quinta-feira, dezembro 27, 2001
Everything happens to me
Passou o tempo, passaram outras pessoas pela minha vida e pelo meu corpo. Pessoas novas e pessoas do passado. E você continuou lá. Você continua lá. Ganhei dez quilos, mudei de casa, mudei de vida, arrumei e desarrumei um emprego. Pintei o cabelo de loiro porque você disse que ficaria bem. Escrevi um livro. Você está lá. Escrevi alguns contos. Você não está lá.
Às vezes, quando deito no meu colchão novo e grande e bom, quero que você me dê um beijo de boa noite e abrace a minha cintura (ou o que sobrou dela). Quero acordar do seu lado como achei que aconteceria por muito e muito tempo. Às vezes, acho que só você cabe em mim. Só você pode. Só você cabe porque é do tamanho certo e eu sei que se você estalar os dedos, eu largo tudo e vou correndo ver o que você quer.
Tenho uma foto sua na parede. É a única foto que não tem meus amigos. Eu e você, quando as coisas estavam lindas. Tenho o livro que comprei pra te dar e você não quis. Tenho a carta que escrevi pra te entregar mas não te encontrei. Perdi o guardanapo onde você respondeu o guardanapo que eu te dei. Não sei onde está outro guardanapo que escrevi pra te mandar, contando como iam as coisas em um dia que lembrei de você enquanto voltava para casa.
Meu gato está grande. Agora ele não iria mais me disputar contigo porque ele tem uma namorada.
Lembro de você sempre quando ouço aquele disco. Você se materializa no meu quarto e me olha com gelo e eu sinto vontade de te abraçar e pedir desculpas. Depois a gente vê como é que fica. Desculpa.
Perdi o medo de falar com você. Perdi o medo de levar um soco no olho e um cotovelaço no estômago e ficar me contorcendo no chão sabendo que mereci. Perdi você. Te achei de novo dentro de mim, mas perdi você. Tomara que um dia eu ache. Meu quarto anda uma bagunça.
.: Clara Averbuck :. 7:01 AM
|