i gave my life to a simple chord

sábado, agosto 10, 2002

Sobre chorar e chover e nascer e morrer

Voltei a chorar. Dizendo assim, a frase sozinha, parada no meio do papel, parece até que é algo ruim.

Não, não é ruim. Chorar é uma dádiva, é como a chuva na terra seca. Mas chorar assim não é pra qualquer um, sabe. Alguns abusam das lágrimas e se afogam. Para mim, a tristeza é seca, uma pedra de gelo no meu peito, uma bola na garganta que impede qualquer coisa de sair ou entrar. Passei os últimos meses assim, a pedra entravando meu peito, doendo, apertando tudo lá dentro e impedindo meu coração de bater. Seca, seca, esturricada, rachada, sozinha e perdida no nada, os olhos semicerrados na tempestade de areia. E agora choveu, eu chovi, chorei tudo que não tinha chorado, tudo voltou a me tocar, passou a anestesia do gelo que me queimava por dentro e por fora e por todos os lados. Eu sou a florzinha azul que morria sozinha e agora sorri, gotas de orvalho rolando nas pétalas, nos meus olhos, minhas raízes bebendo da minha essência. Eu sou a prosa dos caras que me olham lá do céu, eu sou o dia que desbota no azul do céu para que as estrelas cheguem e iluminem tudo com a espuma branca que ninguém vê. Eu sou o que ninguém espera que eu seja. Eu não estou sozinha, eu estou com você, comigo, com eles. Eu estou e nunca mais deixarei de estar. Eu sou e nunca mais deixarei de ser. E eu choro porque estou feliz.

.: Clara Averbuck :. 9:22 PM

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