i gave my life to a simple chord

sexta-feira, julho 18, 2003

Esqueci de avisar que, desde o dia 20 de junho, escrevo uma crônica toda a sexta no jornal carioca Tribuna da Imprensa. Obviamente, essa semana foi a vez da minha gatinha Catarina. Como eu não consigo entrar na página nem achar o link e a Catarina está chorando neste exato momento e eu tenho que ir, posto aqui o texto de hoje. O jornal que me perdoe, mas eu preciso dividir isso com o mundo.

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Catarina, A Pequena
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Tão pequena que meu peito é o dobro da cabeça dela. A coisa mais linda que já vi na minha vida toda, esse pacotinho rosado e cabeludo que não tem nem três quilos. Minha filha, uma bonequinha de olhos negros. Estou boba. Babando. Minha filha. Escrevo, ou tento escrever, com uma só mão. Parece que estou usando um só lado do cérebro. Agora vai ter que ser assim, vou ter que aprender a fazer tudo com uma só mão.

Minha filha, Catarina Averbuck Schenberg, nome e cara de princesa. Gerada numa lua de mel, só podia mesmo ser doce. Nove meses na minha barriga, sendo chamada de Beanie porque não queríamos saber o sexo e não tínhamos nenhum nome. Nove meses na minha barriga e agora, de repente, aqui no meu colo, mamando, minha gatinha Catarina. Nascida aqui mesmo, nesta cama, neste quarto, na minha casa, pelas mãos mágicas da Vilma. Sem médicos, sem anestesia, sem medo. Tudo correu maravilhosamente bem e mesmo assim insistem em tratar como sorte, acaso. Correu bem porque tinha que correr bem. Quando tem que dar certo, nada fica no caminho.

Qualquer coisa que eu diga vai ser pouco. Nada é capaz de descrever o sentimento de finalmente ser mãe, depois de toda aquela espera, depois de toda aquela dor. Porque dói, dói muito, dói, sangra, arregaça, vira do avesso, mas a vida é assim mesmo. Dor e alegria sempre vêm de mãos dadas e eu é que não vou me meter no meio das duas. A vida não tem anestesia. Eu pari, eu senti dor, eu fiz força, eu gritei e urrei, nada de deixar a responsabilidade para os outros. Porque é a minha filha e eu quero sentir tudo.

E isso é só a estréia. Ela ainda vai crescer. Falar. Andar. Cair. Me dar sustos. Me xingar. Xingar o pai. Menstruar. Brigar na escola. Arrumar um namorado bundão. Fazer alguma coisa linda que me deixe com lágrimas nos olhos. Me dar um abraço que me fará esquecer tudo de ruim. A minha vida agora não é mais minha, só metade, porque a outra metade é dela, Catarina, minha filha, que nasceu dia 15, terça-feira, naquele frio, às 9’25 da manhã. Os vizinhos devem ter adorado meus urros. Devem ter entendido só depois que ela chorou, e ela nem chorou muito, só deu uma resmungadinha.

Ela tem os olhos do pai. Toda vez que ela me olha, é como se ele estivesse me olhando, e ela é um pedacinho de nós, e eu sinto o mesmo frio na barriga porque eu amo muito os dois, como eu não achava que fosse possível. Eu sou uma romântica, tinha aquelas idéias bestas de amor perdido, sempre disse que não existem finais felizes nem na vida, nem na boa literatura. Bobagem. Acabo de descobrir que existem sim, os finais felizes, e que não são finais de verdade, só o começo de uma vida nova e de uma história nova que eu não sei como vai terminar. Essa história quem vai escrever não sou eu, é ela, a Catarina. Eu só vou assistir.

.: Clara Averbuck :. 2:37 PM

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