá dentro, como se a casa estivesse viva. Uma, perdoem o hippismo, energia criativa pulsando e me obrigando a sentar e escrever no fofo sofá branco, fofo, fofo, afundei na fofura daquele sofá e escrevi, escrevi, escrevi
isso aqui, ó
, entendi tudo ali dentro, escrevi feliz da vida, sabendo que aquele lugar deveria agregar pessoas, todos os tipos de pessoas que criam, criam, criam, e as pessoas que não criam e são só pessoas também gostariam de lá, todo mundo gostaria de lá porque tinha alma. Ninguém saberia direito porque gosta da FunHouse. É por causa da alma. Nunca tinha visto nenhum lugar com alma. Certamente não existem muitos.

Saí de lá flutuando, besta, tendo certeza que tinha encontrado o lugar da minha vida e que o homem da minha vida que tinha inventado.

Um ano depois, eu tenho uma filha do moço que estava sentado no sofá e tem uma festa comemorando um ano do bar. O único lugar que conheço que merece ser comemorado. Não murchou, não decaiu, não "passou". Outros lugares surgiram, ótimo, quanto mais lugares, melhor, muitas opções, São Paulo fervilhando.
Mas nada se compara a FunHouse.
Porque a FunHouse tem alma.

E pau no cu de quem achar que falo isso tudo porque é o bar do meu namorado, porque é a festa do bar do meu namorado - que todo mundo chama de marido, só porque moramos juntos e temos uma filha e somos tão grudados que só existe uma cópia da chave de casa e um celular para os dois. Eu jamais, eu disse jamais manifestaria algo que não acredito. E eu acredito. I'm a believer, eu acredito em amor, em mágica, em alma. Eu acredito. E é por isso que eu entendi tudo naquele dia, entendi tudo que ele estava querendo dizer.

E eu sinceramente acho que todos vocês leitores que estarão em São Paulo no dia 23 deveriam ir à festa de um ano da FunHouse.

Primeiro, porque é a festa de um ano da FunHouse.
Segundo, porque vai ser uma puta festa.
Terceiro, porque o Glamourama vai tocar, a Cachorro Grande vai tocar e o I Love Miami vai fazer barulho e escandalizar pessoas.
Quarto, porque é em um lugar muito foda, com anjos tocando trombetas em volta do palco e castiçais e janelões e drinks e purpurina e chantilly e glamour e róque, róque, róque por todos os lados.
Quinto, porque sim, porra. Não se perde uma festa dessas. Não vai ter outra festa de um ano da FunHouse nunca mais. Essas coisas são históricas.

E depois da festa, no outro fim-de-semana, quando estiverem curados da ressaca CONAN que a festa terá proporcionado, acho que todos deveriam ir à FunHouse, porque vai estar tinindo, nova, reformada, linda, com novos pôsteres, novos discos na jukebox, novos sofás, novos tapetes, novo palco.
A alma é que vai continuar a mesma. Ainda bem.




E é isso aí.


.: Clara Averbuck :. 1:33 AM

quinta-feira, agosto 07, 2003

Era uma vez, há muitos e muitos anos, não era eu
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Caralho, como faz frio nesta terra.
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Fragmentos do meu antigo quarto de adolescente, porque nunca morei nesta casa e este nunca foi meu. Alguns brinquedos, umas bonecas e uns bichos de pelúcia. Umas caixas que estavam na minha ex-casa, que não era dos meus pais, era do meu namorado, também não era exatamente minha. Nem um pouco minha, para ser sincera. Era assim que eu sentia. Estava tudo pronto quando mudei para lá, os móveis, os espaços. Eu só me acomodei. E como me acomodei. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis, eu me acomodei. A vida era calminha, a casa era limpinha, a cama era quentinha. Vivia tentando estragar tudo, até que finalmente consegui, ao mesmo tempo em que resolvi me mandar para São Paulo. Tomei a decisão quase sem pensar, porque era a única saída, a única coisa que eu poderia fazer naquele momento. São Paulo era o único caminho. Não sabia direito por que tinha decidido ir para lá, mas agora as coisas parecem bem mais claras. Eu precisava sair desta cidade, precisava sair de perto de tudo. Não tanto por causa da cidade quanto por minha causa. Eu precisava sair daqui, quebrar a cara, ser despejada, rejeitada, tomar no rabo, viver na sujeira, fazer sexo com pessoas que eu esquecia o nome no dia seguinte, beber, ficar doente, ficar sozinha, sozinha, sozinha, morrer de solidão, ficar pobre e não ter com quem contar. Pobre, eu precisava ficar pobre e sozinha. Eu precisava de tudo que me aconteceu, porque agora eu vejo a vida que levava aqui e meu deus, não tem nada a ver comigo, eu estava perdida, não sabia quem eu era, estava perdida no conforto e no comodismo. Tudo era tão fácil, e eu sofria por ser tudo tão fácil, não era o que eu queria.

Tudo faz sentido quando vejo esse guarda-roupas aberto na minha frente, com um bilhão de roupas que não quero nem saber e que devem ter custado uma fortuna, muitos aluguéis, muitas refeições, muitos maços de cigarro e contas de luz, porque eu não me preocupava com essas coisas e não fazia idéia do valor do dinheiro. Vejo minhas fotos, o cabelo cortado em cabelereiro, as unhas tão bem-feitinhas, meu deus, o que eu pensava da vida? Como eu vivia assim, com tantas coisas que não eram importantes? Não era eu, já disse. Eu não sabia quem era. Precisei me mandar para me encontrar. Precisei chegar em um limite, magoar uma pessoa que não merecia, fazer uma tonelada de merda para descobrir que precisava me descobrir.

Cara, ainda bem que eu me mandei.

Já que fucei nas minhas roupas e nas minhas fotos antigas, resolvi mexer em uns textos velhos e mofados de 3, 4 anos atrás, da época do CardosOnline, o e-zine onde tudo começou. Leia-se eu, a Livros do Mal, a descoberta que escrever era o que eu tinha que fazer. Tudo. Minha amizade com os mocinhos que faziam o COL, a redescoberta da minha vida, que tinha sido drenada de mim por um cuzão qualquer que era medíocre demais para entender. E tudo faz sentido. Eu estava ficando bem louca porque estava perdida, perdida.

Hoje eu entendi tudo.

Ainda bem que eu me mandei. Todo mundo devia se mandar, mudar de cidade, sair de casa, cortar o umbigo e declinar qualquer tipo de ajuda. Não há nada como a sensação de tocar a própria vida, de saber para onde ir, descobrir que o essencial na verdade era um monte de tranqueiras atravancando o seu caminho. O meu caminho. Um monte de coisas que me prendiam e que agora não fazem mais parte da minha vida. Agora eu sei, eu sinto que estou no caminho certo. Esses dois textos que encontrei foram a confirmação do que eu já sabia: minha vida tinha quer ser exatamente como é.

Senhoras e senhores, com vocês, o meu passado.

I can't see until I see your eyes

Eu queria ser maldita. Mas eu sou uma filha da puta sortuda.

Queria ter que escrever três páginas por dia para a dona da pensão não me expulsar, que nem o Leonard Cohen. Queria ter que comer migalhas e contar que uma puta me deixou ficar na casa dela uma vez. My name is Jane and I'm an addict. Queria ter que escrever em folhas de papel de pão de meio quilo. Queria ser junkie, junkie de verdade, queria ter os braços cheios de abcessos. Mas não. Eu trabalho e tenho a pele lisinha e dinheiro e pessoas a quem recorrer e tento ser sã e equilibrada.

Quero ser homeless. Quero morrer junkie aos 23 anos. Quero ser podre. Quero apodrecer viva. Podridão é inerente. Inevitável. Todo mundo tenta esconder a podridão com banhos e sabonetes e perfumes e clareamento de dentes. Dentes. Dentes podres, todo mundo sorri com dentes branquinhos mas são podres por dentro. Quanto mais brancos, mais podres. Quanto mais artificiais, mas ocas. Pessoas sem dentes são legais.

Quero ser puta e vender minhas carnes. Corpos são montes de carne, sacos de pele e ossos cheios de bichinhos que a gente nem vê e que passam o dia caminhando e nos comendo. Corpos só pesam. Almas são livres e hippies. Leves e de vestidos esvoaçantes. Não quero mais meu corpo. Não quero mais ter carnes. Não quero mais ter corpo.

Queria que não gostassem de mim. Queria que me jogassem tomates e repolhos e que eu fosse enforcada em praça pública. Queria ser maldita e suja e poder ser insana em paz. Poder deixar meus cabelos desgrenharem e ficarem iguais aos da Josefina, minha primeira boneca que tinha um black power.

Queria ter virado uma esquina diferente e não saber o que é isso que você me deu, essa pedrinha que brilha muito. Voltar no tempo, queria voltar no tempo. Pra que começar se não vai terminar? Queria voltar no tempo.

Jesus não salva. Jesus não vai voltar. Jesus tem um programa na tv. Jesus era negro. Jesus escreveu um cheque em branco. Jesus está invisível no icq. Jesus é um gênio surdo, mudo e analfabeto.

Não tem sol. É frio. É duro, é amargo. Olha e não quer ver. Não quer ver mesmo. Nem ouvir, nem explicar, nem nada. Não quer. Não pode. Não vai.

Queria não saber. Queria não conhecer. Burra, queria ser burra. Queria ser burra e sã. Sã. Queria ser sã. Queria ser sã e burra e não chorar. Chorar é coisa de mariquinhas. Eu sou mariquinhas. Chorona.

Queria acordar e te contar meu sonho e ouvir o teu. Queria chorar muito no teu ombro. Queria poder te contar tudo que caminha dentro da minha cabeça.

Não quer ouvir, não quer ver, não quer explicar. Não vai, não pode, não quer.

Eu não vou continuar tentando. Não vou. Desisti.

Queria ser ontem. Semana passada. Mês passado. Hoje não. Hoje nunca. Mas ontem passou. E amanhã ainda não chegou.

Um dia chega. Agora chega.
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Averbuck is on the table inside the cage listening to Thelonious Monster

Eu tou enlouquecendo. É sério.

Eu não sei viver no mundo dessa gente louca que trabalha e não vive, trabalha e não lê, não ouve música, não trepa, não vai ao cinema nem sai pra encher a cara. Não fazem nada, como conseguem viver? Do que eles se alimentam? Deve ser por isso que as pessoas parecem tão desinteressantes de perto, bem de pertinho. Elas estão ocas.

O mundo está cada vez mais oco.

Por isso cada vez mais essa obsessão pela forma.

É um círculo vicioso, piora todos os dias, a cada volta que a terra dá tem mais gente nascendo, gente que poderia botar um durepóxi na alma da humanidade e que vai acabar oca, de plástico, que nem o resto.

O mundo vai ser de plástico, qualquer dia nós vamos acordar na Barbie Village, na Legolândia, as mulheres não vão ter mamilos nem quadris nem pentelhos nem gosto nem cheiro e os homens vão ter aquele abdômen horrível do Ken e aquele sorriso. Pensando melhor, o sorriso do Ken e da Barbie as pessoas já têm. A feiticeira é uma Barbie inflada. A mulata Globeleza não sabe caminhar, só sambar. Eu sei que tem uma corda ali em algum lugar, deve ser debaixo da cabeleira de plástico, tem que dar corda pra ela sambar. O Paulo Zulu, o Luciano macho reprodutor Szafir, essa gente, esses homens fabricados são o Ken com pêlos, pra deixar ainda mais desagradável.

Plástico, eles devem ter gosto de plástico, plástico duro. Não aqueles bons de morder, plástico duro, indobrável e inquebrável. Inflexível. E oco, completamente oco. Casas de plástico, gente de plástico, carrinhos de plástico e flores de plástico.

Dinheiro de plástico. Tem troco pra dez?

Conversas. As conversas também já são de plástico.
Os sentimentos também. Tudo parece siliconado. As pessoas deviam colocar silicone na cabeça, pra fazer um volume.

Plástico.
Pelo menos ninguém mais vai ter que usar camisinha. Se bem que vão gozar plástico, ou qualquer coisa sintética, feia, sem gosto.

Plástico não apodrece.
Eu gosto de coisas que apodrecem.
Plástico não causa nada, só estrago.

Olhares de plástico. Olhar da Barbie. Oco. Vago. É assim que olham. É assim que os bonitinhos olham. Olham e, céus, o que eles vêem? Será que vêem alguma coisa ou são cegos? Será que é tão raro ter visão de raio x assim? Não pode.

Carinho de plástico, de látex, de nada. Não quero. Eu não estou enlouquecendo, só estou vendo como o mundo é idiota. Meio velha, admito, mas cada um tem seu tempo e o meu, infelizmente, é agora.

Chorei ontem e chorei hoje. Chorei pra caralho, solucei, não consegui dormir e fui ler Leminski, não lia Leminski há muito tempo e fui ler meus livrinhos do Leminski. Chorei muito, piscinas, lagos, rios, mares, universos de água salgadinha saíram de mim ontem e pingaram no Leminski, mas eu sei que ele gostou e ficou feliz. Eu vi ele me abanando do céu da cirrose. Ele e os outros.

Sucesso deve ser fracasso. Todos os meus ídolos morreram podres, Leminski, John Fante, John Frusciante só não morreu porque ele conseguiu live above hell, mas ele tem abcessos nos braços, ele quase apodreceu. Mas sobreviveu. E todos os homens que eu amo, que eu amei e que não me conheceram porque morreram, todas as mulheres que eu amo, Billie Holiday morreu podre. Morrer não é bonitinho. Plástico não morre. Eu quero carne, sangue, cheiro e fluidos. Eu quero pus, quero inflamação, quero dor e quero vida. Vida morre.

Eu quero morrer. Mas não agora. Agora eu só queria dormir, dormir muito, dormir até doer. Só queria não precisar fazer coisas que me violentam. Eu quero meu tempo de volta. Perdi muito tempo, muito mesmo, e agora isso volta, porque a vida é uma merda de um pêndulo, se é puxado demais para um lado ele não volta pro meio. É física, dizem, mas eu não acredito em física. Eu acredito na DDF, eu vi e eu sei que tá lá. Física não me explica, então não me serve. E não me escrevam falando sobre física. Eu não quero saber. E não me digam que eu só falo de mim. Falo, e só lê quem quer. É física.

Pêndulo do lado oposto onde estava. Muito tempo, muito tempo perdido. Pouco tempo, pouco tempo usado. Eu quero meu tempo de volta. Eu quero chorar. Eu quero dormir, eu quero gozar de manhã, eu quero eu quero eu eu eu eu ego ego ego eu quero que o mundo mude porque ele está errado. Sou infantil, sou, sou o que quiserem porque eu nem devo ser. Soul to squeeze, up from my brain is where I bleed Insanity it seems had got me by my soul to squeeze..................It's bitter baby and it's very sweet..........Oh make my days a breeze and take away my self destruction.....................

Viva Thelonious Monster, finalmente chegou meu cd do Thelonious Monster.
Escrevi sobre isso ontem, quando era sóbria e calma e tinha até dormido um pouco. Mas prefiro falar de novo. Quatro anos, esperei tudo isso pra achar um cd, procurei desesperadamente por toda a doblevê www e não tinha, nem em catálogos, nem em lugar nenhum. Aí eu achei no useddiscs.com, o paraíso da música obscura, e chegou, e eu estou amando. O cara é o Frank Jorge de Los Angeles e se chama Bob Forrest e tocou com todos os fodões.
Beautiful Mess, é o nome.

Eu ainda vou morar em Los Angeles, vocês vão ver.

Ah, vou.

E eu não vou reler isso antes de mandar pro Cardoso.

Ah, não vou.

Agora eu vou comer e dormir porque estou acordada há 48h a base de anfetaminas e efedrinas. Feio, né? Prometo que não vou parar enquanto issome fizer feliz.

Um beijo na boca de todo mundo que não é de plástico.
Tau mu.
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O primeiro foi escrito quando me apaixonei platonicamente por um menino de Curitiba que despertou todas as coisas que estavam dormindo lá num cantinho de mim, umas coisas que nunca deveriam ter dormido. O segundo foi escrito quando eu trabalhava na Fischer América e era escrava e não dormia e não tinha tempo para nada, porque se você quer ser um publicitário, você tem que dar o sangue, a vida, as noites de sono, as idéias, o tempo todo, mais um pouco de sangue e todo o seu saco. Não, obrigada, não nasci para isso. Prefiro ser pobre e livre, como os gatos.

Por isso o meu livro se chama "Vida de Gato". Não é sobre gatos. A vida de gato é a minha, porque eu posso até ser pobre, e posso até me foder, e posso até passar por um monte de merda, mas ei, eu sou livre e não devo nada a ninguém. Eu e os gatos.

.: Clara Averbuck :. 5:10 PM

Eu tinha escrito uma coisa tão legal, tão legal, tinha ficado tão feliz, três páginas inteiras fluindo como raios sob meus dedos. E agora eu abri e não estava mais lá. Só o fim do texto estava lá. O último parágrafo. O resto do texto foi substituído por "qq". Dois quês. Entende? Entende? Fiquei muitos meses sem escrever e era justamente sobre isso que o texto falava, sobre ficar muito tempo sem escrever e sobre como estar grávida é uma longa espera. E agora eu estou furiosa e entrei em greve.

PORRA, COMO ISSO FOI ACONTECER?

Dois quês. Nem é o último parágrafo, é uma porra de um parênteses. Dedo no cu. Vou fazer de novo e vai ficar melhor, só de raiva.

Passei a vida tentando ser magra. Tomando muitos remédios de várias naturezas e tarjas tentando ser esquálida, tendo ataques porque tinha peitões e bundão. Me enchendo de tóxico (pronuncia-se "tóchico") pra não ter fome. Nem achando muito ruim aquela coisa de passar fome por falta de grana porque poxa, eu ficaria magra e isso não podia ser ruim. Detalhe, eu bebia o dinheiro da comida e comprava cigarros. Cigarros, ótimo, cigarros me tiravam a fome, junto com água. Às vezes comia ervilhas porque sabia que tiravam a fome, estufando a barriga. As barras de cereal também eram muito presentes na minha vida, aquelas coisas nojentas. Não consigo nem ver barras de cereal, sofri uma tremenda overdose.

Certo, aí eu fico grávida.
"Fodeu", pensei. Vai cair tudo. Vou ficar obesa, meus peitos vão ao chão, vou virar uma zebra de tanta estria (porque eu também sou o paraíso das estrias). Mas não, nada disso. Engordei 8 e emagreci 9, isso até a semana passada. Quinze dias depois do parto e já cabia até na calça que o Marcelo me deu de dia dos namorados e que mal chegou às ancas no dia em que experimentei. Devo estar melhor do que antes, com exceção da barriga, que virou uma pelanquinha e pende por cima das calças, o que pode ser observado na foto demonstrativa. E agora eu uso cremes firmadores e torço para que funcionem, porque me recuso a fazer abdominais, nem quando ia à cadmía eu fazia abdominais, não dá. Mas talvez eu tenha que me render se quiser não ter barriga de novo algum dia. Ou talvez a preguiça ganhe, porque eu acredito na preguiça.


ahhhh!

foto demonstrativa



Por que ninguém me avisou que ser mãe emagrecia? Eu deveria ter desconfiado. Lavar roupinhas no tanque com sabão de coco, estender tudo, lavar a louça, acordar no meio da noite para amamentar, fazer levantamento de bebê para o arroto - eles precisam arrotar, eles realmente precisam arrotar -, se auto-ordenhar, rapaz, isso gasta muitas, muitas calorias. O problema são as olheiras. Tenho olheiras para sempre agora. Esses dias fui tirar a maquiagem - porque agora eu me maquio até pra ir à esquina, tenho que ficar bonita para a minha filha, bonita como a minha filha que já parte corações e nem fala ainda, e também porque tenho que aproveitar minhas únicas chances de sair de casa - e fiquei esfregando em volta dos olhos, mas não saía. Não era maquiagem borrada, eram as olheiras do mal. Eu nunca mais vou dormir, mas dane-se, porque vale a pena acordar quantas vezes a minha filha tiver fome. Ela merece todas as minhas noites de sono. Amamentar é uma das melhores sensações do mundo, uma espécie de tesão que não é exatamente tesão, mas vou usar o termo até encontrar outro melhor. Vou ter bastante tempo para pensar nisso.

Por que ninguém me avisou que ser mãe era tão bom? Eu deveria ter imaginado.

Eu sabia, eu sabia que quando a Catarina que ainda nem era Catarina, era Beanie e morava na minha barriga, eu sabia que quando ela viesse ao mundo aqui fora a minha inspiração voltaria. Gravidez é uma grande espera, e eu não queria criar enquanto esperava, queria esperar para ver a minha maior criação pronta. Agora sim, agora nada me segura. Tem o lançamento oficial do Das coisas esquecidas atrás da estante, que eu não podia fazer porque era óbvio que a bolsa estouraria no meio da sessão de autógrafos, tem o Vida de Gato, que um dia sai, e tem um outro que era uma historinha curta chamada provisoriamente de Três Dias e que eu agora decidi que vai ser uma historinha longa e retomei e estou cheia de idéias borbulhando, cheia de coisas na cabeça, muitos projetos, muitas histórias para contar, porque nos dois últimos anos aconteceram muitos livros, muitas coisas. Vejamos.

Nos últimos dois anos, eu fui chutada de casa, mudei de cidade, morei em um quarto de empregada, achei o Joo, chutei o pau e fui para a Inglaterra, voltei, fiquei falida, tentei arrumar emprego, fracassei, mudei de casa, arrumei um emprego, decidi nunca mais trabalhar, desarrumei o emprego, terminei meu primeiro livro, fiquei doente, engordei 15 quilos, fui à cadmía, emagreci 15 quilos, driblei o fígado, me apaixonei, me fodi, escrevi outro livro, achei que nunca mais ia me apaixonar de novo em toda a minha vida, conheci minha alma gêmea, me apaixonei de novo, fiquei grávida, mudei de casa, lancei outro livro e pari a Catarina. Não quero nem pensar no que vai acontecer nos próximos dois anos, porque todas as vezes que eu fiz planos, eles deram errado. Só espero que as coisas continuem assim, chegando no lugar certo pelo caminho errado. É assim que dá certo comigo. Com a gente, agora, porque eu não sou mais no singular. Com a gente, conosco, com nós. Nós três. O resto a gente vê depois.

(A foto é de quando meus amigos queridos, Mojo e Galera-e-sua-senhora-Tainá, além do-Joca-Reiners-Terron-da-Ciência-do-Acidente-e-irmão-do-meu-amigo-Paulo-e-sua-senhora-Patrícia vieram aqui em casa me buscar para o lançamento dos livros do Galera (Até o dia em que o cão morreu) e do Joca(Hotel Hell) pela Livros do Mal, que é trimmmassa. Ela na verdade está totalmente fora de contexto, mas foda-se o contexto, porque eu amo meus amigos e quis botar a foto deles aqui.)

.: Clara Averbuck :. 5:08 PM

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