i gave my life to a simple chord

sexta-feira, julho 12, 2002

Sobre o céu e inferno e os monges e as mentiras e o destino

Quero entender porquê.

Porque você faz isso, porque rouba palavras do ventre alheio para formar as tuas próprias e atirá-las às porcas para depois vê-las morrendo de fome e de dor, porque tudo que sai da tua boca tem o veneno da mentira causadora do pior dos sofrimentos.

Porque você engana a todos de novo e de novo e ainda encontra outros para enganar, e sempre encontrará, porque é tão verdadeiro na sua falsidade que está além de qualquer julgamento.

Porque você escolheu esta vida morta, inútil, corcunda, feia e estúpida.

Porque simplesmente não se rende à sua essência, à sua índole. Querido, me escuta, pela primeira e última vez, me escuta. Você não pode fugir do que está nas tuas vísceras, não pode fugir de si mesmo. Vai acabar louco, amarrado, infeliz em algum canto, se balançando e se arrependendo da sua vida de merda. Vai acabar sem nada, sem ter onde morrer, sem filhos, sem herança, sem vida, sem legado e sem amor. Sem amor. Teu maior medo é ficar sem amor, e no entanto, é assim que tem vivido. Sem amor. Nega o amor que tentam te dar por medo de perdê-lo. Medroso, confuso, perdido no mar de mentiras que criou para se enganar. Nunca vi ninguém se enganar como você. E consegue enganar aos outros também, tão fáceis e manipuláveis que são. Só assim o engano se completa. Você precisa dos outros, teme críticas, preza opiniões dos inúteis e dispensáveis, que mantém à sua volta só porque precisa ser louvado o tempo todo.

Cuidado com o louvor, meu querido.

Me escuta pela segunda e última vez, cuidado com o louvor, cuidado com as mentiras, porque elas cairão todas de uma vez na tua cabeça, te esmagando, te sufocando, te matando, e você não terá para onde fugir, para onde olhar, para quem gritar, porque os fracos nunca permanecem quando o céu desaba. E não adiantará olhar para cima. O céu está vazio. O céu não aceita mentiras, não aceita arrependimento temporário. O céu não vai te aceitar se você continuar tentando enganar a deus se dizendo monge. O céu está vazio para você.

Então me escuta pela terceira e última vez, não foge de si mesmo, não foge da tua alma, da tua essência que te faz ter o poder sobre os fracos. De nada serve ter poder sobre os fracos se não consegue controlar a si mesmo. Pára, pára, PÁRA! Pára e olha para a sua vida, olha para o que queria quando teu sangue era quente, quando fervia nas tuas veias. PÁRA! Pensa no que te faz respirar, no que te fez criar as manhãs mais líricas da tua vida, não, não sou eu, é o que tem dentro do teu peito, teu coração que nunca pára, o filho da puta não pára, então pára! Pára de gelar teu sangue, pára de cortar a tua circulação, pára de se matar aos poucos com essa mediocridade que te cerca, PÁRA! Por favor, pelo amor de Bunker Hill, PÁRA! PÁRA! PÁRA E ME ESCUTA! Coragem, meu querido, você só precisa de coragem, só precisa levantar a cabeça e não ter medo do fracasso, não ter medo de voar, de se atirar no poço mesmo sem saber o que te espera no fundo - água ou pó. Porque o pó já está te sufocando, então tenta, TENTA, arrisca, você não tem nada a perder, tenta se atirar no poço e lavar toda essa sujeira, esse pó grudado em todo o teu corpo, tenta ser puro e fazer o que tem que fazer, porque você sabe, você sabe que precisa disso tanto quanto eu, mas foge, faz tudo errado, vive de destruir a vida das putas virgens e loucas, de marcar peles brancas com pregos enferrujados, pára, PÁRA, PÁRA! Vive, pára de morrer, pára de se matar, pára de tentar não respirar! Quero gritar, gritar por todos os poros, pedir ajuda pra te chacoalhar, pra te acordar dessa vida morta que você escolhe todos os dias. Arranco meus cabelos, enlouqueço, não posso te ver assim, não posso, não devo, servirei para isso, para te acordar, para te livrar desse pântano fétido onde você se enfiou e insiste em afundar e afundar e afundar e se agarrar na gola dos que não se afundam e tentar levá-los junto no teu desespero de saber que pode mas não é capaz de fazer. Faz. Faz. Faz. Pára e faz. Pára tudo e faz. Você precisa disso, precisa fazer antes que seja tarde, então faz, faz agora, faz rápido, sangra, se corta, morre de dor, grita e quebra tudo, todos os vidros e amarras, estraçalha todos os ouvidos junto com as correntes, TE LIBERTA, faz agora, rápido, lento, lindo, corrói o mundo com ácido, faz, faz, faz, urra, grita de dor e de prazer, vive de verdade, vive na verdade, seja livre, você pode, você TEM QUE FAZER. Tem que querer. Sofre de verdade, não só por fora. Explode, meu querido, brilha e depois apaga, mas brilha, por favor, por mim, por você, pelo mundo, por todos que virão depois de nós, FAZ. Ou eu te perseguirei pelo resto dos teus dias, serei um anjo do inferno berrando na tua cara até que você faça, até que tenha a coragem de viver de verdade. Você não me engana, pode enganar o mundo inteiro até o fim, mas a mim você não engana, porque conheço a tua alma melhor do que você mesmo, que quer ser cego. Você não me engana. Tremo, me mordo, ranjo os dentes no desespero de te acordar, te salvar, salvar o mundo junto porque você tem o que todos gostariam de ter mas escolhe ignorar. Você não pode fazer isso. Não pode, não vai. E não haverá fim, não haverá paz até que você faça. Talvez assim encontre o amor que tanto quer, que tanto almeja, que tanto te atormenta quando se permite lampejos de lucidez insana. Não haverá fim, não haverá paz, só cinzas e solidão e vazio até que você faça. Então faz. Faz. Faz agora, antes que agora passe e só te reste olhar para trás e virar uma estátua de sal, inútil, imóvel, sem nada, até que a chuva te dissolva e tudo acabe. Faz, antes que me deixe louca, ainda mais louca. Faz. Faz agora. Abre os olhos enquanto dá, antes que seja tão tarde que a única coisa que te restará serão memórias no futuro do pretérito. Faz. Antes que o nada te engula e você flutue para sempre entre escombros de nuvens, morto, completamente morto e inerte. Faz. Agora. AGORA! Experimenta o êxtase antes de morrer, preciso te ver sozinho como o moribundo vendo um anjo e desistindo de lutar com a morte, se entrega, abre os braços para o teu destino, você não pode fugir dele. Não pode. Se entrega. Você só precisa dar um passo à frente. Se entrega, você não pode brigar com o que já está escrito. Desiste e se atira. Será a coisa mais fácil da sua vida. Se atira. Estamos esperando, olhando para cima, esperando o baque surdo do seu corpo na terra a qual ele pertence. Vem, me dá a mão, esquece o medo. Pula. Agora. Já. Pula. Estamos te esperando aqui em cima.

.: Clara Averbuck :. 4:59 PM

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