sexta-feira, julho 12, 2002
A certeza da certeza faz o louco gritar
[11/7]
Aiai.
Olha, eu nunca vi tanta coisa dar errado na vida de um ser humano. Depois, pra compensar, ganho uma casa grátis por uns meses, essas coisas assim. Minha vida precisa ser medida pela escala Richter.
Eu sabia que essa casa aqui estava perfeita demais para ser verdade. Eu sabia. Agora, fim da tarde de quinta-feira, desatou o pagodão no Bar dos Amigos aqui na frente. Mas não vou reclamar, não posso. Não posso reclamar de nada. É o melhor apartamento em que já morei. Tudo funciona perfeitamente, não estou acostumada. Tem até telefone. Mas é claro que meu modem está queimado, então não adianta.
Ontem de manhã eu gastei 11 reais que não possuía. Passei em uma banca e vi o disco ao vivo do Lobão, Uma Odisséia no Universo Paralelo, pedindo para ser levado para casa, piscando para mim. E você sabe, não posso ver um disco piscando que vou lá e compro. Comprei, é claro. E não me arrependi um real disso. O Lobão é que nem vinho: quanto mais envelhece, melhor fica. Ainda não li a carta que saiu na Folha ontem, depois eu pego, mas confio no Lobão. Aliás, parece que ele é meu amigo. Meu melhor amigo. Ele me entende, somos da mesma coleção. No pacote-encarte-pôster desse disco, onde ele está a cara do Joey Ramone, está escrito "because the only people for me are the mad ones", uma citação do Kerouac. Lindo. Sabe, ele não tem o menor medo de dar a cara pra chutar. E ninguém chuta. Ninguém tem coragem de ir até a luz e chutar a cara dele, porque teria que mostrar a cara também e essas pessoas chutonas são todas cagonas demais, só fazem as coisas anonimamente, achando que abafam.
As letras dele são absolutamente foda. Ele deveria lançar um livro com elas.
Uma, duas, três, já eram quatro da manhã
E eu andando por aí desde que anoiteceu
Perambulando na calçada, de bar em bar
Tentando achar alguma coisa pra me esquecer
Me distrair ou amanhecer
Ou alguém legal pra me abandonar
Pra enlouquecer, um pouquinho talvez
Ou então, sei lá
Foi aí então
Que eu te encontrei
Absolutamente pronta pra arrebentar
Com os corações dos desavisados
Procurando alguma presa pra estraçalhar
Parei e pensei, filosofei
Há sempre uma outra pose por trás de quem posa
Mas ela posa bem
E como animal rastejador te perguntei
Tá afim de ir prum universo paralelo?
Tá afim de arrebentar num universo paralelo?
Você topou, que bom
E me propôs agilizar rapidamente nossa locomoção
Chamar um avião pra se mudar de vez
Pro tal do universo paralelo
E nada ficou com início, meio ou fim
O mundo parou, descontinuou, mudou
Então
Como foi?
Legal
Que bom, como eu gosto de te ver assim
Assim, assim, assim
Foda. Foda. Foda.
Estou sempre arrastando os outros para universos paralelos.
Menina, ela era tão menina... Este é o hino da criança junkie
Hino da criança junkie. Sensacional. Amo esse cara.
Eu era apaixonada pelo baixista do Lobão quando tinha 11 anos. Ele obviamente ainda não era baixista do Lobão, mas era amigo do filho da produtora do meu pai. Fomos todos para a praia juntos, ficamos em uma casa foda na Praia da Pinheira, em Santa Catarina. E eu me apaixonei por ele, que devia ter uns 17 anos. E escrevi no meu diário. E os putos acharam meu diário e leram no meio da sala. Eu quis morrer, sumir, me afogar no mar. Não consegui olhar direito para ele depois disso. Nos encontramos depois de 200 anos no Abril Pro Rock do ano passado, quando tirei essas fotos aí embaixo. Não tive mais vergonha.
Sei que estão pequenas, mas as originais estão perdidas em Porto Alegre com o resto da minha vida.
Tenho tantas coisas pra escrever sobre o Lobão. Mas agora tenho que ir, preciso estar na MTV em 45 minutos. É. Vou no Meninas Veneno, falar da única coisa que me chamam para falar: sexo. Não agüento mais isso. A pessoa passa a vida lendo e ouvindo música, pode falar para sempre sobre isso, mas só me chamam pra falar sobre dar e sobre tamanho de pau. Saco. Mas tudo bem, tudo bem. Vou ali, mostrar a cara. Porque mostro a cara sem nenhum medinho. Não tenho medo de nada. Só de cachorros, às vezes, mas até eles andam gostando de mim ultimamente. Deve ser o cheiro do Lobão.
...
Voltei. Foi legal, sabe. Achei que seria micão, mas tinha só meninas legais. Os caras eram machistas. Todos. Um deles era pouco machista, mas é impressionante como os caras se prendem a conceitos-avó e papéis, do tipo "o homem tem que chegar na mulher". Blá. Um deles quase foi linchado, só falou merda. Mas assim, muita merda de verdade. Não sei quando vai passar, parece que é terça.
Claro que teve um mico. Imagina se não teria. Estavam gravando um quadro pro Piores Clipes com Foguinho, aquele mesmo. Ele estava procurando emprego. Tentei fugir, mas não rolou. Espero que cortem a minha parte.
Minha cabeça dói. Muito. Preciso dormir, falei com o Homem do Carreto Barato e amanhã de manhã, finalmente, trarei todas as minhas coisas.
O inferno não tem internet, tenho certeza. Ou tem um monte de modems queimados.
Fiz um roteirinho trimmmassa. Eu e o Perna tivemos a idéia uma vez no metrô e enquanto esperava na MTV, escrevi o roteirinho. Ficou legal. Não vou postar porque sei que tem um monte de gente roubando minhas idéias por aí. Chato, isso de roubarem minhas idéias. Mas tudo bem, cada um que se entenda com a sua consciência. Sem contar que tem uma fonte inesgotável na minha cabecinha. Deve ser por isso que ela dói tanto.
Meu celular não funciona. Não rola. Preciso de uma antena nova, minha chave de fenda fica caindo dentro da bolsa e ninguém consegue me ligar e minha caixa postal fica entupida.
Ai. Minha. Cabeça.
Preciso ir. Saco. Ninguém consegue escrever com a cabeça latejando.
Olá, vazio.
Boa noite, leitores que só me lerão sei lá quando, já que não posto nada há uns quatro dias.
Boa noite, Lobão.
Olá, vazio.
Você nunca vai me deixar em paz?
.: Clara Averbuck :. 4:31 PM
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