i gave my life to a simple chord

quinta-feira, agosto 07, 2003

Eu tinha escrito uma coisa tão legal, tão legal, tinha ficado tão feliz, três páginas inteiras fluindo como raios sob meus dedos. E agora eu abri e não estava mais lá. Só o fim do texto estava lá. O último parágrafo. O resto do texto foi substituído por "qq". Dois quês. Entende? Entende? Fiquei muitos meses sem escrever e era justamente sobre isso que o texto falava, sobre ficar muito tempo sem escrever e sobre como estar grávida é uma longa espera. E agora eu estou furiosa e entrei em greve.

PORRA, COMO ISSO FOI ACONTECER?

Dois quês. Nem é o último parágrafo, é uma porra de um parênteses. Dedo no cu. Vou fazer de novo e vai ficar melhor, só de raiva.

Passei a vida tentando ser magra. Tomando muitos remédios de várias naturezas e tarjas tentando ser esquálida, tendo ataques porque tinha peitões e bundão. Me enchendo de tóxico (pronuncia-se "tóchico") pra não ter fome. Nem achando muito ruim aquela coisa de passar fome por falta de grana porque poxa, eu ficaria magra e isso não podia ser ruim. Detalhe, eu bebia o dinheiro da comida e comprava cigarros. Cigarros, ótimo, cigarros me tiravam a fome, junto com água. Às vezes comia ervilhas porque sabia que tiravam a fome, estufando a barriga. As barras de cereal também eram muito presentes na minha vida, aquelas coisas nojentas. Não consigo nem ver barras de cereal, sofri uma tremenda overdose.

Certo, aí eu fico grávida.
"Fodeu", pensei. Vai cair tudo. Vou ficar obesa, meus peitos vão ao chão, vou virar uma zebra de tanta estria (porque eu também sou o paraíso das estrias). Mas não, nada disso. Engordei 8 e emagreci 9, isso até a semana passada. Quinze dias depois do parto e já cabia até na calça que o Marcelo me deu de dia dos namorados e que mal chegou às ancas no dia em que experimentei. Devo estar melhor do que antes, com exceção da barriga, que virou uma pelanquinha e pende por cima das calças, o que pode ser observado na foto demonstrativa. E agora eu uso cremes firmadores e torço para que funcionem, porque me recuso a fazer abdominais, nem quando ia à cadmía eu fazia abdominais, não dá. Mas talvez eu tenha que me render se quiser não ter barriga de novo algum dia. Ou talvez a preguiça ganhe, porque eu acredito na preguiça.


ahhhh!

foto demonstrativa



Por que ninguém me avisou que ser mãe emagrecia? Eu deveria ter desconfiado. Lavar roupinhas no tanque com sabão de coco, estender tudo, lavar a louça, acordar no meio da noite para amamentar, fazer levantamento de bebê para o arroto - eles precisam arrotar, eles realmente precisam arrotar -, se auto-ordenhar, rapaz, isso gasta muitas, muitas calorias. O problema são as olheiras. Tenho olheiras para sempre agora. Esses dias fui tirar a maquiagem - porque agora eu me maquio até pra ir à esquina, tenho que ficar bonita para a minha filha, bonita como a minha filha que já parte corações e nem fala ainda, e também porque tenho que aproveitar minhas únicas chances de sair de casa - e fiquei esfregando em volta dos olhos, mas não saía. Não era maquiagem borrada, eram as olheiras do mal. Eu nunca mais vou dormir, mas dane-se, porque vale a pena acordar quantas vezes a minha filha tiver fome. Ela merece todas as minhas noites de sono. Amamentar é uma das melhores sensações do mundo, uma espécie de tesão que não é exatamente tesão, mas vou usar o termo até encontrar outro melhor. Vou ter bastante tempo para pensar nisso.

Por que ninguém me avisou que ser mãe era tão bom? Eu deveria ter imaginado.

Eu sabia, eu sabia que quando a Catarina que ainda nem era Catarina, era Beanie e morava na minha barriga, eu sabia que quando ela viesse ao mundo aqui fora a minha inspiração voltaria. Gravidez é uma grande espera, e eu não queria criar enquanto esperava, queria esperar para ver a minha maior criação pronta. Agora sim, agora nada me segura. Tem o lançamento oficial do Das coisas esquecidas atrás da estante, que eu não podia fazer porque era óbvio que a bolsa estouraria no meio da sessão de autógrafos, tem o Vida de Gato, que um dia sai, e tem um outro que era uma historinha curta chamada provisoriamente de Três Dias e que eu agora decidi que vai ser uma historinha longa e retomei e estou cheia de idéias borbulhando, cheia de coisas na cabeça, muitos projetos, muitas histórias para contar, porque nos dois últimos anos aconteceram muitos livros, muitas coisas. Vejamos.

Nos últimos dois anos, eu fui chutada de casa, mudei de cidade, morei em um quarto de empregada, achei o Joo, chutei o pau e fui para a Inglaterra, voltei, fiquei falida, tentei arrumar emprego, fracassei, mudei de casa, arrumei um emprego, decidi nunca mais trabalhar, desarrumei o emprego, terminei meu primeiro livro, fiquei doente, engordei 15 quilos, fui à cadmía, emagreci 15 quilos, driblei o fígado, me apaixonei, me fodi, escrevi outro livro, achei que nunca mais ia me apaixonar de novo em toda a minha vida, conheci minha alma gêmea, me apaixonei de novo, fiquei grávida, mudei de casa, lancei outro livro e pari a Catarina. Não quero nem pensar no que vai acontecer nos próximos dois anos, porque todas as vezes que eu fiz planos, eles deram errado. Só espero que as coisas continuem assim, chegando no lugar certo pelo caminho errado. É assim que dá certo comigo. Com a gente, agora, porque eu não sou mais no singular. Com a gente, conosco, com nós. Nós três. O resto a gente vê depois.

(A foto é de quando meus amigos queridos, Mojo e Galera-e-sua-senhora-Tainá, além do-Joca-Reiners-Terron-da-Ciência-do-Acidente-e-irmão-do-meu-amigo-Paulo-e-sua-senhora-Patrícia vieram aqui em casa me buscar para o lançamento dos livros do Galera (Até o dia em que o cão morreu) e do Joca(Hotel Hell) pela Livros do Mal, que é trimmmassa. Ela na verdade está totalmente fora de contexto, mas foda-se o contexto, porque eu amo meus amigos e quis botar a foto deles aqui.)

.: Clara Averbuck :. 5:08 PM

Acesse os arquivos por aqui:

  • wanna find me?
  • miau?
  • me espalhe, sou uma peste
  • eu leio a bust