i gave my life to a simple chord

segunda-feira, setembro 23, 2002

A Outra
[sexta]

Tudo começou na sexta série. Eu voltava para casa a pé com um menino chamado Júlio, que namorava com essa garota chamada Michele. "Namorava". Eu também "namorava" com um menino cujo nome esqueci, Luciano, Marcelo, Rafael, qualquer coisa assim. Só lembro do apelido que dei a ele: Passo Fundo. Não pergunte. Pelo que me consta, o sujeito foi perseguido por esse apelido para o resto de sua vida escolar. Um belo dia, pintou um clima e eu o Júlio trocamos uns beijinhos, prometendo segredo. Mas homem não sabe manter segredo e o tapado contou justamente para um cara que era apaixonado pela "namorada" dele. Adivinha se a história não se espalhou muito rápido. Yeah yeah. Michele ao telefone: "e aí, Clarah, como é ser a outra?" O que seguiu foi ainda mais ridículo. Todas as meninas daquela série, com exceção da Bibiana, que não era miolo-mole, depenaram seus travesseiros e jogaram penas em mim no meio do pátio da escola, me chamando de galinha. Caí no chão de rir, ri muito, era por demais patético. "Tá rindo pra não chorar?", disse uma evangélica. "Não, tô rindo porque é engraçado mesmo." E era. Muito. Anos depois, todas pediram desculpas pelo comportamento ridículo. Dei de ombros, porque não fez a menor diferença na minha vida. Eu só não sabia que a história se repetiria por todos os séculos dos séculos, amém. Desde então, eu sou "a outra". A que destrói a felicidade alheia, termina com namoros, implacável destruidora de lares se metendo onde não deve. Do meu lado, eu sou a babaca que se apaixona pelos caras errados, que também se apaixonam por mim e é tudo lindo e cheio de coraçõezinhos, e eles me dizem espera, e eu espero, mas eles acabam ficando com suas namoradas ou, pior, com uma terceira pessoa. Eu sou a mina que é protelada, enrolada até ser descartada como um pé de meia suja por causa de alguma namorada que vai para a França ou perdeu o pai ou está em uma fase difícil ou é frágil e coitadinha demais e não sabe sofrer, não sabe doer, oh pobre namorada frágil que chora e chora. Francamente, quem não sabe doer não merece viver. Qualquer dia, quando eu tiver casa, espero um diploma bem bonito de PhD em dor. É, deve ser a única coisa que sei fazer na vida. Acho que só tive um cara decente na vida, meu namoro mais longo. Agora deu, cansei. Nunca mais em toda a minha vida vou aceitar nada desse tipo. Agüento, mas não agüento mais. O negócio agora é love me or leave me. Chega de ser compreensiva, de esperar, ter paciência com algo que evidentemente não vai para frente. Não entendo mais nada, não quero ser sympathetic com nada, vou bater o pé, beber e dar escândalo e socar a parede e cuspir na cara. Sozinha eu sempre estive, não preciso de uma migalha qualquer pra continuar passando fome depois. Foda-se, eu me demito. Por favor, traga a conta e não olhe na minha cara. Nunca mais.

.: Clara Averbuck :. 7:28 PM

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