sábado, agosto 31, 2002
Estadão
Ok, calma, eu não tenho internet, certo?
É o seguinte: eu não escrevo pra fazer bonito. Nem pra jornalista babar ovo. Nem pra quem não entende. A barra do explorer é serventia da casa. Isto aqui é meu, aliás, é uma das poucas coisas sobre a qual ainda tenho algum tipo de controle na minha vida. Não gostou, simplesmente vá embora e me deixe aqui no cantinho que ficamos todos conversados.
Perguntaram se eu odiei a matéria do Estadão. Não, não odiei. Gostei da crítica do livro. É juvenil e individualista mesmo, porque eu sou assim. Com licença, escrevi o livro com 22 anos, alguém esperava conjecturações profundas sobre a vida adulta? Acho que não, hein. E é tudo uma questão de identificação. Já vi gente chorando ao ler algumas coisas que escrevi, outros tendo ataques de fúria totalmente incompreensíveis, só por causa da minha vida. Não é engraçado, alguém se achar no direito de ficar puto porque você existe? Eu acho engraçado, morro de rir com os hatemails. Puta perda de tempo de quem se dá o trabalho.
O Máquina se escreveu sozinho, eu não sabia que aquilo seria um livro até ser mesmo. O Vida de Gato é completamente diferente, desde o primeiro parágrafo eu sabia que o que seria, tinha uma história pra contar. O Máquina não tem uma história, mas não acho que ninguém precise contar nada. Enfim, o que eu queria dizer mesmo é que eu não me importo com o que a imprensa fala, não me importo se preferem olhar pra mim do que pra minha escrita. Eu não escrevo para eles. Aliás, não sei pra quem eu escrevo. Acho que é pros caras. Os caras, sabe, os três aqueles. Sempre me pergunto se eles gostariam.
Não me acho a melhor escritora brasileira, não sou pretensiosa, não quero chamar muita atenção, apesar de estar começando a me conformar com isso. Eu só quero escrever e tomar as minhas coisas em paz. (Já viu escritor em paz? Quase uma contradição em termos.)
É isso.
.: Clara Averbuck :. 3:47 PM
Da série INBOX
"Desde logo se propôs ela combater o que chamava literatura livresca em nome do que chamava literatura viva; desde logo sustentou que toda a obra de criação vive mas é da íntima vida do criador, e de nenhum modo basta o mero talento formal para impô-la. (...) Literatura viva é aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e por isso mesmo passa a viver de vida própria. Sendo esse artista um homem superior pela sensibilidade, pela inteligência e pela imaginação, a literatura viva que ele produza será superior; inacessível, portanto, às condições do tempo e do espaço".
(Florbela Espanca, em artigo no primeiro número-manifesto da revista Presença, 1927) Nota de rodapé: Extraído do Prefácio "Estudo Crítico" de José Régio para: "Sonetos" de Florbela Espanca, editora Bertrand do Brasil, 2002.
.: Clara Averbuck :. 3:47 PM
TÁ, EU PARO.
.: Clara Averbuck :. 1:35 AM
Da série "só nós sabemos do que eu estou falando"
Daí todo mundo fala "chega junto, Clarah", mas quem disse que eu consigo? Não dá. Chega junto, Clarah, ele é um moleque, você é uma mulher, chega junto, fala com ele, fala de música, fala com ele, mas a voz não sai, nada sai, eu não saio do lugar, céus, é completamente patético. Penso que vou soar boba, que vou tropeçar, minha voz vai sair fina, eu serei ridícula. Ainda bem, ainda bem que isso tudo passa logo e eu esqueço, porque não há nada para lembrar além de uma imagem, uma forma, das mais perfeitas que já vi. Um muso não precisa falar, não precisa pensar, não precisa fazer nada além de existir e me deixar assim. Não, eu nunca vou me aproximar dele. Não posso, não devo, não quero. Chega de estragar tudo me aproximando das pessoas. Meu negócio agora é platonismo e celibato. Hoje.
Só uma continuação.
.: Clara Averbuck :. 1:21 AM
sexta-feira, agosto 30, 2002
Vocês conhecem a Maria?
Eu gostei dela.
.: Clara Averbuck :. 11:35 PM
Tirem esta webcam do meu alcance
Tá, eu nunca brinco de webcam e agora tem essa bem no meu nariz. Não resisti e registrei dois momentos da minha cara de quem passou o dia ouvindo Tom Waits de lençol. Por favor, me desculpem. Prometo que paro.
.: Clara Averbuck :. 11:20 PM
COMO NINGUÉM ME AVISA ESSAS COISAS? ALGUÉM TEM ESSE JORNAL, POR FAVOR? VALEO.
(Melhor crítica do livro até agora.)
.: Clara Averbuck :. 8:53 PM
YUK!
Alguém já tomou Baden-Baden (!), uma cerveja cremosa e preta de Campos de Jordão?
NÃO FAÇAM ISSO.
É a pior coisa que eu já tomei na minha vida inteira.
NOJO.
Agora vou ter que tomar a garrafa inteira.
UGH.
.: Clara Averbuck :. 7:57 PM
12 18 de outubro.
Onde vocês vão estar? Eu vou estar fazendo uma coisa foda. Eu e o Fl... Ah, ainda não vou contar.
Roam-se.
E preparem-se. Hoho.
.: Clara Averbuck :. 6:05 PM
Passei o dia ouvindo Tom Waits de lençol.
E sendo a doméstica louca que canta enrolada em um lencol azul e não se penteia. Mas a pia brigou comigo, não sei mexer na pia. Entupiu. Deve ter um cadáver de frango dentro do ralo. Tenho medo.
.: Clara Averbuck :. 6:02 PM
Eu e o Jece Valadão na Monique Evans.
Quarta que vem.
RÁRÁRÁRÁRÁ!!!
Isso vai ser FODA.
.: Clara Averbuck :. 4:59 PM
Hoje eu vou passar o dia ouvindo Tom Waits de lençol.
.: Clara Averbuck :. 1:31 PM
Christmas card from a hooker in Minneapolis
Merda, merda. Quero lembrar. Quero saber tudo, mas não sei. Quero pisar na cara da sensação de ridículo. Sumir esse gosto da boca. Me encher de tabefes pra ver se eu paro com essa merda toda. Uma creminho, sabe, pra tirar a maquiagem borrada. Como uma coisinha tão pequena pode me derrubar com tanta força? Bolinhas no chão, no meio do caminho, blam. Ploft. Olha lá a mina estirada no chão, toda fodida, sentada na porta do metrô. Chutem o rabo dela por mim.
Ah, foda-se. Nobody is that good anyway.
Focof.
Não fala antes de saber, não comenta antes de ler. Don't be such a fucking smartass comigo, querido. Não comigo.
Olha a mina caminhando de manhã na rua, bem pequenininha, todo mundo olhando. Olha a cara dela, aquela cara de idiota. Olha a mina se perdendo no metrô, oh, a grande & assustadora mina com um metro e meio de altura e diminuindo, diminuindo, cabendo no bolso de alguém. Indo pra casa sozinha no meio de todos aqueles prédios tagarelas e daquelas pessoas de gravata. Dando telefonemas absolutamente patéticos para sua garota, tentando achar um lugar macio pra deitar. Olha, olha, olha ela sem dinheiro de novo, toda fodida. What a fucking curse. Meu avô disse que o amor é um cão do inferno, Arturo disse que o amor é feio, que é uma cicatriz na palma da nossa mão. Arturo, como eu queria que você estivesse errado. Que o amor fosse bonito e construísse casinhas e famílias e tudo. Damn, damn, damn. Olha a cicatriz na palma da minha mão sangrando de novo. Olha a mina, que babaca, ainda acreditando em alguma coisa. Ela não aprende, não quer aprender, recusa-se. Ela também não tem sofre de pena e autocomiseração inúteis, não se perde nessas coisas. Mas se perde o tempo todo porque escolhe se perder. Olha o sol cegando a noite, dor nos pés, a mina falando sozinha e andando sozinha e indo para lugar nenhum. Mas ela vai, ela caminha porque não consegue ficar parada. As bolinhas voltaram junto com o enjôo de manhã. As coisas voltam o tempo todo, será que estou andando em círculos? Nesse caso, melhor seria ficar parada. Quietinha. Sem respirar. Mas eu não consigo. Corre, corre, vai, rápido. Corre pra chegar logo em lugar algum.
hey charlie for chrissakes
do you want to know the truth of it?
i don't have a husband
he don't play the trombone
and i need to borrow money to pay this lawyer
and charlie, hey
i'll be eligible for parole
come valentines day
.: Clara Averbuck :. 1:08 PM
De-vo-ta-do.
Ninguém merece. Ninguém. Nem eu.
Alô deus, eu me demito. Celibato a partir de hoje, para sempre.
.: Clara Averbuck :. 7:30 AM
quinta-feira, agosto 29, 2002
Dexedrina, Boletas da Alegria, Inibex, Anfetamina. Gosto muito dessas coisas, sabe? Não só porque elas me mantém acordada quando não quero dormir, mas também porque me mantém cabendo nas calças. Tenho a maior tendência a ser uma Crumba, enorme, "cavalona", como o M. adora dizer. Essa neurose me carregou por anos e anos até... agora. Não sei o que houve, mas parece que eu desencanei. Quando acontece algo como o Clodo-vil dizer que a minha bunda está grande ou o M. falar que já me viu "melhor", dou de ombros. Eu sou escritora, não modelo, dá licença. Não preciso ser gata. Poderia ter 208 quilos e a cabeça em forma de abóbora. Não vou mentir deslavadamente que não me importo mais com isso, mas não é aquela neurose acentuada que me acompanhou desde a adolescência. Não quero virar a Senhora Cabeça de Batata, mas também não quero mais ser a Kate Moss. E hell, estou me sentindo feliz com a minha descoberta. Pra quem já teve crise de ciúmes da Feiticeira porque ela supostamente entregaria um prêmio pro meu ex-namorado, olha, devo dizer que estou evoluindo. Isso não quer dizer que eu vá parar com meus medicamentos controlados, não enquanto eles me fizerem feliz. A verdade é a seguinte: eu não gosto muito de comer, por isso não reclamo tanto de não ter dinheiro para comer. Quando tenho, gasto em coisinhas integrais e levinhas (ou em ruffles, quando preciso de sustância). Uns chocolatinhos quando fico em TPM, pra aliviar. Leite, a única coisa que preciso de verdade é leite. O resto é supérfluo. Fora aquela bebidinha, né? Porque eu só uso drogas lícitas. E é isso, estou feliz, quero dividir. Longa vida às minhas grandes curvas, desde que elas continuem existindo.
.: Clara Averbuck :. 5:05 PM
Hoje é o dia cinza e feio mais bonito que eu já vi.
.: Clara Averbuck :. 2:23 PM
INFORME BRAZILEIRA!PRETA
O post abaixo é uma piada interna.
Pela atenção, obrigada.
.: Clara Averbuck :. 12:09 AM
quarta-feira, agosto 28, 2002
The truth is out there
Eu confesso.
Clarah Averbuck é uma farsa.
Na verdade, me chamo Wanderlea Mendes e moro no Macapá. Não tenho cabelo rosa, nunca li Bukowski nem John Fante nem gosto de rock, tampouco de jazz. Freqüento rodeios, não bebo e meus pais não permitem que eu fique fora depois das 10. As fotos são de uma americana chamada Josephine Andrews (ou Josie). Peço desculpas a todos que caíram na minha brincadeirinha, mas a mentira me corroía por dentro e eu não conseguia mais dormir. Agora que me revelei, voltarei à minha faculdade de Farmácia e não incomodarei mais ninguém. Foi divertido, mas acabou.
Abraço,
Wan
.: Clara Averbuck :. 9:10 PM
Aparentemente, o mundo inteiro assiste o programa do Clodovil. Ou eu tenho muito azar mesmo, porque me pararam na rua umas 80 vezes hoje. E ontem, quando fui ao cinema ver Insomnia e me apaixonar pelo Jonathan Jackson. E porra, vou morrer de insônia. Aquele apartamento fala sozinho o tempo todo, é um inferno, tudo faz barulho e me deixa paranóica e eu não durmo. E cortaram o telefone. E ontem foi aniversário da morte do Piazzolla e eu não tinha rádio para ouvir os especiais. E eu vou morrer de TPM. Nunca ninguém sofreu tanto de TPM como eu essa semana. Não agüento mais. Chega. Ainda por cima tá calor. Tudo está insuportável.
.: Clara Averbuck :. 5:00 PM
terça-feira, agosto 27, 2002
P: Nossa, por que seu lançamento foi em um shopping? Nossa, não tem nada a ver com você! Nossa, em um shopping! Não achei que você topasse essas coisas!
R: Olha, a única coisa que eu não gosto em shopping é a luz. Luz demais. Odeio luz. E as pessoas, claro. Odeio gente se aglomerando e se acotovelando. Mas não fico discursando contra templos de consumismo desenfreado. Quando eu tinha dinheiro, ia eventualmente ao shopping em dias de semana (pra fugir pelo menos das pessoas). Comer, comprar um disquinho aqui, uma camiseta ali. Sem constrangimentos. Acha coisa de patricinha? Dedo no seu cu. Eu sou tri mulherzinha, gosto de roupas e cosméticos. Não sou uma escritora peluda que fica em casa digitando sem se pentear. Isso não quer dizer que eu me penteie também. Nem que eu seja fã de shoppings. Tenho com shopping mais ou menos a mesma relação que tenho com Fast Food: quando não é em excesso, não me incomoda. Mas o negócio é o seguinte, é claro que eu preferiria ter lançado o livro em outro lugar, porque não dá pra fumar no shopping e fecha cedo e tudo mais. Acontece que era a única livraria que estava disponível no aniversário do Bukowski. E lançar o Máquina no aniversário do Bukowski era mais importante do que agradar pessoas chatas que reclamam de shoppings.
De qualquer forma, pretendo lançar o livro mais algumas vezes. Tipo neste fim-de-semana, na Fun House, para amigos e bêbados em geral. Até porque domingo eu vou para Porto Alegre.
Ahn. Esqueci disso.
Dar uma passadinha rápida em casa e voltar para o concreto. Mas sabe, nem vou reclamar. I got my reasons.
Puta que pariu, que sono. Cansei de hebemail e baixei todos os 785 emails das minhas duas caixas postais. Li todos. Respondi alguns. Bebi todas as cervejas da geladeira do M. Caí na cozinha inundada de casa hoje e quase fiquei paralítica. Meu lado esquerdo está meio paralisado. Derrubei um vidro de perfume na minha camiseta antes de sair. Seria um dia de merda, se não fossem os meninos das camisetas legais. Mais detalhes depois que eu der aqueeela dormidinha, porque tá foda.
.: Clara Averbuck :. 3:04 AM
segunda-feira, agosto 26, 2002
.: Clara Averbuck :. 10:51 PM
.: Clara Averbuck :. 10:49 PM
Um mês para encontrar outro lugar para morar. Ou rua. Não é sensacional?
.: Clara Averbuck :. 5:17 PM
[domingo de manhã/noite - 25.ago.02]
Fui, né? Não disse que ia? Encontrei dois leitores. Os dois sabiam meu nome. Juntei um da escada. Bêbado. Só lembrou de mim depois, quando tinha até consciência. Foi ele que me mandou as coisas legais de aniversário. Bateu um orgulho quando soube que era meu leitor. Caindo de bêbado, perdendo a linha, me orgulhei. Quase invejei. Cheguei apenas à fase "ok, Clarah, você consegue andar reto". Pensando "marry me". Só hoje, marry me. Só até a gente praticar o Hank até a exaustão. Já disse que ando testando coisinhas? Ando. Vocês saberão. Será que não? Acho que saberão. Eu saberia. Acho. Porque mal acerto o teclado, que é parte de mim. Porque o último mês passou longe de ser sóbrio. Porque eu quero mesmo que seja assim. Dormir bêbada e acordar para estudar línguas mortas depois de tomar essas coisas de quem tem essas coisas que tenho.
Dona Neosaldina, como está a senhora esta noite? Como vai seu marido, Seu Epocler? Diga que mandei um forte abraço ao garotão e à sua filha, a jovem e formosa Eparema.
Caminhar até o metrô às 7 da manhã chutando a mesma garrafa plástica e falando sozinha, bem alto. Acordar com dor nas pernas, não estou acostumada jogar futebol. "Quer carona, gata?" "Não sou puta" "Ah". É que eu tava com o vestido rosa de quando eu me apaixono. Acordei agora, 8 da noite, achando estranho estar escuro. Não gosto de acordar à noite. Cozinhando meu almoço da semana, em duas panelas grandes. Arroz selvagem, que surpreendetemente nada tem a ver com a catuaba selvagem, e lentilhas. Se me pagarem amanhã, terei dinheiro. Senão, nunca mais. Só no ano que vem, depois de 31 de dezembro, pode uma coisa dessas? Aceitamos doações. Tratar aqui. Aceitamos bebidas e alimentos não-perecíveis e integrais. Sabe, minha família é vegetariana e integral, só sei comer essas coisas. Porque não basta passar fome, tem que ser fresca.
Quantas mulheres disseram "marry me" e saíram pra beijar outro cara? Francamente, nenhuma. Não que seja uma boa idéia, não é, mas porra, uma garrafa de vinho e mais aquelas cervejas todas não me deixaram escolha senão dar um vexamezinho, nem foi tão grande, eu só não tinha dinheiro pra pagar a conta. Mas não tem problema, eu moro lá e doei meu pôster da Duff pra eles.
A Anne será minha companheira de línguas mortas. Compraremos dicionários e aprenderemos tudo sozinhas, para nada. A síndrome das línguas mortas fez mais duas vítimas. Além disso, ele tinha um cão palíndromo. Compraremos dicionários, fumaremos cigarros, aprenderemos a falar grego e praguejar em Íidiche. Talvez japonês. Antes, grego e latim.
Situação patética do dia: não tenho mais fósforos. Acendi uma vela com o último, roubado do meu amigo na tarde de ontem, e fico acendendo cigarros e incensos ali. Poxa, cara. E amanhã? Não posso dormir com uma vela acesa, é claro que a casa pegaria fogo e eu morreria presa no último andar e sem internet.
E não me perguntem sobre literatura, sobre subjetividade ou objetividade. Não sei falar, só fazer. Um dia saberei, junto com as línguas mortas. Mas agora eu não sei, então não perguntem. Sei ler e escrever. Não sei falar.
Então vou dormir, porque tudo dói, tudo duro ["como o lutador", diria a Mari]. Aaaai, ai.
.: Clara Averbuck :. 5:09 PM
FUN HOUSE - she's got a tv eye on me
[escrito no bar, atirada no sofá ao som da jukebox - 24.ago.02]
Ok, então eu achei que tinha tido uma noite foda, Irmãos Rocha! (porque Irmãos Rocha! tem exclamação), um monte de gaúchos, um monte de tri e bah e éam e beibeam. O meu sotaque por todos os lados. Meus amigos, o Bel, todo mundo, puta que pariu. Daí tinha a inauguração desse lugar, Fun House. Sabe, os Stooges são meio que meus assim, não se deve sair por aí nomeando festas de Fun House. Mas eu queria ver, queria saber se era um iniciado ou um oportunista. Fun House. Fiz todo mundo caminhar até lá, subir uma puta lomba (lomba, subida, sabe? Oh, os não gaúchos), suar, reclamar. Mas chegamos. Podres, cansados. Morrendo por uma cerveja. Uma casa, tocando Stooges. Fotos do Richard Hell na parede. Um pôster do Bukowski, alô, vou repetir bem alto agora, um pôster do Bukowski, será que vou ter que gritar? UM PÔSTER DO BUKOWSKI, do Hank. Eu disse que iria embora de São Paulo, que estudaria no mato. Que nada acontecia, que yadda yadda yadda. Esqueçam tudo. Agora mesmo, esqueçam todas as minhas reclamações. Morarei nesse bar. De agora em diante, esqueçam meu celular, minha hotline. Desistam. O som é alto demais para que eu escute alguma coisa. Querem me achar? Venham à Fun House. Eu disse Fun House, alô, vou falar mais alto, FUN HOUSE. Hoje é aniversário do Leminski, sabe. E eu virei aqui, na Rua Bela Cintra, 567. Acabou tudo que não seja esse lugar. Nada mais a declarar. Uma vida toda se forma aqui, eu vejo, eu vejo todo mundo conversando e nadando em música boa, música daquelas que salvam o indivíduo e une quem tem que estar junto. Não existia um lugar como esse, não sei antes de mim, mas enquanto, não existia. De agora em diante, o Fun House é a minha casa. E é tudo que tenho a dizer sobre o assunto.
.
.
.
Eu sabia, eu sabia que o Leminski não me decepcionaria. Logo ele,o gênio da Santíssima Trindade, não me decepcionaria. Porque cada um me deu o que pôde. Fante me deu Arturo, Hank me deu o livro. Não sabia o que esperar de Leminski, o gênio, o kamiquase. Agora entendi tudo. Tudo, tudo, até essa lua filha da puta que me olha mesmo depois do céu já estar claro. Hoje é aniversário dele, sabe? São Paulo Leminski que começou essa coisa de Céu da Cirrose, de Santíssima Trindade. Foi ele que fez isso tudo existir, ainda antes de eu me achar. Eu sabia que algo foda me esperava, sabia que essa lua não poderia estar muda. Estava só esperando, sem esperar nada, como sempre. Soprando a fumaça e falando que não espero nada, mas porra, como espero, como espero. Algo que me faça sorrir de novo iluminando tudo e ficando besta, contando pra todo mundo sem ter nada pra contar, sem abrir a boca, só com o sorriso. Cerveja na mão, 6 da manhã no metrô, me sinto nova. Desde anos, milênios atrás, há 5 meses, não sorria deste jeito. Muito tempo para uma vida curta como a minha. Mas eu sabia, eu sabia que algo me esperava hoje, sabia como quem deita na praia sabe que vai amanhecer, como todas as florzinhas esperam a primavera chegar para abrir os olhos. Eu sabia. Tinha que ser hoje. Hoje. E foi. E não importa o que aconteça, eu sorri. Em nome de São Paulo Leminski, amém. Eu já sabia.
.: Clara Averbuck :. 5:08 PM
São Paulo Leminski
[24.ago.02]
Hoje é aniversário de São Paulo Leminski. Não era nem seria: é. Porque caras como ele não morrem. 58 anos. Eu falo, falo, falo dele, falo da Santíssima Trindade como se todos tivessem a obrigação de saber quem são os caras. De fato, têm. Mas não sabem, porque os caras são ignorados por professores medíocres, malditos demais ou incompreendidos demais ou banalizados demais ou lidos por um bando de bêbados que insistem em se achar poetas como eles. Não, não, desculpem, amigos bêbados. Esqueçam. Seus haikais não são tão bons como os dele. Seus poemas são uma merda comparados com os dele. Desistam e arrumem um emprego, não me vendam poesia na mesa do bar que me mata de desgosto. Especialmente porque Leminski é o único dos gênios da Santíssima Trindade. Os outros são tão sagrados quanto, mas acho que o termo "gênio" é sério demais e não se aplica. Todos somos geniais às vezes, mas gênios são raros. Gênios que conseguem não ser chatos, mais raros ainda. E chegamos a São Paulo Leminski. Escritor, jornalista, tradutor poliglota (o cara falava 10 línguas), poeta, letrista. Tudo. Erudito e beatnik. Roqueiro e hippie. Judoca e alcoólatra. Até publicitário ele conseguiu ser - tudo sem perder a dignidade. Quando era criança, decidiu ser monge. Virou santo. Pra mim. Porque eu determino o que é sagrado, e a minha Santíssima Trindade é feita de caras que amavam a escrita mais do que a vida. A escrita os beatificou. Aqui dentro do meu mundo, eles são santos e zelam por mim lá no Céu da Cirrose. Os três.
Leminski é um escritor único. Seu primeiro livro, a prosa poética Catatau, de 75, veio depois que já tinha causado rebuliço com seu barbão, seu cabelão e sua poesia que, como ele, era singular. Ele rimava tão naturalmente quanto respirava, quanto coçava a nuca. Aos 19 anos, já dava aulas em cursinhos e tinha traduzido fodões da literatura. Sua casa virou ponto de encontro de escritores, músicos e agregados, que sacudiriam a careta Curitiba daquela época. A vida dele é uma coisa à parte, não posso fazer a biografia do cara sem me deter em todos os detalhes, então vou parando por aqui. Leminski morreu de cirrose em 89, deixando um monte de livros bons, filhos e várias viúvas. Uma mais do que as outras: Alice. Deviam ser almas gêmeas, os dois.
Tenho como tradição interna celebrar o aniversário dos caras. No do Fante, tomei um porre e tive uma crise de fígado, a pior de todas. Mas comemorei, foi lindo. No do Bukowski, lancei meu primeiro livro. O que mais poderia fazer hoje além de beber no meu novo bar? Tenho isso de me adonar dos lugares. A Mercearia São Pedro, na Vila Madalena, é meu bar oficial, com todos aqueles livros, filmes, bebida, rodinhos, papel higiênico e donos legais. Agora tem a Fun House, e é para lá que vou, continuar a noite de ontem e brindar sozinha pelo aniversário de São Paulo Leminski, para quem rezo todos os dias. Sei que ele está ao meu lado, sei que sorri para mim lá do Céu da Cirrose, o meu Leminski. Te amo, cara. Obrigada por tudo.
.
.
.
eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito
eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões
em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois
.
.
.
tenho andado fraco
levanto a mão
é uma mão de macaco
tenho andado só
lembrando que sou pó
tento andado tanto
diabo querendo ser santo
tenho andado cheio
um copo pelo meio
tenho andado sem pai
yo no creo en caminos
pero que los hay
hay
.
.
.
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que o valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
.
.
.
fazia poesia
e a maioria saía
tal a poesia que fazia
fazia poesia
e a poesia que fazia
era outra filosofia
fazia poesia
e a poesia que fazia
tinha tamanho família
fazia poesia
e fez alto
em nossa folia
fazia tanta poesia
ainda vai ter poesia um dia
.: Clara Averbuck :. 5:07 PM
AUT EGO AUT NIHIL
É um diário. É o meu diário. Aberto para todo mundo ler. Até os que me odeiam e os que queriam ser eu, mas não me importo. Não me importo com nada dessas coisas. Meu diário de adolescente, ainda bem. Eu sou a adolescente mais velha do planeta. Dos 15 aos 75 anos em segundos. Morram de inveja, adultos chatos. Vão ler Witgenstein, vão ver os valores da bolsa enquanto eu me divirto com o Groucho Marx. Mandem lembranças ao seu chefe. Eu não tenho um.
(...)
Se eu notar mensagens sujas, que normalmente vêm de homens amargos, invejosos, feios e burros, que são infelizes no trabalho e quiseram a vida inteira ser como eu, removerei esses postzinhos improdutivos e gostaria de dizer para essas bichinhas perturbadas que sinto pena de vocês. Tudo que sempre quis foi ser eu. Espero que um dia você se sinta assim e se liberte do ímpeto estúpido de poluir esta message board e distrair seus maravilhosos membros. Então vá em frente e diga o que quiser de mim, mas tenha em mente que, pelos seus insultos, todos saberemos que seu pau é realmente pequeno e o quão miserável sua vida sempre foi e que faz muito tempo que nenhuma garota abaixo de 500 quilos respondeu alguma cantada barata sua em um boteco qualquer.
(...)
Faço minhas as palavras do maravilhoso, estupendo, multi-talentoso e homem da minha vida no. 479 Vincent Gallo. Acrescentaria que não, ninguém vai chamar mais atenção esbravejando contra mim e se aproveitando da evidência que consegui por méritos próprios falando mal da minha inofensiva pessoa de maneira patética e tentando me incomodar. Quer dizer, podem até tentar, mas isso só vai mostrar que você não tem nada para fazer na vida e vai tentar usar golpezinhos baixos e sem argumentos que não farão cócegas em minha auto-estima. Serve também para os pobres coitados que reclamam das minhas referências estrangeiras, como se a arte tivesse uma língua. Como se a arte pudesse ser diminuída a uma pátria. Deus, como isso é pequeno. É tão pequeno, tão mesquinho. Não merecia nem um texto deste tamanho. Chega.
"Mas você só fala de si mesma!"
"Bom, queria que eu falasse do quê? De você?"
quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em são consciência
quando acabar esta adolscência
pleminski
.: Clara Averbuck :. 5:06 PM
[23.ago.02]
Algo aconteceu. Algo seriíssimo aconteceu: decidi virar uma acadêmica. Já vinha me acostumando à idéia há algumas semanas, mas agora virou uma decisão séria. Claro que, em se tratando de mim, minha decisão séria e sólida pode mudar amanhã, mas é o seguinte: decidi virar acadêmica. Me perder em bibliotecas, chafurdar em todos os livros, aprender todas as línguas que couberem em minha cabeça. Parar com esse negócio de ficar me perdendo em homem, vou é me perder em livros. Vou estudar, fazer alguma coisa útil da vida. Amorzinho não leva a nenhum lugar. Só à total e completa merda.
Cara, você odeia estudar. Lembra disso? Aulas chatas? Aborrecimentos gratuitos?
Eu odeio ir à aula. Não odeio estudar.
Ok, e como você pretende proceder?
Sei lá. Se não der certo, serei acadêmica em casa.
Não dou um mês pra você se apaixonar por algum professor.
Com licença, estou tentando ter uma conversa séria aqui.
Eu sei, por isso estou respondendo.
Oh sim, obrigada pelo apoio.
Mas estou te apoiando. Acho que deve sair coisa boa se você se apaixonar por um professor.
Só vou me apaixonar por mortos agora. Amor platônico por escritores mortos. Os vivos não valem a pena, de qualquer forma.
E o Rio?
O que tem o Rio?
Você não ia pro Rio, morar em Copa, comer camarão, andar sem meia e olhar para o mar?
Hmmm... ia.
E aí?
E aí que minha decisão é mais importante do que ter vida de aposentado. E eu não disse onde quero ser uma acadêmica.
Certo. E a Inglaterra?
O que tem a Inglaterra?
Você não estava de saco cheio, não ia para a Inglaterra?
Hmmm... ia.
E aí?
E aí que posso ir nas minhas férias, ora bolas.
Arrã, sei. E Nova York?
Você está começando a me aborrecer, mocinha.
Bom, não fui eu que resolvi virar garçonete em Nova York.
Vem cá, não se pode mais mudar de idéia neste país?
Pode, ué. Só quero saber o que você vai fazer da sua vida essa semana.
Já disse, virarei acadêmica. Parar de fazer a barba e ler até os dedos caírem e a vista falhar.
Se a sua vista falhar mais, você fica cega.
Você é tão engraçada.
Obrigada.
Mais alguma declaração humorística, ou posso voltar aos estudos?
Vai lá, campeã.
Suas ironias não me atingem.
Uau. Estou quase te levando a sério.
Eu também, eu também.
.: Clara Averbuck :. 5:03 PM
sexta-feira, agosto 23, 2002
Double John Fantasy
Não, ninguém entenderia a doçura desta noite. Ninguém mais entenderia, ninguém além de Clarah Averbuck e Camila Chirivino. Duas em uma, primeiro decanato, nós duas, que tanto falamos sozinhas, que tanto brigamos, hoje nos abraçamos porque só nós entenderemos a doçura desta noite. Não estamos sozinhas, não, não mesmo. Estamos com John Fante e Arturo Bandini, enquanto Miles Davis, Chuck Findley e Michael Legrand fazem a trilha desta noite em minha casa, nesta São Paulo que não quero minha, diante desta janela que deixa entrar todas as luzes da terra e do céu. O chiado da minha caixa de som estragada não me incomoda. Nem me incomodam os 40 centavos em moedas de 5 que me sobraram na carteira nem a dor nas costas, nem os olhos secos, nem a água da torneira, porque nada tira a doçura desta noite. Não estou sozinha, não, de maneira alguma, Camila Chirivino, minha amiga, grande garota essa Camila, como ela é durona, vocês não acreditariam. Ela passa por tudo, fome frio sede sono, vai e mete a cara, mete também os pés pelas mãos às vezes, mas quem não mete? Vai, Camila, ganha o mundo por mim, grande Camila, escritora talentosa, grande mulher, nada além disso. Não importa como Camila se parece, não importa a cor de seus cabelos ou de sua pele ou de seus olhos, Camila é escritora, escritores vivem nas letras, não nos holofotes. Vai, Camila, vai até a janela e olha essa cidade, porque ela quer ser tua. Não a quero para mim, não posso, mas você, ah, você está pronta para ganhar o mundo, o mundo já é seu, sempre esteve de pernas abertas. Clarah Averbuck e Camila Chirivino. Nossa história se confunde, verdade e ficção, minha ficção, verdade de Camila, nossa família, nossas raízes que não estão nesta cidade, estão longe, nosso centro não é aqui, por isso nós duas enloquecemos às vezes, arrancamos nossos cabelos, eu e Camila, porque este não é o nosso lugar. Mas hoje não, hoje estamos em paz, nossos dedos no teclado, nossos olhos no livro, nossa história repetida pelo cara que a batizou, Camila, doce Camila, vai, vai iluminar a vida dos outros como iluminou a minha, se atira no mundo, faz tudo o que o nosso Arturo não fez, todos os delírios, todas as escadas e os sonhos e as putas e os hotéis baratos em uma cidade sem raízes, mostra ao mundo como se faz, porque eles não sabem nada, pobres homens, humanidade perdida no asfalto e no cimento. Não dê ouvidos a ninguém, vai em frente, fecha os olhos e pula, corre, vai, Camila, porque o mundo te quer.
* Enquanto traduzia o prólogo e me impregnava com o mais puro Fante e o mais doce delírio de escritor de 20 anos.
.: Clara Averbuck :. 4:21 AM
MÁÁÁÁÁÁÁÁÁRIO!
PUTAQUEPARIUQUESAUDADELUVYAMISSYAROCKYADAMNDAMNDAMNI'MCOMIN!
(Com licença, meu blog, meus recadinhos bêbados para meus amigos em Londres. Obrigada.)
.: Clara Averbuck :. 3:58 AM
Pergunte ao Pó
(...)
Bom, é o seguinte: hoje eu peguei um livro novo do nosso Fante, de contos entre 32-41, obviamente não publicados. Estava lá há meses e eu simplesmente não tinha lido, porque estava ocupada demais lendo o filho dele e me relendo e me perdendo em coisas bestas e lendo românticos e oh meu deus. E também porque eu sou hippie e acredito que as coisas têm um tempo certo para acontecer e fico seguindo feelings e pensando droga, por que meus pais tinham que ser hippies?, mas não posso fazer nada, essas coisas são como a cor dos nossos olhos. Então eu pego os livros quando acho que devo. Sempre foi assim e sempre funcionou. Hoje todo mundo foi embora, sabe, a Jeanne e uns amigos meus que vieram e eu fiquei sozinha. Quis ouvir um pouco de silêncio depois de arrumar tudo bem bonitinho - porque eu sou maníaca com a minha casa, ainda mais agora que não tem mais ninguém pra infectar o ambiente, se é que você me entende, não é nada pessoal, mas eu não quero morar com PESSOAS. Eu quero GATOS. Pessoas ficam pessoando demais. Oquei, então eu olhei para a cara do livro, ele olhou para a minha, pintou um clima e tal, e eu disse "vombora". E fomos. Eu nem tinha espiado, não tinha folhado nem nada, e quando eu vejo no índice:
PROLOGUE TO ASK THE DUST.
(...)
Achei que meu coração saltaria pelos olhos. Você precisa ler isso. Precisa. É lindo, é forte, tem uma voz inacreditável, é Fante puro, na essência, direto da fonte, I, John Fante and Arturo Bandini, two in one, machuca de tão bonito. Fiquei tão perturbada que resolvi dormir. Com vergonha de escrever de novo tão cedo (até amanhã, no máximo). Quem eu estava pensando que era, nós duas, Clarah Averbuck e Camila Chirivino, o que nós estávamos pensando, que poderíamos escrever depois de Bandini, de Fante? Qualquer coisa que fizéssemos poderia ser pisada por eles.
.
.
.
Bom, o prólogo era em inglês, então fui obrigada a traduzir. Não vou publicar tudo, são 20 páginas. 20 páginas inéditas de John Fante, só minhas. Vamos aos poucos, começando pelo primeiro parágrafo. Até porque quem não leu o Pergunte ao Pó não vai sacar. E é o seguinte, respeitei a pontuação do homem, mesmo que soe errado. Respeitei porque foi escrito assim. E é assim que vai ficar.
.
.
.
Prólogo para Pergunte ao Pó
Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias no começo do Mojave. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome. Sim, pois o último a ver minha garota Camilla Lopez foi um tuberculoso vivendo à beira do Mojave, e ela se dirigia ao Leste com um cachorro que dei a ela, e o cachorro chamava-se Pancho, e nunca ninguém viu Pancho de novo também. Você não acreditará nisso. Você não acreditará que uma garota se aventuraria no deserto do Mojave em Outubro sem nenhuma companhia exceto um cachorrinho policial chamado Pancho, mas aconteceu. Eu vi as pegadas do cachorro na areia, e eu vi as pegadas de Camilla ao lado das do cachorro, e ela nunca voltou para Los Angeles, sua mãe nunca a viu de novo e a não ser que um milagre tenha acontecido, ela está morta lá no Mojave hoje, e Pancho também. Eu não preciso criar um roteiro para isso, meu segundo livro. Aconteceu comigo. Eu estava apaixonado por ela e ela me odiava, e essa é a minha história.
.
.
.
E essa é a minha história. Minha vida de gato. Minha história, eu, Camila, e meu Arturo. Essa é a minha história. Você não acha que tenho uma história? Eu realmente não me importo, contarei ao pó, se necessário. Ao pó e aos espíritos que sempre me escutam.
.: Clara Averbuck :. 3:26 AM
Oi, tudo bom? Hoje foi uma merda, acordei estranha, usei todas as drogas possíveis e não saí de mim, só porque queria sair. Em compensação, tenho O bandido que falava latim, porque sábado é aniversário dele, e é claro que precisa acontecer alguma coisa a altura. E traduzi Fante, Fante que ninguém nunca leu porque não foi publicado, nunca. E os Chili Peppers vêm pro Brasil. E eu estou cheia de pêlos do meu amor felpudo. Então foda-se minha sobriedade.
.: Clara Averbuck :. 3:03 AM
quarta-feira, agosto 21, 2002
Tem esse cara, sabe, ele me deixa com uns 13 anos, no máximo. Porque quando eu chego perto dele, suo, derrubo coisas, me sinto desconfortável, deselegante, não consigo sentar nem ficar de pé nem sei o que fazer com as mãos, muito menos o que dizer, então eu não digo nada, calo a boca, fico mudinha, e ele deve me achar completamente idiota, mas ele é tão, tão, tão, tão lindo que eu fico tonta. Toda vez que eu vejo a criatura eu fico desse jeito, as mãos molhadas e geladas, praticamente dois sacos de leite, toda boba, toda. Inteira. Argh, odeio ficar adolescente. Odeio. Odeio. A pessoa passa a vida levantando a sobrancelha, dando de ombros, de saco cheio com todos, e de repente chega uma pessoa igualzinha a todas as outras só que completamente linda e perfeita, um presente de deus para as mulheres, e desmonta tudo só com aquela cara de "sou dono do mundo, sou lindo, sou foda". E ele é mesmo. Isso que eu nunca FALEI com ele. Só "oi". Então eu vou pra casa esquecer esse cara que tanto me perturba e dar uma entrevista, assim mesmo, xuja, descabelada e sem comer. Tchau.
.: Clara Averbuck :. 1:09 PM
A festa dos hormônios.
.: Clara Averbuck :. 12:42 PM
Caralho, esses caras gritam demais. Fui obrigada a me registrar na Usina do Som e ficar ouvindo rádio. Punk 70's. Eu vou embora pra NY.
Espere!
Tenho um pressentimento... Sim... Um email... Vai chegar um email me chamando de "vaca"... Não, não... CADELA, isso. Cadela. "Cadela, vai embora do Brasil". É isso. Oh, não! E agora, José?
.: Clara Averbuck :. 12:04 PM
Engraçado.
Quando eu era jovem, bem jovem, quando tinha uns 13, 14, 15, 16, 17 anos, eu era a esquisitinha. A aberração. Aquela que não tem o tênis igual ao das outras garotas. A que plantaria uma bananeira sem constrangimento no meio do pátio do colégio, se soubesse plantar uma bananeira e ficasse com vontade. Que fazia coisas estranhas, falava coisas estranhas, gostava de música e de escrever. Freak. Esquisita. De camiseta dos Ramones, piercing no nariz, tatuagem no braço e cabelo roxo no colégio São Judas Tadeu, aos 13 anos. Sendo apontada pelos idiotas como "traficante" aos 15, no colégio São João. Foi o único ano da minha vida adolescente em que não usei drogas. Chamaram a minha mãe. "Sua filha..." Minha mãe não estava nem aí. Para eles, é claro. Ela me conhece melhor do que qualquer um. E assim foi toda a vida escolar. Esquisita. Nariguda. "Não fico com essa garota nem depois de uma garrafa de velho barreiro". Ficou. Sóbrio, diga-se de passagem. Mas só uma vez. Hoje faz medicina. Eu gostava bastante dele. Mas era esquisita. Gorda. Depois, magra. Mais gatinha, até. Puro osso, devo confessar. 18 anos e 50 quilos. Caí na real e me deixei ganhar carnes novamente. Vida de sanfona, variação de 25 quilos, um monte de estrias. Quase gosto delas. São minhas digitais. Aposto que ninguém no mundo inteiro tem uma estria igual à minha da coxa esquerda. Um estouro. Motivo de piada entre os populares da escola, sempre. Eu, não a estria. "Essa guria..."
Tá.
Agora, será que alguém por favor poderia me informar quando a esquisitinha virou "show woman" e "cool"? Não, porque é assim que andam me vendo. Cool. A mesma pessoa, exatamente a mesma pessoa. Mais velha, com o cabelo mais curto, menos peito - um quilo a menos, uma cicatriz a mais. Exatamente a mesma pessoa. O que aconteceu? O mundo mudou? O patinho feio desabrochou? Acho que não. Meu nariz está cada vez maior. E olha que eu nem minto muito. Só por esporte. A mesma pessoa, ouvindo as mesmas coisas, lendo as mesmas coisas. Mais tatuagens. O coração esmagado umas 10 vezes. A mesma pessoa. E depois eu é que sou estranha.
.: Clara Averbuck :. 11:42 AM
[segunda]
Acabou.
Todo mundo foi embora. Empacotaram tudo e foram, todos os meus amigos queridos, de volta para suas casas. A Jeanne tinha que fazer uma coisa muito foda, porque ela é, afinal de contas, uma garota muito foda, muito doce, muito querida e muito talentosa, ela e sua franja dupla e suas sardinhas e seu cabelo ruivo. Sim, porque ela é ruiva. Não importa o que digam as raízes, não dêem ouvidos e aceitem: a Jeanne é uma ruiva. Te amo pra sempre, linda.
O Mateus e o Gustavo tinham ensaio. Acho que já falei o suciente do Mateus por aqui para que todos saibam o quanto eu amo esse cara. O Gustavo é igualmente adorável, o que não me surpreende, porque todos os Potumatis são. Eles têm uma banda, os Potumatis. Uma banda fodidamente boa chamada Espíritos Zombeteiros. Eu que fiz o release deles. *ORGULHO*. Nem preciso dizer mais nada, néam? Apenas sigam os links e façam o favor para o mundo de trazê-los logo para tocar em São Paulo (e no Rio e em Porto Alegre e em todos os lugares do país), porque ninguém faz tão bem o que eles fazem por aqui. No Brasil, eu quero dizer.
E todo mundo foi embora. Os dois últimos saíram no fim da tarde, com um céu lindo me cutucando e tentando me deixar melancólica, o que é fácil para uma gripada como eu. Vocês acham que eu me rendi? Rá! Tinha até botado o By The Way aqui, mas me dei conta que ficaria rolando na cama e olhando o teto e pensando "oh! Como estou só!" e troquei rapidinho para o Mother's Milk, liguei o computador e fiquei saracoteando e pensando nas coisas boas. Culpa do P. (como é divertido isso de se referir aos amigos pelas iniciais), que sabe exatamente do que estou falando. Saracoteei e pensei nas coisas boas até acabar o disco. Daí eu deixei a tristeza chegar um pouquinho, sabe, sinto saudade dela. Se todos fossem felizes o tempo todo, o mundo seria um musical da Broadway cheio de dentes brancos sorrindo como Barbies e dançando debaixo da luz, e olha, isso não me atrai nem um pouco, essa coisa de sorrir e dançar o tempo todo.
Pra falar a verdade, a sensação agora é de "tá, e aí?", sabe? Lancei livro, dei vexame, tomei porre. E aí? O mundo continua girando, eu continuo míope e sem dinheiro, minha caixa de som continua estragada, me obrigando viver em mono, tudo igual mas mais esquisito. O Vida de Gato tá paradinho, esperando o resto da história que quero contar.
Eu nunca escrevi um livro. Eles é que se escrevem. As coisas acontecem, ah, como elas acontecem, nunca param de acontecer, essas coisas de livro. Quando acho que parou, viro para o lado e ali tem um parágrafo inteiro me olhando. Piscando, como se não fosse estranho ter um parágrafo ali no meio da sala, e me encarando. E esses parágrafos inconvenientes não param de me encarar enquanto não são escritos. Às vezes é bem chato. Estou ali, no meio da festa, bebendo e tal, chega um parágrafo e pá! senta na mesa, sem nem ser convidado. Por isso os tais Cadernos Cor-de-Rosa Peludinhos. Por isso eu às vezes sou vista escrevendo nos cantinhos no meio dos shows dos outros. É tudo culpa desses parágrafos deslocados, que inclusive têm a audácia de me tirar da cama diversas vezes, sem nem se importar se está frio, se estou doente ou qualquer coisa assim. Simplesmente deitam e ficam puxando as cobertas e me fazendo cócegas até que eu levante. Mas não tem problema, viu, podem continuar me acordando, me tirando das festas, estragando minhas cantadas. Eu gosto deles. Sem contar que depois que todo mundo for, eu, você, o Lou Reed, o Rodrigo Santoro e o Kajuru, depois que todo mundo for, os tais parágrafos ficarão. Talvez para umas três pessoas, uns primos, uns vizinhos, mas sempre tem alguém que entende. Sempre tem. E é por isso que vale.
.: Clara Averbuck :. 11:40 AM
Vou aprender a jogar Counter Strike só pra matar essa gente que berra nos meus ouvidos.
.: Clara Averbuck :. 11:39 AM
segunda-feira, agosto 19, 2002
E minha TV. E um vídeo. E um modem e remédios e Plenty, que o meu acabou.
.: Clara Averbuck :. 3:56 PM
Tô doente. Quero o Joo.
.: Clara Averbuck :. 3:50 PM
domingo, agosto 18, 2002
Oração do Amor Efêmero
Eu quero ir embora, eu quero um amor que me carregue para longe daqui, que me leve, me leve, me leve embora, me ame com força e desespero, machuque minha boca no primeiro beijo porque queria muito, que tatue meu nome no braço mesmo sabendo que não é para sempre. Vamos fugir, vamos sumir, ser estranhos longe de todo mundo. Eu quero um amor que me puxe com força e não me dê opção senão me deixar levar, eu quero ir, eu quero ir, eu quero ir embora daqui. Eu quero um amor que me perca, me ache, me deixe tonta e confusa, eu quero, eu quero um amor que me leve, que perca, me ache, que me ganhe de cara. Que me guie, me guarde, me governe, me ilumine, me incendeie, me cause insônia e raiva e ciúme e lágrimas e febre e riso. Eu quero um amor que me canse, me canse, não canse nunca e me canse e se canse. Eu quero um amor de verdade, puro, limpo, imaculado, sagrado, que vá até o fundo, até onde ninguém foi. Eu quero um amor que me olhe nos olhos, não tenha medo de se jogar no abismo, de se jogar em mim, disposto a arder no inferno por nós. Que esteja lá não importando para onde eu queira ir. Eu quero um amor de janta e café da manhã, que não prometa nada, que não dê nada além do que for tão verdadeiro que me deixe doente, louca, rouca, suada, cansada, que arranque minha paz junto com meu coração. Eu quero um amor que me leve até o fim.
.: Clara Averbuck :. 8:40 PM
Ai, quanto mail legal.
Esperem, tá? Eu li tudo, tudinho, mas esperem que tá foda.
.: Clara Averbuck :. 8:19 PM
"Oi, Vista Venus"
Foi assim que fui cumprimentada na metade da noite de ontem, quando chegava tardiamente ao Juke Joint. E eu não fazia idéia do porquê. E fiquei vermelha, porque me imaginei falando todo o tipo de obscenidades envolvendo guitarras para o moço da Jaguar. A coisa foi piorando e piorando ao longo do fim da noite, quando os presentes no dia anterior me davam olá e eu não sabia quem eram eles. Bom, eu não sabia nem como tinha chegado em casa, que dirá com quem eu falei. Isso porque simplesmente perdi a linha no lançamento. Mas eu podia, tá, era meu lançamento e aniversário do Hank, eu não só podia como devia. Admito que deveria ter comido mais do que um copo de leite o dia inteiro e que o porre de champagne da noite anterior ainda não tinha passado, de modo que todas aquelas três garrafas de vinho branco que entornei me deixaram absolutamente fora da casinha e incontrolável - segundo relatos, porque eu não estava presente no momento. Dizem que eu parecia uma "gata no cio" (sic). Meda, pânica, horrora, desespera. Tudo que sei é que saí beijando todas as pessoas que tive vontade (e que me quiseram, é claro). Todas. Não foram muitas, sabe, a idade vai deixando o nosso critério mais e mais apurado e é por isso que ando com a impressão de que vou morrer velha e solteirona. Mas como eu ia dizendo, saí distribuindo beijos em meninos e meninas, o que deve ter deixando uma rapeize meio chocada, mas foda-se, porque era meu lançamento. Tive medo que aquilo tudo virasse uma reprise do meu aniversário, que foi uma merda (junto com o mês de maio inteiro, uma merda, um dos piores da minha vida), mas ei, foi o contrário, era como se eu estivesse fazendo aniversário pelo Hank. Foi do caralho. Obrigada a todos os leitores fofos que foram e compraram meu livrinho, me afofaram e me agüentaram sendo guei - porque agora eu sou um gay afetado, o que me lembra o Clodovil e aquela entrevista horrorosa. Aiaiai. Vamos lá.
Clodovil e Sua Entrevista Horrorosa
Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei ir naquele lugar. Começando pelo fato de que o Clô me deixou esperando uma hora sem nenhum álcool, o que obrigou eu e Babai a irmos até um lugar ali perto tomar um vinhozinho. Quando finalmente chegou a minha vez, depois do WANDO (cara, o Wando é MUITO FEIO PRA CARALHO) e do Max Fivelinha, a bicha me apresenta como "escritora e apresentadora de TV".
APRESENTADORA DE TV?
Daonde diabos ele tirou aquilo, jamais saberemos.
E essa foi a melhor parte.
Ele me chamou de Clarrá Averrbück, assim mesmo, como se eu fosse algum tipo de francesa. E é óbvio que Averbuck é JUDEU, ele sabia disso, tanto que ficou matracando sobre ventres judeus e essas coisas que quem não sabe o que falar diz. E eu lá, com a sobrancelha direita quase indo parar na nuca, um monte de luzes na minha cara, uma pintura do Clodovil atrás de mim, suando, nervosa, tímida, deslocada, puta e tentando achar engraçado.
Bom, ele não sabia absolutamente nada sobre a minha pessoa e insistiu em me tratar como se eu fosse uma pré-adolescente transgressorazinha e mal-vestida e mimada sem nada a dizer. Em vez de falar do LIVRO, que ele obviamente não leu e nem vai ler, perguntou se eu pegava mulher, se eu me importaria se meu pai tivesse um namorado, sobre o tamanho da minha bunda e uma série de baboseiras que não interessavam a ninguém. Basicamente, uma entrevista inútil. Nem o jantar valeu, era um peixinho mixuruca que não mataria nem a fome do Joo. Fui obrigada a ficar sendo blasé e discordando de praticamente tudo que ele dizia, com exceção do fato de que eu era uma bicha e tinha muitos amigos gays. Esqueci de mencionar que meus amigos praticamente acabaram com meu glitter, mas é que eu estava realmente nervosa. Eu não sou boa com gente, não sou mesmo. Especialmente com gente de ombreiras e bronzeado artificial e que acham que sabem alguma coisa sobre a vida só porque tem 66 anos. Ah, pelo amor de deus. Quer dizer, o Clodovil é um cara legal, ele tem uma puta coragem, acho que foi a primeira bicha assumida da televisão brasileira, mas cara, que entrevista de merda.
Depois, eu e Babai fomos para o Bar Brahma, porque achei que Cidão & o Senhor que Cantava com o Vicentão tocariam. Não, eles não tocariam, estavam de folga. Mas como o acaso é legal às vezes, tinha nada mais, nada menos do que um show dos DEMÔNIOS DA GAROA. Ninguém deve saber, mas Babai, assim como meu avô Léo, o Chirivino, o que deu o sobrenome da minha Camila, ama samba. Ama. Foi lindo, foi muito lindo, eu e Babai bebemos dois champagnes e vimos aqueles velhinhos maravilhosos tocando altos hits do Adoniran Barbosa e sambamos e foi lindo, lindo, lindo. Lembrei do Dan Fante me dizendo para entrar em contato com minhas raízes, me dizendo para ir para a Itália, e ali, no meio daqueles velhinhos do Bixiga e do lado do meu pai, pude sentir a presença do meu avô e toda a minha brasilidade e minha italianice. Ele anda bem perto ultimamente, sabe, desde aquele dia em que lembrei da minha infância e chorei como uma garotinha, meu avô veio para perto, veio para perto da Camila, de mim, e aqui ficou. E não vai sair nunca mais, meu avô querido. E puta que pariu, que saudades de casa, de Porto Alegre, do meu pai, de tocar com meu pai. Dia 2 será meu lançamento, vou tocar e gravar e ver meus amigos e será lindo. Porque afinal, eu preciso entrar em contato com as minhas raízes. Sei que elas estão em todos os lugares, na Itália, na Ucrânia, mas vamos do começo: agora eu quero ir para casa. Só um pouco. Depois eu volto.
.: Clara Averbuck :. 7:55 PM
sábado, agosto 17, 2002
Ai, cara. Eu não lembro. Tudo que eu sei é que dói a cabeça.
Será que eu fiz merda?
Oh, focof. Ontem eu podia.
.: Clara Averbuck :. 4:24 PM
Ai, a minha cabeça.
.: Clara Averbuck :. 3:40 PM
quarta-feira, agosto 14, 2002
WRY OH WRY
Todo mundo vai embora o tempo todo. Desde que cheguei, todos pousam, passam e vão. E eu fico. É como se eu estivesse acenando um lencinho de dama para os carros que partem estrada afora e levantam uma nuvem de poeira sem saber. Eu fico. Nada em volta, nenhum lugar para estar. Vou só empurrando, tateando, sempre em frente. E às vezes, acabo esbarrando em algumas pessoas maravilhosas, que dão mais sentido para minha vida de cego, sempre tateando até achar uma porta, uma janela, um interruptor ou o Wry. Puta que pariu, o Wry, um bando de meninos absurdamente doces e talentosos que surgiram na minha vida nos últimos dias e me fizeram ir para Sorocaba com uns reais e umas moedas, que me levaram para cima e para baixo, me deram casa, álcool, droguinha, comida de mãe e róque, todo o róque que faltava, além, claro, de enfrentarem destemidamente o Terrível, Abominável, Gosmento e Feio, Muito Feio Sapo Bolha Canibal de óculos do Elton John, plataformas de plástico verde, cílios postiços e esmalte da Xuxa (o sapo, não o Wry, que fique claro), que habitava as catacumbas da Casa dos Padres, um lugar todo cheio de folclore lá perto de Sorocaba. Aquele corredor da Casa dos Padres, sabe, ele é bem parecido com a minha vida. Um monte de coisas que não fazem sentido, uma puta escuridão mesmo com o sol mais forte do mundo brilhando lá fora e o cheiro da dúvida por todos os lados, todo mundo se perguntando que diabos era aquele lugar, afinal de contas. Mas o Wry, viu. Eles vão se dar bem, eles vão, porque são lindos e amigos e aprenderam a tocar juntos e são foda, ninguém imagina como eles são foda. Bandas de amigos soam diferente. Eles vão se dar bem em Londres, Sorocaba, Guatemala, Abu Dhabi ou qualquer lugar que queiram, porque eles são de verdade, acreditam no que fazem, amam o que fazem, correm riscos, se fodem se for necessário. E quem se fode por amor, merece. Meninos, eu amo vocês. Stay gold, fiquem bem, vou morrer de saudades, obrigada por tudo, por existirem, por ficarem comigo esses diazinhos, por serem tão foda, por tudo, tudo, tudo. Me esperem em Londres, eu estou chegando, fodida, maltrapilha, sem dinheiro, mas estou chegando. Obrigada, queridos. Vocês fizeram a luzinha brilhar mais forte.
.: Clara Averbuck :. 10:36 PM
Ah é: amanhã eu vou no CLODOVIL.
Mas só porque ele me ofereceu uma janta.
Não sei o canal, não sei horário, não sei nada. Só sei que vai ser ENGRAÇADO PARA CARALHO.
Mas estou preparada, ó:
.: Clara Averbuck :. 10:32 PM
Uma coisa
Estou ficando com medo dessa coisa toda de livro. Talvez eu devesse ter guardado os diários debaixo da cama, junto com os livros de biologia do 2o. grau. Ninguém saberia de nada. Eu deveria ter escolhido outro nome. Um nome pomposo, com cara de pseudônimo. Tipo "Clarah Averbuck" ou algo assim. Porque afinal de contas, eu sou um golpe de marketing, haha. Eu só falo sobre mim e tenho cabelo rosa, logo, sou um golpe de marketing. Aiai, pessoinhas. Sempre se fez esse tipo de literatura, mas alguns agem como se eu estivesse fazendo algo absurdo e novo, oh, os diários, oh, a intimidade. Como se não existissem outros 37.567.323 autores que vêm fazendo isso há uns 700 anos. Agora um louco me escreveu coisas em caps como "ENFIA UM ABACAXI NO CU, SUA VADIA" e "VOCÊ QUER DAR O CU POR HEROÍNA?". Não, não vou enfiar um abacaxi no cu, obrigada. Me parece uma péssima idéia e eu corro o risco de ficar afetada assim. Ui. E se dar o rabo por heroína me fizesse escrever como o Burroughs, hell yeah, eu dava. Feliz. Aliás, se a coisa continuar assim preta para o meu lado, vou ter que dar o rabo por muito menos.
Outra: reclamam que só leio e ouço coisas estrangeiras. Mas a verdade é que eu gosto de coisas boas, sejam elas americanas, inglesas, belgas ou brasileiras e me acho o direito de ouvir o que eu bem entender no conforto do meu discman e de ler o que quiser onde quiser. Ora bolas, só o que me faltava agora. A pessoa canta Lupicínio Rodrigues num bar, ouve Elza Soares em casa, tem o Paulo Lemisnki na Santíssima Trindade e tem que ouvir essas coisas. Que gente mais chata, meu deus. De onde elas vêm, o que elas querem, por que elas não vão todas para a Guiana Francesa? Por que alguém se acha no direito de dizer o que acha sobre a vida alheia? Na boa, eu não entendo.
Mas sabe, acho lindo isso de se darem o trabalho de me escrever. Não é qualquer um que sabe incomodar. A maioria dessas pessoas conseguiria, com muito esforço, uma notinha na coluna policial. E ainda errariam o nome delas.
É isso.
.: Clara Averbuck :. 10:30 PM
Pronto. Começaram os revoltadinhos a me escrever.
É tão fácil, sabe?
Não gosta - não leia.
Ou vá fazer um curso de teatro para liberar a afetação. Nunca vi tanta afetação. É inveja, é? Eu, hein... Acho que vou escrever uma coisa.
.: Clara Averbuck :. 10:12 PM
Aloa.
.: Clara Averbuck :. 10:09 PM
segunda-feira, agosto 12, 2002
Estar fodida é sair no jornal e não possuir reais para comprá-lo.
.: Clara Averbuck :. 4:26 PM
domingo, agosto 11, 2002
I'll be there, tell me when you wanna go.
Eu não vou embora antes de dobrar este encarte. Não, entende, é uma questão de HONRA. Sem contar que eu tenho que andar até lá longe no metrô de salto.
Sem contar que eu não trouxe meu discman e não vou poder ouvir o disco no caminho, então eu vou ficar cantando bem alto na rua de manhã cedo com o céu cinza-azulado de São Paulo me cercando e dizendo que teremos mais um dia feioso.
Tá, tá, EU VOU.
.: Clara Averbuck :. 7:06 AM
Ai, Paulo, vem dobrar o encarte pra mim que eu tenho que ir pra casa. Eu não consigo.
.: Clara Averbuck :. 6:40 AM
Take it away, I never had it anyway.
.: Clara Averbuck :. 5:54 AM
Eu queria uma festa. Um festão. Mas meus amigos têm sono e vão para casa. E eu venho para a casa do M. achando que ele estaria em alguma reivi, mas ele está sentado no sofá assistindo filmes com a namorada. Mas que merda, penso eu. Metrô, só em duas horas. E eu aqui, atravancando a vida de um casal. Mas agora não há nada que eu possa fazer além de continuar atravancando a vida de um casal. E bebendo mais, porque eu, o Paulo, a Tiane e a Anne bebemos bastantinho, assim.
Mas o foda mesmo é a alergia. Sabe, sou excessivamente branca e de pele sensível. E hoje eu fui me depilar, porque enfim, sou contra pêlos, gostaria de possuir reais para acabar com eles todos para sempre. Mas mal possuirei reais para ir a Sorocaba amanhã ver o último show do Wry, que dirá pra acabar para sempre com pêlos. Então eu uso cera, né. E cera me dá altas alergias. Então estou com a maior alergia de todos os tempos. Na cara. No buço. Eu sei que tem certas coisas que não se deve falar, mas foda-se, estou aqui no meu próprio blog, posso reclamar da mega alergia que tomou meu rosto no dia de hoje. Parece que eu apanhei, tive a cara esfregada no asfalto. Horrível, tá. Estou usando um quilo de corretivo. Mas corretivo também me dá alergia, então eu acho que vou simplesmente me trancar em casa pra sempre até passar e chorar.
Vou roubar mais uma cerveja do M. Momentinho.
Acabo de notar que estou bebendo há duas semanas sem parar. Todos os dias. Terei errado? Claro, Grooela, na sexta, dia do seu primeiro lançamento, você estará verde, passando mal como uma filha da puta.
Daí eu tou obcecada por um cara que nunca vai me dar. Haha, é claro, essa é a minha especialidade. Nunca vai me dar, nem me olha. E eu babando. Típico de Clarah, diga-se de passagem.
Ai, tô bêbida. Com cirróis. Verde no lançamento. Verde e rosa, que merda. Se bem que eu fico OCRE, não verde. Ocre e com alergia na cara. Isso vai arruinar meu plano de dar um beijo junto com o autógrafo nos leitores e leitoras sexies que quiserem me dar.
All I ever wanted was your life.
Ah, esse disco. Me deixem, eu amo os caras, vou gostar de tudo que eles fizerem. É que eu entendo tudo e esse negócio de entender tudo é foda.
Às vezes fico tonta, é informação demais pra uma só cabecinha. Tudo ao mesmo tempo, ai, dá nozinho, sabe?
Mas pelo menos eu não tenho bigode. Odeio bigode. Menos no Leminski e no Dali, porque eles podiam e não eram meninas.
Estou com saudades do Mateus. Mateus, baby, o que você achou do disco, hein?
Nos conhecemos em um show do Chili Peppers, nosso primeiro. E vamos ter um filho um dia, se eu sobreviver.
I could die for you.
Mateus, Mateus, Mateus.
A gente ia casar, eu e o Mateus. Chegamos a ligar para um cartório. Mas não podia, tinha que marcar 15 dias antes. Saco.
Opa, são quase 6. Tá na hora de pegar o metrô, ir pra casa dar uma dormidinha antes de Sorocaba. E tentar dar um jeito na alergia. Vou lá então.
This is the place where all
The junkies go
Where time gets fast
But everything gets slow
Can I get some vaseline
Step into a modern scene
Take a chance on that
Which seems to be
The making of a dream
I don't wann do it
Like my daddy did
I don't wanna to give it
To my baby's kid
This is my calling
#@@#@#$&¨%&
%$#%$#¨&$$&%#
All I can do to you
This is the place
Where all the devils plead
Their case to take from you
What they need
Can I isolate your gene
Can I kiss your dopamine
In a way I wonder
If she's living in a magazine
I don't wanna say it
If it isn't so
I don't want to weight it
But I gotta know
This is my calling
%$%¨*&*&$%
&¨%¨&$98&*(
All I can do to you
I saw you out there yesterday
What did you wanna say?
A perfect piece of DNA
Caught in a flashing ray
I caught you out there in the fray
What did you wanna say?
Can I smell your gasoline
Can I pet your wolverine
On the day my best friend died
I could not get my copper clean
I don't wanna take it up
With little Joe
I don't wanna fake it
But I gotta know
This is my calling
@&¨$*&@¨$
)(@*(%&(@*
All I can do to you
I am a misfit
I'm born with all of it
The fucking ultimate
Of love inside the atom split
I'm in a flash ray
A mash of DNA
Another poppin' Jay
Who thinks he's got something to say
.: Clara Averbuck :. 5:53 AM
You, you and you, get in the car. Now.
.: Clara Averbuck :. 3:36 AM
sábado, agosto 10, 2002
E ontem, né. Uísque, essas coisas. Afofei o Adriano pra caralho, putaquepariuquesaudadequeuetava. E agora ele já sumiu de novo, o puto. A festa foi legal, meio vazia, mas ei, compareçam, será foda. O cara que tá fazendo, cujo nome me foge, é de NY e importou a festa pra cá. Beeem legal. Terá sempre uma "banda da casa" e um convidado. Ontem foi a Courtney Michael Love. Linda, maravilhosa, quero roubar aquela coroinha e aquele vestido. Foi muito legal, quero mais, quero de novo, quero sair todos os dias agora. Chega de ficar em casa, deu, o que tem pra fazer hoje? Cadê os meus amigos, porra? Eu quero sair. Vamos lá, seus molengas!
Ouvindo o By The Way ininterruptamente. Puta que pariu, eles realmente não cansam de ser bons. Olha, This is the place e Dosed e I coud die for you são as favoritas do momento. Ai, caralho, como é bom, como é bom, como eu amo esses caras. Vou escrever direito sobre o disco depois. Agora eu vou ali.
.: Clara Averbuck :. 10:21 PM
Desert flower blues
Porque eu sabia que seria assim, começando da metade, tudo de novo, aquele frio na barriga, o coração acelerado, o perfume no ar mudando tudo, deixando tudo mais bonito, fazendo de todos os dias um feriado, um dia de usar a roupa mais bonita, de arrumar o cabelo e pintar os olhos e cuidar a postura. Porque eu sabia, tinha certeza que seria a mesma coisa, que ficaria aquela sensação de que nunca teria fim, nunca terminaria. Porque não existe começo, não existe fim. Não podemos fugir de nós mesmos.
Porque eu sabia que depois de toda a dor, de toda a seca, você me faria chorar de felicidade de novo, com a palavra mais idiota, a coisa mais gratuita, você me faria chorar só porque ouvi a sua voz. Só porque você existe, só porque você anda e respira e ama. Não precisa me amar, não precisa ser comigo. Saber que seu coração não pára, que você é capaz de amar, me faz querer viver só pra te ver bem, pra te ver feliz, brilhando como você tem que brilhar.
Porque eu já tinha te perdoado antes de você pensar em perdão, e antes de qualquer coisa, eu sei que você não pede perdão porque aí dentro, você não errou, no seu mundo, você não errou, então eu te perdôo aqui no meu, seu sorriso faria qualquer Jesus perdoar um milhão de Judas quantas vezes fosse preciso para que ele voltasse a andar ao seu lado.
Porque eu passaria por tudo de novo, morreria tudo de novo, secaria, murcharia. Você é o que eu quero ver, você é para quem quero olhar quando estiver escorrendo sobre o papel. Você é sagrado, você conhece os caras, você entende tudo e sabe sobre a florzinha no deserto, você conhece o filho da puta que não pára. E você faz o filho da puta bater tão forte que sou jogada para frente cada vez que teu nome aparece na minha vida. Porque eu morreria por você, morreria feliz e orgulhosa. Por que eu te preciso por perto, do meu lado, na minha vida, assim como preciso de ar, de água, de amor. Nunca sem amor. Outro amor, preciso de outro amor. Porque você não é amor. Você é o Arturo, o que eu vejo quando olho no espelho, o barulho que ouço quando bato na parede da cela.
Damn, eu estou viva. Sorriam, eu estou viva.
"There is no end. There is no beginning. There is only the infinite passion of life." (Fellini)
.: Clara Averbuck :. 10:09 PM
Sobre chorar e chover e nascer e morrer
Voltei a chorar. Dizendo assim, a frase sozinha, parada no meio do papel, parece até que é algo ruim.
Não, não é ruim. Chorar é uma dádiva, é como a chuva na terra seca. Mas chorar assim não é pra qualquer um, sabe. Alguns abusam das lágrimas e se afogam. Para mim, a tristeza é seca, uma pedra de gelo no meu peito, uma bola na garganta que impede qualquer coisa de sair ou entrar. Passei os últimos meses assim, a pedra entravando meu peito, doendo, apertando tudo lá dentro e impedindo meu coração de bater. Seca, seca, esturricada, rachada, sozinha e perdida no nada, os olhos semicerrados na tempestade de areia. E agora choveu, eu chovi, chorei tudo que não tinha chorado, tudo voltou a me tocar, passou a anestesia do gelo que me queimava por dentro e por fora e por todos os lados. Eu sou a florzinha azul que morria sozinha e agora sorri, gotas de orvalho rolando nas pétalas, nos meus olhos, minhas raízes bebendo da minha essência. Eu sou a prosa dos caras que me olham lá do céu, eu sou o dia que desbota no azul do céu para que as estrelas cheguem e iluminem tudo com a espuma branca que ninguém vê. Eu sou o que ninguém espera que eu seja. Eu não estou sozinha, eu estou com você, comigo, com eles. Eu estou e nunca mais deixarei de estar. Eu sou e nunca mais deixarei de ser. E eu choro porque estou feliz.
.: Clara Averbuck :. 9:22 PM
Eu odeio popups.
.: Clara Averbuck :. 9:21 PM
sexta-feira, agosto 09, 2002
Seria legal se eu passasse em casa, um dia desses.
Estou no meu amigo M., é claro. Aquele que me dá comida, casa, colo, internet, droguinhas e cigarros. Ele está prometendo me levar ao cabelereiro há dias, mas nunca pode. Daí eu estava aqui, procurando uma tesoura para cortar a camiseta do Wry que o Mário me deu ontem, mas não havia uma tesoura. A não ser que esteja em algum alçapão escondido debaixo do tapete da sala, não há tesouras nesta casa. Mas há navalhas. Quer dizer, na verdade era um estilete, mas pra mim não faz a menor diferença, então cortei a camiseta e o cabelo e fiquei muitíssimo satisfeita com ambos. O cabelo ficou exatamente como eu queria. Duvido que um cabelereiro acertasse, eles nunca acertam, por isso que decidi nunca mais ir a um enquanto viver e for capaz de não ficar parecendo um repolhão. Então agora eu sou descabeladíssima, não tenho mais nada na nuca e estou feliz. E vou ali, tá tarde, eu tenho que passar no banco - porque agora eu possuo alguns reais graças ao A. - e ir pra casa porque hoje a noite será foda.
.: Clara Averbuck :. 9:17 PM
ENTREVISTÁ!
Vão ali. É a mais legal que eu já fiz na vida.
Tem um erro, só: eu cedi os direitos ao Antonio, não ao André.
Mas é isso. Leiam que tá trimmmmassa.
.: Clara Averbuck :. 9:16 PM
Daí a Mari me disse:
"Não prolongue o passado, Não convide o futuro, Não altere sua atenção natural - Não tema aparências. Fora isto, não há mais merda nenhuma"
Dza Patrul Rinpoche
Mari, eu te amo.
.: Clara Averbuck :. 8:01 PM
Informamos que a fase de isolamento chegou ao fim e que de agora em diante, sairei novamente e darei vexames em público, começando hoje, no show do TBO.
Pela atenção, obrigada.
.: Clara Averbuck :. 7:04 PM
Garçonete.
Se alguém achar um anúncio ou um cartaz em um lugar limpinho e minimamente legal, por favor, me avise.
Sério.
.: Clara Averbuck :. 7:01 PM
Não tenho dinheiro para voltar pra casa.
.: Clara Averbuck :. 6:53 PM
Certo.
Acabou todo o dinheiro de toda a minha família para toda a eternidade.
E eu vou ser garçonete. E vou virar molho ao sugo fervendo no colo do velho que me cantar. E sorrir só uma vez por semana. E usar suspensórios cheios de buttons. E morar com o Joo em um quartinho, quando acabar a minha estadia na torre. Está decidido.
E eu estou falando seriíssimo.
.: Clara Averbuck :. 5:21 PM
Isto não é meu
Ih. Andam escrevendo nos meus textos. E devem andar usando drogas com meu corpo também. De novo. The bitch is back? Homens proibidos? Meu deus, quem escreveu isso? Eu não. Não estava presente no meu corpo no momento. Mas eu é que não vou mexer, vai que quem quer que tenha escrito isso se zangue e volte, né? Melhor deixar.
.: Clara Averbuck :. 1:56 PM
HOI BIZARRE
.: Clara Averbuck :. 5:39 AM
Tem uns homens que precisam ser proibidos. Sabe, tipo dogras, assim. Proibidos por lei de exibir as costelas por aí. Não, não, não precisam nem tirar a roupa; vestidos eles já são uma afronta aos outros meninos. Vestidos, já provocam sonhos púberes na mais séria e pudica das mulheres. Não sei quanto a vocês, mas eu gosto de cérebros. Não me apaixono por pessoas, me apaixono por talentos. Frases. Textos. Pessoas são muito efêmeras, palavras ficam para sempre. E são elas que me tocam. Mas tem uns caras, tem esses caras fodidamente sexies, que dispensam isso tudo. Tem esses caras desenhados, perfeitinhos, blasés, que nem te olham na cara, que puta que pariu, tá. Poderiam ser analfabetos. Até mudos. Poderiam ignorar completamente a existência do Hank, do Iggy Pop, do Lou Reed. Poderiam simplesmente se calar e existir. É foda, viu. Proíbam esses meninos imediatamente. Ou então, passem meu telefone para eles. Para esses meninos que poderiam simplesmente existir. E digam para que eles existam um dia desses lá em casa, na minha grande cama de três colchões. Come to mama, essa foi a frase da noite. Come to mama, the bitch is back.
.: Clara Averbuck :. 5:38 AM
6 da manhã e uma kaiser bock e... nada mais. Eu e a Kaiser, só.
Eu quero o Joo.
.: Clara Averbuck :. 5:33 AM
quinta-feira, agosto 08, 2002
Façam um coro, gritem meu nome, vocês não entendem?
Eu me encontrei ontem.
Me encontrei. Eu estava perdida e me encontrei, me achei debaixo das cobertas, enrolada em um lençol, vestindo nada, meio grogue, sem entender direito o que acontecia. Me encontrei no fundo daquela taça doce que me fez flutuar e sorrir, leve e molinha e rosinha e macia.
Dancem, festejem, fiquem felizes, me mandem à merda por ter me deixado levar, me ajudem aqui com meu fecho, por favor. Vamos beber, vamos estourar outro champagne, vamos gargalhar debaixo da chuva prateada. Eu estou feliz, recuperei meus olhos que estavam sumindo dentro de mim. Me encontrei, me abraço, rodopio e fecho os olhos por causa da luz. Me encontrei, me encontrei, me encontrei. Por favor, consertem meu rosto, não consigo parar de sorrir.
Estou louca para me perder de novo.
Chegamos à segunda temporada. As vagas estão abertas.
.: Clara Averbuck :. 9:07 PM
Eu vi uma coisa bonita.
E eu chorei. Gargalhei e chorei.
Soltei a represa. Eu sou eu de novo.
Sempre tem alguém que me salva.
.: Clara Averbuck :. 6:30 PM
Atrás de todos os prédios sujos, vejo o céu mais bonito que São Paulo já me deu.
Só me resta fazer uma reverência e esperar ver mais coisas bonitas por aqui. Porque preciso ver coisas bonitas.
.: Clara Averbuck :. 5:37 PM
SAC - Serviço de Atendimento ao Consumidor
Quer falar conosco? A Elma Chips faz questão de ouvir. É só preencher o formulário abaixo ou, se preferir, ligue para o "Disk Chips" através do 0800-7034444 (ligação gratuita para todo o Brasil).
Nós temos um pessoal treinado para responder tudo o que você quer saber.
***
Prezado Senhor Ruffles,
gostaria de saber o procedimento usado para tirar o cheiro de Ruffles Barbecue dos dedos. Tentei sabão (líquido e em pó), sabonete, shampoo, água sanitária e creolina. Gostaria de um retorno imediato.
Sinceramente,
Clarah Averbuck
***
De: ruffles
Para: bitchnik@uol.com.br
Data: 08/08/2002 18:55
Assunto: Ruffles Barbecue
Prezada Clarah,
Tente usar vinagre para remoção do cheiro de Ruffles Barbecue dos dedos.
*Embora eu nunca tenha comido esse sabor de ruffles nem tenha tido o tal cheiro nas mãos, mas vinagre costuma funcionar bem pra esses casos de cheiros indesejáveis (alho, por exemplo).*
A propósito, você sabia que em 2000 foram produzidos no Brasil 12.000 toneladas de batata frita, que correspondem a 44.000 toneladas de batata "in natura"? (Elma chips também é cultura, inútil, mas é cultura :)
Agradecemos a preferência e pedimos desculpa por qualquer inconveniência,
SAC - Serviço de Atendimento ao Consumidor Elma Chips - Pepsico do Brasil
Você foi atendida por: Ruffles (Natural).
.: Clara Averbuck :. 5:31 PM
*apalpa*
*apalpa apalpa*
*passa a mão no rosto*
*no cabelo*
*apalpa apalpa apalpa*
EI!
Voltei ao normal!
.: Clara Averbuck :. 5:19 PM
Alguém aí ainda não sabe que eu agora só ouço tango? Pois é. Rola uma repressão forte por parte de Anne Sofie, mas eu ignoro. Vou embora pra Argentina dançar tango na rua, assim que eu aprender a dançar tango.
E A MÚSICA DE HOJE É...
BALADA PARA UN LOCO
(Horacio Ferrer/ Astor Piazzolla, cantado por Amelita Baltar)
(Recitado)
Las tardecitas de Buenos Aires tienen...
ese que se yo, viste? Salis de tu casa por Arenales.
Lo de siempre: en la calle y en vos...
Cuando de repente, detras de un arbol, me aparezco yo. Mezcla rara de penultimo linyera
y de primer polizonte en el viaje a Venus:
medio melon en la cabeza,
las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies y una banderita de taxi libre levantada en cada mano.
Te reis!... Pero solo vos me ves:
porque los maniquies me guiñan,
los semaforos me dan tres luces celestes
y las naranjas del frutero de la esquina
me tiran azahares.
Veni!, que asi, medio bailando y medio volando, me saco el melon para saludarte,
te regalo una banderita y te digo...
(Cantado)
Ya se que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la Luna rodando por Callao;
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... Baila! Veni! Vola!
Yo se que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrion;
y a vos te vi tan triste... Veni! Vola! Senti!...
el loco berretin que tengo para vos:
Loco! Loco! Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sabana vendre
con un poema y un trombon
a desvelarte el corazon.
Loco! Loco! Loco!
Como un acrobata demente saltare,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloqueci tu corazon de libertad...
Ya vas a ver!
(Recitado)
Salgamos a volar, querida mia;
subite a mi ilusion super-sport,
y vamos a correr por las cornisas
con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: “Viva! Viva!”,
los locos que inventaron el Amor;
y un angel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco —pero tuyo—, que se yo!;
provoco campanarios con la risa,
y al fin, te miro, y canto a media voz:
(Cantado )
Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Trepate a esa ternura de locos que hay en mi,
ponete esa peluca de alondras, y vola!
Vola conmigo ya! Veni, vola, veni!
Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Abrite los amores que vamos a intentar
la magica locura total de revivir...
Veni, vola, veni! Trai-lai-lai-larara!
(Gritado)
Viva! Viva! Viva!
Loca ella y loco yo...
Locos! Locos! Locos!
Loca ella y loco yo!
.: Clara Averbuck :. 5:08 PM
Merda.
Babai não poderá vir ao meu lançamento. Merda, merda, merda.
AÍ, VOU PRECISAR DO DOBRO DE PESSOAS LÁ PARA SUPRIR A FALTA DO BABAI. MEXAM SEUS RABOS. TODO MUNDO AQUI.
Porra.
*Snif*
Babai vai estar fazendo shows em algum lugar acima da Asa Norte. Porque segundo o Gas, da Asa Norte pra cima é Bahia e da Asa Sul pra baixo, Argentina. Ele já tinha reservado o dia pra mim, mas é claro que Murphy foi lá e mandou os homens de fusô apertadinha marcarem O ÚNICO SHÔ DO MÊS INTEIRO para o DIA DO LANÇAMENTO DO MEU PRIMEIRO LIVRO. E Babai precisa ganhar a vida, sabe. Yeahyeah, viver de arte é assim mesmo. É bom mas é uma merda.
SENSACIONAL.
AÍ, MURPHY, PONTO PARA VOCÊ. TE PEGO NO PRÓXIMO ROUND, SEU PUTO.
.: Clara Averbuck :. 4:49 PM
Calor ridículo. Ridículo.
.: Clara Averbuck :. 3:51 PM
Por que todos os blogs agora têm aquele homem-aranha go-go boy ridículo? Obrigada.
.: Clara Averbuck :. 3:50 PM
I like men who have a future and women who have a past.
Oscar, Oscar, se nós fossemos contemporâneos...
.: Clara Averbuck :. 1:43 AM
By the way I tried to say I know you from before.
.: Clara Averbuck :. 12:30 AM
quarta-feira, agosto 07, 2002
Jesus, me chicoteia! (9:58 PM) :
Cê já comprou esse CD novo dos Chilli Peppers?
Lady Averbuck (9:58 PM) :
baixei umas coisas aqui.
Lady Averbuck (9:59 PM) :
tô no repeat.
Lady Averbuck (9:59 PM) :
batucando na lasanha
Jesus, me chicoteia! (9:59 PM) :
Sei como é isso. Faz um som "plof-plof"
Jesus, me chicoteia! (9:59 PM) :
É "By The Way" o nome do disco?
Lady Averbuck (10:00 PM) :
É.
Lady Averbuck (10:00 PM) :
é tão bom
Lady Averbuck (10:00 PM) :
até o ska é bom
Lady Averbuck (10:00 PM) :
heheh
Jesus, me chicoteia! (10:00 PM) :
Cê acaba de ganhar. Me dá o seu endereço
Lady Averbuck (10:00 PM) :
OHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
PORRA, MARCO.
\o/
.: Clara Averbuck :. 10:20 PM
YEEEEEEEEEEEEAH.
Vocês conhecem o Mojo? NÂO? QUE PREGOS.
Pois ele uniu-se a nós, aqueles que apenas ESCREVEM. Olha só:
Ahh, a liberdade. Sábado é meu último dia neste emprego. A partir de domingo passarei sete semanas lacrado em casa, realizando as funções seguintes: a) terminando Orelhas que voam, livro um d'O Livro das Cousas que Acontecem; b) terminando Tanso, o romance histórico que é o livro dois do Cousas; c) editando os dois prováveis outros lançamentos da Livros do Mal para este ano (além do Cousas, claro); d) escrevendo pro Fraude e pro Popular; e) jogando Dink Smallwood. Oh, alegria. Depois disso tudo vou me concentrar em viver ainda mais espartanamente, baseando meus ganhos no que posso escrever, editar, traduzir, orientar ou ensinar. Vejamos como me saio. Não preciso de muita coisa, mesmo, além de ter preguiça de gastar dinheiro (o que me deixou com um bom FUNDO DE GARANTIA para os próximos meses). A propósito, hoje de manhã terminei de vez o rascunho do projeto gráfico do Cousas. Só faltava a capa. Vai ficar daqui, ó. Aguardemmmm.
SIM.
Mochão, eu te amo. :~
.: Clara Averbuck :. 6:39 PM
ESTOU BAIXANDO BY THE WAY. CUIDADO COMIGO DE AGORA EM DIANTE.
.: Clara Averbuck :. 6:23 PM
A coisa que mais ouço é que sou corajosa. Porque larguei minha vida em Porto Alegre, porque larguei as faculdades todas, porque me jogo de cara em tudo, porque bebo, porque fumo, porque vivo e conto tudo.
Não vejo coragem nenhuma nessas coisas todas. Talvez porque para mim seja inevitável. Não houve nenhum esforço da minha parte para que essas coisas acontecessem, é simplesmente o curso da minha vida, espontâneo e natural. Nada disso me amedronta ou me excita ou me orgulha. Simplesmente é. Foi. E vai continuar sendo.
Quando larguei as faculdades, não pensei "oh, meu futuro está em jogo, minha vida, o diploma, a carreira". Pensei "isso é chato, não quero mais".
Quando vim para São Paulo, não foi pensando em ganhar dinheiro, fama, gatas de microssaia ou entradas vip. Eu simplesmente tinha enchido o saco da minha vida lá e quando olhei para frente, vi São Paulo. Poderia ter sido o Rio de Janeiro ou Nova York, Londres ou Abu Dhabi, qualquer lugar. Mas era São Paulo que me chamava, então eu vim. Claro que sempre falava em encher o cu de dinheiro, mas era mais piada do que qualquer coisa. Mesmo que eu trabalhasse, coisa que não pretendo fazer (a não ser que arrume algum emprego de garçonete que ocupe pouco ou quase nada da minha cabeça), teria mil planos antes de ter mil reais, o que inviabiliza totalmente esse negócio de ter dinheiro. É claro que eu gostaria de ter dinheiro, de viajar, de consumir, comprar aquele duplo do Lou Reed que vi na Benedito Calixto, o catálogo inteiro da Black Sparrow Press e da Soft Skull, um monte de Barbies, um sofá decente e óculos novos. Mas entre precisar alugar meu tempo e minha cabeça e esperar até cair alguma herança dos céus enquanto moro de favor e vivo de barras de cereal e diet shake, não preciso nem pensar. Fico com a minha vida, obrigada. Às vezes é uma merda não ter dinheiro para comer decentemente ou sair ou levar minhas botas gastas no sapateiro ou comprar creme para os cabelos, mas que diabo, passa. Sinto falta de ter um vídeo e alugar filmes, de ir ao cinema, de um monte de coisas, mas não chega a ser um drama. Não ligo muito para glamour, até porque posso pegar o dos outros emprestado quando preciso.
Sabe, eu fui feita para ser livre. Não poderia, não conseguiria trabalhar em uma redação ou em qualquer lugar com horários e regras e chefes e essas coisas todas. Tem gente que consegue, acho lindo, mas não é para mim. Como disse o Abujamra no prefácio, estou condenada a ser livre. Só consigo ser assim, é minha índole, alguma coisa me manda ser assim e eu não posso nem quero ir contra. Faço o que acho que tenho que fazer. Sempre tem a turma do "mas você é jovem, isso vai mudar, você vai cansar". Certo. Quando eu for velha, isso mudar e eu cansar, a gente conversa. Agora não, tenho dentista, vou ali. Olha, eu sei, tenho certeza de que estou no caminho certo, tudo conspira a meu favor, as coisas acabam dando certo mesmo quando dão errado. Então eu continuo, às vezes meio grogue das porradas que a vida me dá e que não têm nada a ver com dinheiro, às vezes meio manca, fraca, triste, de qualquer jeito eu continuo indo para a frente, porque é assim que tem que ser. É assim que eu sou e não há nada que eu possa fazer a respeito além de continuar sendo.
(Ao som de To Record Only Water For Ten Days, John Frusciante)
.: Clara Averbuck :. 5:32 PM
Insônia.
Maldita insônia.
Tudo me irrita.
O relógio. O elevador. Os carros lá longe, muito longe. Os aviões. Meu braço, minha cama, meu travesseiro. Meus dentes. Não tinha mais como ficar deitada, era impossível. Para melhorar, quebrei o jota do teclado ontem, enquanto tentava limpar os gatos que ficaram debaixo das letrinhas. Meu teclado está parecendo um mendigo desdentado, sem o jota e sem o insert. Mas o insert fui eu que arranquei, porque não servia para nada e só incomodava. Odeio insert. Arranquem seus inserts e me mandem, estou fazendo uma coleção. Ai, que saco. São 6'18 da manhã e tudo que eu vejo e ouço lá fora é cinza. Cara, eu detesto guardadores de carros que assobiam. Por que eles têm que assobiar? Eles não desconfiam que as pessoas podem eventualmente acordar com os malditos assobios altos deles? O que eles querem, afinal? E por que eles usam uma variedade de silvos longos e curtos? É alguma espécie de código? Será que eles são uma máfia? Eu acho que são. De qualquer forma, gostaria que todos parassem de assobiar agora mesmo, obrigada. Eles e os pássaros. Aposto que foi um pássaro estúpido que derrubou minhas margaridas suicidas, o que as tornaria imediatamente margaridas assassinadas. Mas algo me diz que não. Tenho a impressão que elas fizeram um pacto. Envolve me deixar na dúvida para sempre e tentar acertar os manés do bar ao lado que falam gracinhas para todas as pessoas do sexo feminino que passam por ali.
Porra, eu estou com sono. Minha cabeça dói. Tenho coisas a fazer hoje, milhares delas. São 6'27 da manhã, o dia fica cada vez mais cinza, não consigo dormir e nem internet possuo. O dia em que eu possuir internet de novo, terei tantos emails não respondidos que vou precisar de um assistente. Eu quero responder, quero responder direito, não só uma linha, tem aquele da moça que falou do vestido, tem o do outro rapaz do Rio que conhece um dos Jotas, tem tanta gente legal me escrevendo emails enormes, mas não posso, não tenho como ficar respondendo emails enormes em cybercafés caros, feios, bobos e cheios de japonesinhos gritando e jogando Counter Strike.
Opa, opa. Tem um risco rosa no céu. Nem tudo é cinza, ainda há esperança, mesmo que eu não consiga dormir de maneira alguma. Tentei contar gatinhos. Tentei relaxar, começar pelo pé e ir subindo, mas quando chegava o cotovelo eu já tinha me desconcentrado. Tentei pranayama, tentei tudo. E nada do sono vir. Tudo me irrita. Tenho vontade de quebrar o elevador. Chutar os relógios. Arrancar meus dentes. Depenar meu travesseiro, furar os pneus dos carros e jogar latas nos aviões. 6'42 da manhã, puta que pariu, puta que pariu. Acho que vou fazer cooper. Não, eu não vou. Só queria parar de morder as bochechas, de bater o pé na parede, de pensar. Parar de pensar. Olá, eu sou um vulcãozinho. Você quer ser meu amigo? Por favor, alguém bate com um tacape na minha cabeça e me faz dormir. Eu não agüento mais. Já sei, já sei, vou deitar e pensar no filme japonês interminável que fui ver hoje. Nunca acabava. Depois da vida. Meu deus, como era chato. E longo. Tinha umas 14 horas, mais ou menos. E uma recepção do lado de fora, com direito a Bruna Lombardi,
flashes, descolados e vinho. Muito vinho. Ninguém quis ficar lá comigo, daí eu roubei uma taça de vinho e ganhei uma carona até em casa. Viemos ouvindo o novo do Chili Peppers. Quem fala que parece o Californication é porque não ouviu Chili Peppers suficiente na vida. Eu gostei, tá. Eu quero. Eu preciso. Algo me diz que esse disco vai salvar minha vida. Não tenho critérios com eles, admito, amo os caras, amor incondicional de primeira banda amada. Mas agora eu vou ali lembrar do conceito de pós-vida daqueles japoneses chatos. Já estou quase ficando com sono, só de lembrar. Vai funcionar, eu sinto. Boa sorte para mim, vou tentar desligar o cérebro e já volto.
[:]
Oh, não. Nem os japoneses me fizeram dormir. 7'50 e eu resolvi apelar: cá estou eu abraçada nas sobras do champagne de ontem. Ganhei champagne ontem. Não sei como sobrou, mas ainda bem que sobrou. Estou bebendo para dormir. Porque champagne me deixa molinha, levinha, com vontade de deitar e fechar os olhos e rir. Champagne é doce como uma flor, acaba todos os meus problemas. Se não fosse tão caro, eu seria uma alcoólatra de champagne.
[:]
Meu deus, não é possível. Tem alguém passeando de elevador por aqui. Nunca um elevador subiu e desceu tantas vezes em uma só manhã. A não ser que tenha rolado um revezamento para a compra de pão, cigarros e leite de todos os membros de todos os apartamentos. Quando um está chegando, o outro já espera na porta e assim por diante. Andar por andar. É a única explicação. Só me resta travar o elevador aqui no topo e botar o colchão na porta. Pronto. Resolvido. Claro, eu sou realmente brilhante. Parece um plano infalível do Cebolinha.
[:]
O champagne não funcionou. Ao sinal, 8'23. O dia está cegantemente claro, o sol bate nos prédios e franze minha testa e meus olhinhos de míope. Acho que vou chorar. Tentei de tudo. Tudo. É o fim. Eu nunca mais vou dormir hoje, já entendi tudo. Acontece que não tem a menor graça assim, isolada. É legal quando meus amigos começam a surgir no icq, chegando no trabalho, perguntam "caiu da cama ou virou" e eu digo "pergunta idiota" e eles dizem "óbvio que não dormiu" etc. Então eu leria jornal, baixaria músicas, provavelmente o novo do Chili Peppers, que ouviria incessantemente pelos próximos 2 meses e infernizaria todos à minha volta cantando bem alto e batucando nas coisas, responderia emails, escreveria em todos os meus 80 blogs, voltaria a escrever no meu brazileira!preta - porque os outros são projetos paralelos -, postaria freneticamente, sairia no solzinho, voltaria, leria um pouco, brincaria com o Joo e finalmente ficaria com sono e dormiria feliz. Eu dava um rim para estar na Vila Madalena agora. Esse lugar aqui não tem a menor graça, não tem casinhas nem pracinhas e tem altas cara de São Paulo. Olho pela janela e vejo um bilhão de prédios até onde a vista alcança, o horizonte é feito de prédios, que coisa horrorosa, eu quero voltar pra Vila Madalena. Quero morar no mato. Na praia. Em NY, que compensa o fato de ter prédios. QUALQUER LUGAR. Aqui não.
Olha a mina que mora de favor reclamando.
Ai não.
Sentiu saudades? =D
Nem um pouco.
Ingrata.
Pentelha.
Vai dormir.
Tô tentando.
Tenta mais.
Não consigo.
Claro que consegue.
Sabe, eu não queria começar isso.
Então não fala sozinha.
Eu nunca falo sozinha. Você sempre responde.
Quem mandou nascer em maio? Devia ter nascido em junho, ninguém mandou ser apressadinha e nascer de 8 meses.
Não foi minha culpa.
Oh, não. Foi minha, decerto.
Qual é a diferença?
A diferença é que eu faço sentido.
Eu disse que não queria começar isso.
Então fica quieta que eu também fico.
Filha da puta. Você sempre faz isso pra ter a última palavra, né?
O que eu posso fazer se minhas respostas calam a sua boca? Haha.
...
Viu?
Leve-me, Senhor. Como se muda de signo? Senhor, mudai meu signo.
Mudai nada, você me ama.
Eu não queria começar isso.
Então termina.
Terminei.
Já te disse que os seus finais são sempre uma merda?
Cala a boca.
Não fica putinha.
Eu vou chorar.
Ohh. Deita aqui, vai.
Chuif. Eu só queria dormir.
Dorme, eu canto pra você.
Não quero.
Vou cantar "Conceição".
Não, pára. Eu não gosto.
Conceição...
Buááá
Viu? Não é tão ruim assim ter insônia.
O seu humor é doentio.
Obrigada. Aprendi com você.
Eu vou dormir.
Pô, não vai ouvir o fim da música?
Boa noite.
[Fade]
.: Clara Averbuck :. 5:32 PM
Opa.
.: Clara Averbuck :. 5:31 PM
terça-feira, agosto 06, 2002
Atenção!
Sua caixa ultrapassou 70% da capacidade máxima. Caso seja atingido o limite, você não poderá mais receber mensagens. Para evitar que isso aconteça, você deve liberar espaço em suas pastas.
Meu saco.
Na dúvida, escrevam para bitchnik@uol.com.br.
.: Clara Averbuck :. 7:35 PM
POEMA EM LINHA RETA
Álvaro de Campos
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
.: Clara Averbuck :. 7:21 PM
Saudades. Vou chorar.
EU QUERO O MEU GATO.
.: Clara Averbuck :. 7:10 PM
Não tenho nada a declarar. Vou postar fotos. Muitas fotos.
.: Clara Averbuck :. 7:09 PM
Meus amiguinhos. Isso foi sexta. Tô com preguiça de contar. Vejam aqui e aqui.
.: Clara Averbuck :. 7:04 PM
.: Clara Averbuck :. 6:08 PM
Você me deu um buquê de flores, as flores mais lindas que eu já vi. Mas elas foram murchando e murchando e eu regava e regava e não entendia porque elas continuavam a murchar. Dei sol, chuva, terra e água. Dei amor, dei luz, dei rua e teto. Cortei meus pulsos, talvez elas precisassem de sangue. Tentei de tudo. Nada adiantou.
As flores que você me deu estavam mortas, meu bem.
.: Clara Averbuck :. 5:48 PM
As margaridas suicidas
Achei uma coisa e abri o champanhe e abracei todas as palavras como pude, todas ao mesmo tempo, com toda a força que eu tinha na época e que surgiu agora, do nada, para desaparecer de novo assim que abri os olhos.
Cedo demais, cedo demais.
Meu deus, como era lindo, como as coisas são lindas quando são puras.
Quero voltar no tempo agora. Agora. Agora!
Ah, não dá?
Então eu vou dormir. Há uma semana que sonho o que deveria estar acontecendo. Não quero acordar, estou cansada, a realidade se mistura com o pesadelo e com os sonhos bestas e eu apenas assisto, sem desviar o olhar. Virei mais uma espectadora da minha própria vida.
Hoje as minhas margaridas cometeram o suicídio. Atiraram-se da janela do 13o. andar, todas juntas, as margaridas suicidas. Talvez elas estivessem tentando matar alguém, margaridas kamikases. Jamais saberei. Cheguei em casa, a janela aberta, o pratinho sozinho, sem as margaridas suicidas que espalhavam-se pelo chão, mortas. Hoje eu vou rezar por mim, por você e pelas margaridas que se atiraram todas juntas sem nem me deixar um bilhete. Hoje eu vou dormir com gosto de champagne e a doçura que o passado andava me escondendo em arquivos velhos e meio perdidos. É tão bom lembrar da doçura do que tornou-se amargo. É tão bom. São 5 da manhã, os ônibus já acordam as ruas, todos indo trabalhar, mais um dia, mais uma dose, mais um dia sem você, mais um dia sobrevivendo, acho que estou melhorando, o que você acha? Eu acho que estou melhorando. Boa noite, você não me ouve, boa noite.
.: Clara Averbuck :. 5:22 PM
|