terça-feira, março 26, 2002
One more little taste
Chega de teaser do Máquina de Pinball, né? Então vamos para a segunda fase. O Rapaz não gostou do nome do livro novo mas também não sugeriu nada, então vai ficar isso mesmo até surgir algo melhor. Começa assim:
I.
Era o terceiro aviso da imobiliária que eu e Márcio recebíamos. Isto significa que seríamos despejados se não pagássemos os dois meses atrasados e o que venceria em dois dias. Tínhamos 1/5 da grana, e apesar da landlady ter se mostrado uma velhinha simpática ao mandar arrumar algumas das goteiras do meu quarto, tinha virado uma vaca histérica que me ameaçava ao telefone diariamente. Não adiantava berrar, eu simplesmente não possuía reais para o aluguel e fim. Isso sem somar as contas de luz e telefone, também ignoradas. A geladeira estaria vazia se não fosse meia garrafa de vodka barata que balançava toda a vez que abríamos a porta. Ficar sem dinheiro é uma merda muito grande. Só tinha uma coisa a fazer: beber a outra metade da garrafa, desmaiar na cama e me preparar para acordar cedo em meu último dia de trabalho.
Quando fui chamada para trabalhar naquela loja de discos, achei ser o emprego que passei a vida esperando. Adorava a loja. Adorava chegar e abrir a loja. Adorava o computador podre e o banquinho desconfortável e o teclado que tem as letras trocadas e o ; fica onde é o . e eu não olho pro teclado digitando e toda a vez que eu ia terminar uma frase digitava ; e tudo soava como versículo. Foi o primeiro emprego que gostei. Mas logo passou. Saí da torradeira. Tostada. Meio queimada. Prensada. Amassada. Nasci sem o chip despertador e o das responsabilidades veio com defeito. Não dá pra trocar. Só se encomendar um kit novo, e sai caro, e demora vinte e dois anos. Tudo bem ser assim em cidade pequena, dá pra driblar o tempo, mas em um lugar como este inferno onde você precisa escalar uma montanha, fazer doze baldeações de metrô e pegar uma balsa, não dá. Não dá. Sou completamente incapaz de ser responsável. Agora me diga, que espécie de pessoa não consegue chegar na hora para levantar uma maldita porta de ferro e acender um disjuntor e operar um leitor de código de barras? HEIN? Eu. Simplesmente não sei vender cds. Requer paciência, bom humor e boa vontade. Não trabalhamos com nenhum dos itens, senhor.
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Já tem oito páginas. Mas a parte boa vai começar agora.
.: Clara Averbuck :. 5:03 PM
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