sábado, março 30, 2002
A Revelação
Primeiro, foi o cabelo. Loiro. Eu, a metida a smartass girl, pintei o cabelo de loiro por livre e espantosa vontade. Eu não sou loira, como o iludido leitor pode vir a crer ao dar de cara com o meu carão ali em cima. Eu sou morena. Quer dizer, acho que sou morena, porque desde os treze anos que surro meu pobre cabelo com as mais diversas tinturas. Não lembro muito bem a cor do meu cabelo, apesar de sempre manter minhas raízes negras - entenda como quiser. Mas eu era morena. O que, vamos combinar, não quer dizer nada, porque a tiazinha também é e isso não a impede de cometer as maiores barbaridades faladas, que não poderiam ser atribuídas à mais platinada das loiras, que era o que eu tinha decidido me tornar. E me tornei. Loira. E gostei.
Depois, comecei a freqüentar assiduamente a cadmía até caber nas minhas calças, que não passavam nem pelas minhas grandes ancas. Até caber nas calças que hoje insistem em ficar caindo, o que me deixa furiosamente feliz. Na minha adolescência, há distantes três ou quatro anos, jurei nunca freqüentar uma cadmía em toda a minha existência. Eu era contra. A gente tem que tomar algumas posições na vida, você sabe. Acontece que jurei também caber nas minhas calças e o método junkie simplesmente não funcionava mais. Meu corpo entrou de greve, e das brabas. Ele estava decidido a se parecer com uma GOTA até que eu tomasse vergonha na cara e fizesse alguma coisa legal por ele. Então, eu fiz. Entrei na cadmía e de lá não saí. Nem pretendo. Me faz bem, faz bem pra minha cabeça e pro meu corpo. Meu corpo, tão maltratado pelas anfetaminas e pela vódega e pela falta de sono por mim, sua dona inconseqüentezinha, está feliz. Meu fígado sorri agradecido cada vez que como alface e bebo água e como maçãs. Eu estou feliz. Eu caibo em todas as minhas roupas e até nos meus biquinis.
Isso eu descobri hoje de manhã, quando vim para o QG Surra de Pao Mole com o Sr. e a Sra. Surra de Pao Mole e meu ex-namorado-atual-amigo Pat, que não curte ser chamado de Pat, mas não há nada como provocar ex-namorados com apelidinhos de casal usados em idos tempos, então ele vai ter que se acostumar a ser chamado de Pat por aqui. Hey, Pat! Então, depois de uma tarde horrível (uma das piores de todos os tempos), uma noite esquisita e uma madrugada regada a esguichos de serotonina enquanto eu me esparramava no sofá ouvindo Dandy Warhols e vendo o seriado GUEI Batman & Robin (porque aquilo é muito GUEI, cara. Passamos mal rindo ontem do duplo sentido dos diálogos dos mocinhos), demos uma volta de carro por São Paulo e tomamos um puta café. Depois passamos lá em casa e eu alimentei o Joo (e PJ e o Jimi, coitadinhos, tão rejeitados os dois negros da casa que formam um gueto enquanto eu mimo o Joo até o último fio de bigode fofo dele) e pegamos - eu e o Pat - nossos trajes de banho e viemos para a piscina do QG SPM. E ficamos das oito da manhã às quatro da tarde conversando tudo. Eu precisava. Muito. Não me sentia tão bem, leve e calma há muito tempo. Mas espera, antes dos assuntos sérios, preciso dividir algo. É sério também.
EU TENHO MARQUINHAS DE BIQUINI.
Tenho CERTEZA que você, caro leitor, cara leitoa, não entendeu a gravidade. Eu passei a vida inteira fugindo do sol como quem foge do cartão Mais. A vida inteira. Só UMA vez, quando fui pra Recife e perdi a noção do tempo e da realidade e fiquei quatro dias sem dormir no Abril Pro Rock do ano passado é que tive minhas primeiras marquinhas de biquini, devidamente registradas em foto. Depois, continuei fugindo e condenando minhas amigas quando elas ficavam orgulhosas de suas marquinhas e vinham correndo me mostrar. Bagaceiro, eu achava bagaceiro, playmate, feio mesmo. Era contra. Muito contra. Nos outros e em mim. E agora eu tenho marquinhas de biquini. Eu tenho. E gosto delas. Estou orgulhosa delas. Não são assim marquinhas leves, imperceptíveis, que a pessoa tem que franzir o nariz pra enxergar. São verdadeiras marquinhas de biquini. Autênticas e muito bem definidas, as minhas marquinhas de biquini. Eu caibo no meu biquini e ele deixa marquinhas e agora eu não sou mais translúcida. Estou bronzeada. Inacreditável.
Então é assim: pintei o cabelo de loiro, entrei na cadmía e gostei e sou bronzeada e estou feliz. Três coisas das quais eu fugia, não sei bem porquê. Agora nem sou mais loira, meu cabelo é algo entre uva e maravilha, mas não interessa. Passei no teste. Meu cérebro continua intacto, e o que é melhor, funcionando que é uma beleza, mesmo que a Circle Line se recuse a parar de girar. Não, meus amigos. Loiras, cadmías e marquinhas de biquini não são assim tão ruins. Ruim é se estereotipar. Pra mim, deu.
.: Clara Averbuck :. 10:01 PM
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