quarta-feira, outubro 16, 2002
Mea Culpa
Meu deus, que dor, que crise, que horror. Quero morrer, quero não ter feito, quero morrer de culpa, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. O espelho não mostrava o meu reflexo. Contra a luz, eu era um borrão preto. Igualzinho como estava por dentro, o coração cheio de piche. Não, eu não presto. Crise de consciência é coisa de quem não presta. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Injustiça, injustiça das maiores, meu corpo queimando vermelho e roxo, fritando sozinha na cama, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ele a caminho do céu e eu tentando encontrá-lo na porta do inferno, estúpida, estúpida, mea maxima culpa. Não há o que fazer, não se volta o tempo. Gostaria de encontrar aquela que mandava o passado às favas, mas a culpa me corrói, me mata de um jeito que eu nunca vi, nem conhecia. Não posso dizer que é um prazer, essa coisa cristã se infiltrando em mim, esse peso, esse fardo, essas marcas horríveis que doem e me doem e me fazem sentir cada vez pior. Diminuo enquanto caminho, porque eu errei, porque sou estúpida, porque estava errado, muito errado, e eu sabia, e eu continuava porque não queria continuar se não fosse até o fim, essa maldita mania de levar até a pior das covardias até o fim. Quase entrei na igreja para conversar com a nossa senhora, tão branquinha, tão fria, tão de porcelana era aquela nossa senhora, que vontade de botar a cabeça nos pés dela e ficar ali, tentando me sentir melhor, tentando ficar limpa e branquinha que nem ela. Não vai acontecer. Não existe redenção. Não existe nada. Existe apenas o que me corrói até que eu morra e nasça de novo. Bom dia, culpa. Não quero nunca mais te ver em mim.
.: Clara Averbuck :. 1:16 PM
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