segunda-feira, dezembro 09, 2002
Procura-se
esqueci em casa da outra vez
Preciso de um mestre.
Sim, um mestre, um professor, alguém que me diga coisas interessantes, que me xingue, aponte os erros debaixo do meu nariz, me mande tomar vergonha na cara e ler alguma coisa que me deixe maluca como há anos eu não fico por algum escritor (ou não ficava, porque agora tem o Ovídio), brigue comigo, me deixe puta, seja meio pai, meio irmão, meio barbudo, um mestre, sabe? Mas não um cuzão qualquer de faculdade, um mestre de verdade, com aquele brilho nos olhos e aquela autoridade que só os mestres têm e que não se aprende em mestrado nenhum. Mestres são mestres e fim.
Quero um mestre tão culto que me deixe tonta. Que escreva muito, muito, infinitamente melhor do que eu, porque eu só respeito a opinião de quem escreve melhor do que eu. Queria que fosse o Leminski, por isso devoro sua biografia de tempos em tempos, seu livro de cartas, seus poemas, seu Catatau, tudo, tudo, tudo, sugo até a última gota, e ele fala comigo, sempre ele fala comigo, há anos, mas eu queria um mestre vivo, morto eu já tenho um.
Eu sei que vou achar quando for a hora. Mas eu quero, preciso de um mestre literato fodão que me dê um pouco de disciplina, um pouco de alguma coisa que eu não tenho e sinto falta.
Fazer tudo sozinha cansa demais. Eu sei onde quero chegar, mas quero alguém pra conversar comigo no caminho e me avisar onde ficam os buracos da estrada. Falar sozinha cansa demais.
.: Clara Averbuck :. 10:08 PM
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