quarta-feira, setembro 18, 2002
Oh não, oh não,
Pensei que tinha me livrado, pensei que nunca mais teria este problema, mas ela voltou, ela chegou e me cutucou, a Terrível e Famigerada e Feia, Muito Feia
I N S Ô N I A!
aaaaa!
Rolei e revirei e me enozei toda no lençol e nada, nada de sono. Acho que o que me falta é vegetar um pouco, sabe, televisão, essas coisas, fico pirando agora que decidi ler tudo que falta na vida e passo o dia lendo lendo lendo escrevendo escrevendo escrevendo traduzindo traduzindo traduzindo pensando pensando pensando, tem uma pilha de roupas a dobrar faz umas duas semanas e eu nem quero saber delas, passo o dia aqui com dor nas costas na cadeira dura e no teclado banguela. Ok, não acontecia há uns dias porque não, mas é o que tenho feito e o que voltei a fazer. Ah, ganhei uma máquina de escrever, quer dizer, me disseram que ganhei e eu acredito, então vai ser ainda pior, vou ter que comprar mais uns braços porque os meus não vão dar conta, vou querer escrever cartas e digitar textos velhos só porque ficam bonitos no papel. Posso até vender em mesa de bar "oi, vocês gostam de poesia?" MENTIRA, isso é o pior pesadelo de qualquer ser vivo, hippies vendendo poesia de mesa em mesa - sou terminantemente contra. Aiai, nunca quis tanto meus livros de Porto Alegre, no fim do mês eles estarão comigo no meu apartamento novo e definitivo sei lá onde, todos bonitos enfileirados limpinhos sorrindo para mim, saudades de muitos livros que ficaram. E eu fico também, fico por aqui em São Paulo, não sei o que aconteceu mas passei a gostar dessa cidade feiosa de céu de plástico, fui engolida, mas não pensem vocês que perdi meu sotaque, não não não, nunca vai acontecer. Mas eu fico, fui ficando e fiquei, reclamei pra caralho mas agora tudo é lindo, tudo é maravilhoso, tudo é tão perto que nem ouso pensar em ir embora.
Vida de Gato bem no finzinho, mais um ou dois capítulos curtinhos, umas 100 páginas no total, eu acho. Daí resolvi pegar um monte de coisas prontas e outras grávidas na minha cabeça e fazer uma coletênea, um monte de continhos velhos e novos, um monte de idéias,
deus eu nunca tive tanta idéia. Queria falar com certas pessoas a respeito, mas as pessoas desaparecem do planeta e me deixam esperando, esperando, parece até passatempo, a arte de fazer Clarah esperar, e eu espero mesmo porque se não for ele pra ouvir eu não quero. Mas o que eu queria mesmo era uma marretada na cabeça pra dormir, dormir muito, acho que vou reatar com a maconha pra ver se me faz dormir. Melhor do que pílulas, porque de pílulas minha vida está cheia e não tem mais espaço pra nenhuma. Chega. Eu vou tentar, eu vou tentar, eu vou deitar e relaxar e dormir muito. Eu vou.
.
.
.
Sim, é claro que eu fui, e é claro que não dormi e li mais um livro inteiro e morri de rir. Me foi emprestado há uns 57 anos, mais ou menos. He died with a felafel in his hand - hilarious true stories about house-sharing hell, do John Birminghan. Tinha lido uns pedaços mas agora que peguei inteiro quase morri de rir, é uma das coisas mais engraçadas que já li na minha vida inteira. House sharing hell, I KNOW what that is. Puta que pariu, como sei. E tem coisas como "O tédio é uma coisa terrível em um grupo. Quando você vive sozinho, você pode sair de casa e lidar com isso. Mas quando tem um monte de gente entediada em um lugar, a coisa fica feia. Você terminará socando bananas nas cuecas e butt walking pela sala. Ou correrá em volta da quadra, nu, com uma capa roxa esvoaçando atrás de você, cantando Nananana Nananana Nananana Batman". E é bom pra ver como você é uma pessoa normal que lava a louça, não coleciona pentelhos em sabonetes nem papel higiênico porque acha que está tentando ser controlado pelo sistema de saneamento básico. Mas continuo morrendo de sono, de dor nas costas e tem algo estranho com a minha garganta. Não sei mais o que fazer. São 8'30 da manhã, está claro demais, já sei que não dormirei hoje. Oh meu saco.
.
.
.
É que a minha cama virou um deserto.
.
.
.
Mas ainda tem um pouco de cheiro no travesseiro. Cheiro de pescoço, sabe, aquele que te inunda e é impossível evitar um sorrisinho e não amolecer as pernas. Ai, ai. Vou testar.
.
.
.
Funcionou. Acordei agora, às 4. Tenho 10 real. Devo uns 10 na Lan House, mais 10 na padaria, mais 16 no restaurante. Não posso sair para nenhum lado sem que algum dos credores me veja. Vou ao banco ver se tenho dinheiro. Se tiver, postarei. Senão, amanhã.
.: Clara Averbuck :. 9:30 PM
|