i gave my life to a simple chord

terça-feira, março 11, 2003

Menti.
São os hormônios.
O fato é que não dá.
NÃO DÁ.
Quando der, deve dar, mas agora não.
Quando meu senso de humor voltar, talvez. Às vezes ele vem jantar nos fins-de-semana.
Não dá.
Não assim, a tapa. Fórceps não é comigo.

Vejam, uma crise! Pega, pega! Dá uns tapas, joga umas pedras. Apaga umas linhas que ficaram muito ruins, reescreve, desiste e desliga o computador a chutes porque deu pau.

Era uma vez uma menina que se sentia mal até ver fotos da Asia Argento grávida e descobrir que barriga pode ser legal.
Era uma vez uma menina que odiava perguntas sobre gravidez e dava respostas cretinas.

Você está grááávidaaaa?

Não, tenho vermes.
Não, acabou meu tamarine.
Não, estou prendendo o ar.
Não, é água.
Não, estou gorda.
Não, eu bebo.
Não, e você?

Era uma vez uma menina que fez tudo de uma vez e agora quer deixar pra depois. Tradução do prefácio do Billy Childish? Pra depois. Cadê o dicionário de inglês? Depois eu vejo, deve estar em alguma caixa. Arrumar o armário? Depois, depois. Quando o armário for meu. Depois. Depois da chuva. Depois que a faxineira vier. Depois de amanhã, perto do fim-de-semana. Depois que o meu computador ficar pronto. Coçar o saco, beber um chazinho, respirar fundo, esquecer a nicotina e deixar pra depois. O Vida de Gato? Depois de abril, depois de maio. Em junho, creio eu. Antes de julho. Não quero parir dois ao mesmo tempo. Tem outro, fora o filho. Uma coletânea da 7 Letras. Chegou ontem por email. Umas coisas do blog, umas poucas coisas fora do blog, umas 100 páginas. Tudo misturado, que nem dentro da minha cabeça. Depois eu arrumo. E pinto as unhas dos pés.

Por isso que eu agora assisto tv com a mão na barriga. E só pega um canal aqui. Depois eu compro uma antena.

Depois eu lavo a louça.

Depois, quando o meu cabelo crescer e meu disco do Tom Waits aparecer. Aí eu aproveito e mando arrumar a caixa de som.

Depois eu respondo os emails. Quando eu baixar no meu computador, se ele voltar algum dia da Casa do Notebuck. Daí eu aproveito e tiro um RG novo, que o meu eu perdi. Mas só depois, quando achar a minha certidão de nascimento e tiver certeza que nasci.
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billy childish acordou uma manhã
e esqueceu de ser billy childish
ele foi ao banheiro
e esqueceu encarar billy childish no espelho
esquecendo que ele era um poeta underground mundialmente famoso
billy childish escreveu um soneto de amor deveras estúpido
sentindo-se cansado de repente, billy childish deitou no
sofá e deu uma dormidinha
acordando em um pulo
e subitamente lembrando que ele era billy childish
ele correu para a máquina de escrever e arrancou o soneto de seus dentes cheios de tinta
ninguém deve conhecer esse billy childish, ele disse.
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billy childish awoke one morning
and forgot to be billy childish
he went to the bathroom
and forgot to glare into the mirror at billy childish
forgetting that he was a world famous underground poet
billy childish typed a rather dull love sonnet
feeling all of a sudden tired billy childish lay down on the
sofa and took a quick nap
jumping up with a start
and suddenly remembering that he was billy childish
he ran to the typewriter and tore the love sonnet from its inky teeth
no one must come to know this billy childish, he said.

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Porque sem o original é coisa de bastado.
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E aquela do Buk, deixo pra depois? É, melhor. Assim que eu achar o livro. Depois.
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No fim, nem era mentira. É sempre tudo mentira, mas tudo verdade.
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Depois eu volto. Agora tenho que pintar a Fun House.

.: Clara Averbuck :. 5:13 PM

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