quarta-feira, julho 24, 2002
Curta-metragem
Dandy. Um autêntico dandy. Sendo assim, é claro que me ignorava. Nem me dava chance. Eu não era, não sou dandy. De qualquer forma, não queria chegar muito perto. Ele não era de chegar perto. Não que fosse sagrado, nada disso. Nenhum respeito, nenhuma devoção. Apenas feito para ser assistido de longe. Não sou magra e cool o suficiente para estar ao lado dele. Sou real demais, visceral demais, e ele é cool, ele pega leve, jamais iria até o fundo. Um autêntico dandy, cheio de pose. Lindo, lânguido, macio de olhar, perfeito e esquálido com seu nariz de homem glam. Ele nunca perde a linha. Se chora, é em silêncio, com os olhos baixos. Jamais gritaria. Nunca tropeça ou derruba um copo. Ele flutua, quase perfeito. Feito para ser assistido de longe. Fumo meu cigarro à sombra do meu anonimato enquanto ele coexiste com seus semelhantes. Por favor, fique longe de mim. Sou apenas uma espectadora, não podemos conversar, não podemos sequer nos olhar. É como se fossemos de dimensões diferentes. Eu aqui, ele lá. Termino meu uísque, deixo o copo vazio na mesa e vou embora. Ele beija a garota. As luzes acendem. Belo filme. Amanhã eu já esqueci.
.: Clara Averbuck :. 9:26 PM
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