i gave my life to a simple chord

quarta-feira, maio 28, 2003

Ontem foi meu aniversário.
E hoje de manhã tinha um recado na minha caixa postal, avisando que o Scooby morreu.
O Scooby morreu? O Scooby? Ai. Levei a mão à cabeça e disse "ai, puta que pariu".
Meu amigo Scooby.
E eu nem sabia que ele estava no hospital. Nem sabia que ele estava doente de novo. Da última vez que nos vimos, no lançamento do Máquina em Porto Alegre, ele estava lindo, loirinho, querido e saudável, com cara de Scooby, sem nenhuma cara de doente nem nada. Doou uma foto 3x4 na caixa de esmolas para o Buda Glitter, que guardo na minha carteira até agora. Não tirei nem quando meu namorado ficou perguntando quem era e porque estava ali, meio enciumado. A única foto na minha carteira.
Meu amigo Scooby.
Ele que inventou essa coisa de Lady Averbuck. Adotei na hora.
Meio que perdi contato com ele, com todo mundo que mora em Porto Alegre, especialmente agora que estava sem computador e sem internet e sem icq nem nada. Mas isso não quer dizer que eu esqueci os meus amigos. Amigo não se esquece. É como uma fita que começa a tocar do ponto em que você parou de ouvir. Amigo de verdade não gasta, não é esquecido e muito menos substituído.
Mas amigos podem morrer. Eu nunca tinha pensado nisso, nunca tinha passado por isso. Mentira, tinha, mas não assim. Minha avó vivia me chantageando e falando coisas como "venha para o Natal, nunca se sabe quando vai ser o último". Nunca levei a sério. E a última coisa que eu pensava era que a última vez que vi o Scooby seria a última. Ele era jovem e rosado, tinha a minha idade, um ano a mais, nada iria acontecer com ele. Nem com ninguém que estava lá. Nenhum dos meus amigos.
Muito menos o meu amigo Scooby.
De repente, o óbvio salta aos olhos.
Todo mundo pode morrer a qualquer momento. É óbvio, é evidente, mas só depois que acontece.
E eu aqui, tendo crises semanais e querendo que desça uma guilhotina dos céus e corte a minha cabeça e acabe com a minha vida. Como eu sou babaca. Babaca de reclamar da vida, de me deprimir e ter essa tendência suicida constante. Babaca de reclamar tanto. Eu deveria ser feliz e saltitante, eu tenho amor, eu tenho amigos e um filho na barriga, eu não tenho dinheiro mas dinheiro se rouba, se pede, se arruma, amor não. Nem saúde. Parece um recado divino ou algo assim, um cutucão dos céus me mandando calar a boca.
Enquanto eu reclamava porque era meu aniversário e eu não queria sair de casa, o Scooby dava seus últimos suspiros no hospital.
Enquanto eu chegava em casa com meu namorado, feliz da vida, feliz com o Beanie e com o pai dele, o Scooby, o meu amigo Scooby dava adeus ao mundo. E eu nem sabia.
Dá uma vontade imensa de ver todo mundo, abraçar todo mundo que conhecia ele, como se isso trouxesse um pouco de Scooby de volta, o amor em comum dos amigos, todo mundo junto, ainda que tristes, ainda que chorando.
Mas não dá, estou aqui. Ele já deve estar enterrado a essas alturas, no Jardim da Paz. Todo mundo já deve estar em casa com a mesma sensação de vazio que eu estou.
E o Scooby deve estar no céu, com asinhas de anjo e os olhos azuis piscando, de bom humor como sempre, fazendo piadas e flertando com as anjinhas. Porque se existe céu, se existe céu e inferno e purgatório, é no céu que o Scooby está agora.
Não consegui dizer metade do que queria. Isso foi o melhor que saiu.



eu e o scooby em um dia, lá por 1764, em que andamos de patins pelas ruas da cidade baixa. minto, ele andou e eu me esfolei toda.

.: Clara Averbuck :. 3:23 AM

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