i gave my life to a simple chord

quarta-feira, agosto 21, 2002

[segunda]

Acabou.

Todo mundo foi embora. Empacotaram tudo e foram, todos os meus amigos queridos, de volta para suas casas. A Jeanne tinha que fazer uma coisa muito foda, porque ela é, afinal de contas, uma garota muito foda, muito doce, muito querida e muito talentosa, ela e sua franja dupla e suas sardinhas e seu cabelo ruivo. Sim, porque ela é ruiva. Não importa o que digam as raízes, não dêem ouvidos e aceitem: a Jeanne é uma ruiva. Te amo pra sempre, linda.

O Mateus e o Gustavo tinham ensaio. Acho que já falei o suciente do Mateus por aqui para que todos saibam o quanto eu amo esse cara. O Gustavo é igualmente adorável, o que não me surpreende, porque todos os Potumatis são. Eles têm uma banda, os Potumatis. Uma banda fodidamente boa chamada Espíritos Zombeteiros. Eu que fiz o release deles. *ORGULHO*. Nem preciso dizer mais nada, néam? Apenas sigam os links e façam o favor para o mundo de trazê-los logo para tocar em São Paulo (e no Rio e em Porto Alegre e em todos os lugares do país), porque ninguém faz tão bem o que eles fazem por aqui. No Brasil, eu quero dizer.

E todo mundo foi embora. Os dois últimos saíram no fim da tarde, com um céu lindo me cutucando e tentando me deixar melancólica, o que é fácil para uma gripada como eu. Vocês acham que eu me rendi? Rá! Tinha até botado o By The Way aqui, mas me dei conta que ficaria rolando na cama e olhando o teto e pensando "oh! Como estou só!" e troquei rapidinho para o Mother's Milk, liguei o computador e fiquei saracoteando e pensando nas coisas boas. Culpa do P. (como é divertido isso de se referir aos amigos pelas iniciais), que sabe exatamente do que estou falando. Saracoteei e pensei nas coisas boas até acabar o disco. Daí eu deixei a tristeza chegar um pouquinho, sabe, sinto saudade dela. Se todos fossem felizes o tempo todo, o mundo seria um musical da Broadway cheio de dentes brancos sorrindo como Barbies e dançando debaixo da luz, e olha, isso não me atrai nem um pouco, essa coisa de sorrir e dançar o tempo todo.

Pra falar a verdade, a sensação agora é de "tá, e aí?", sabe? Lancei livro, dei vexame, tomei porre. E aí? O mundo continua girando, eu continuo míope e sem dinheiro, minha caixa de som continua estragada, me obrigando viver em mono, tudo igual mas mais esquisito. O Vida de Gato tá paradinho, esperando o resto da história que quero contar.
Eu nunca escrevi um livro. Eles é que se escrevem. As coisas acontecem, ah, como elas acontecem, nunca param de acontecer, essas coisas de livro. Quando acho que parou, viro para o lado e ali tem um parágrafo inteiro me olhando. Piscando, como se não fosse estranho ter um parágrafo ali no meio da sala, e me encarando. E esses parágrafos inconvenientes não param de me encarar enquanto não são escritos. Às vezes é bem chato. Estou ali, no meio da festa, bebendo e tal, chega um parágrafo e pá! senta na mesa, sem nem ser convidado. Por isso os tais Cadernos Cor-de-Rosa Peludinhos. Por isso eu às vezes sou vista escrevendo nos cantinhos no meio dos shows dos outros. É tudo culpa desses parágrafos deslocados, que inclusive têm a audácia de me tirar da cama diversas vezes, sem nem se importar se está frio, se estou doente ou qualquer coisa assim. Simplesmente deitam e ficam puxando as cobertas e me fazendo cócegas até que eu levante. Mas não tem problema, viu, podem continuar me acordando, me tirando das festas, estragando minhas cantadas. Eu gosto deles. Sem contar que depois que todo mundo for, eu, você, o Lou Reed, o Rodrigo Santoro e o Kajuru, depois que todo mundo for, os tais parágrafos ficarão. Talvez para umas três pessoas, uns primos, uns vizinhos, mas sempre tem alguém que entende. Sempre tem. E é por isso que vale.

.: Clara Averbuck :. 11:40 AM

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  • wanna find me?
  • miau?
  • me espalhe, sou uma peste
  • eu leio a bust