quarta-feira, agosto 21, 2002
Engraçado.
Quando eu era jovem, bem jovem, quando tinha uns 13, 14, 15, 16, 17 anos, eu era a esquisitinha. A aberração. Aquela que não tem o tênis igual ao das outras garotas. A que plantaria uma bananeira sem constrangimento no meio do pátio do colégio, se soubesse plantar uma bananeira e ficasse com vontade. Que fazia coisas estranhas, falava coisas estranhas, gostava de música e de escrever. Freak. Esquisita. De camiseta dos Ramones, piercing no nariz, tatuagem no braço e cabelo roxo no colégio São Judas Tadeu, aos 13 anos. Sendo apontada pelos idiotas como "traficante" aos 15, no colégio São João. Foi o único ano da minha vida adolescente em que não usei drogas. Chamaram a minha mãe. "Sua filha..." Minha mãe não estava nem aí. Para eles, é claro. Ela me conhece melhor do que qualquer um. E assim foi toda a vida escolar. Esquisita. Nariguda. "Não fico com essa garota nem depois de uma garrafa de velho barreiro". Ficou. Sóbrio, diga-se de passagem. Mas só uma vez. Hoje faz medicina. Eu gostava bastante dele. Mas era esquisita. Gorda. Depois, magra. Mais gatinha, até. Puro osso, devo confessar. 18 anos e 50 quilos. Caí na real e me deixei ganhar carnes novamente. Vida de sanfona, variação de 25 quilos, um monte de estrias. Quase gosto delas. São minhas digitais. Aposto que ninguém no mundo inteiro tem uma estria igual à minha da coxa esquerda. Um estouro. Motivo de piada entre os populares da escola, sempre. Eu, não a estria. "Essa guria..."
Tá.
Agora, será que alguém por favor poderia me informar quando a esquisitinha virou "show woman" e "cool"? Não, porque é assim que andam me vendo. Cool. A mesma pessoa, exatamente a mesma pessoa. Mais velha, com o cabelo mais curto, menos peito - um quilo a menos, uma cicatriz a mais. Exatamente a mesma pessoa. O que aconteceu? O mundo mudou? O patinho feio desabrochou? Acho que não. Meu nariz está cada vez maior. E olha que eu nem minto muito. Só por esporte. A mesma pessoa, ouvindo as mesmas coisas, lendo as mesmas coisas. Mais tatuagens. O coração esmagado umas 10 vezes. A mesma pessoa. E depois eu é que sou estranha.
.: Clara Averbuck :. 11:42 AM
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