i gave my life to a simple chord

sexta-feira, agosto 23, 2002



Pergunte ao Pó

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Bom, é o seguinte: hoje eu peguei um livro novo do nosso Fante, de contos entre 32-41, obviamente não publicados. Estava lá há meses e eu simplesmente não tinha lido, porque estava ocupada demais lendo o filho dele e me relendo e me perdendo em coisas bestas e lendo românticos e oh meu deus. E também porque eu sou hippie e acredito que as coisas têm um tempo certo para acontecer e fico seguindo feelings e pensando droga, por que meus pais tinham que ser hippies?, mas não posso fazer nada, essas coisas são como a cor dos nossos olhos. Então eu pego os livros quando acho que devo. Sempre foi assim e sempre funcionou. Hoje todo mundo foi embora, sabe, a Jeanne e uns amigos meus que vieram e eu fiquei sozinha. Quis ouvir um pouco de silêncio depois de arrumar tudo bem bonitinho - porque eu sou maníaca com a minha casa, ainda mais agora que não tem mais ninguém pra infectar o ambiente, se é que você me entende, não é nada pessoal, mas eu não quero morar com PESSOAS. Eu quero GATOS. Pessoas ficam pessoando demais. Oquei, então eu olhei para a cara do livro, ele olhou para a minha, pintou um clima e tal, e eu disse "vombora". E fomos. Eu nem tinha espiado, não tinha folhado nem nada, e quando eu vejo no índice:
PROLOGUE TO ASK THE DUST.
(...)
Achei que meu coração saltaria pelos olhos. Você precisa ler isso. Precisa. É lindo, é forte, tem uma voz inacreditável, é Fante puro, na essência, direto da fonte, I, John Fante and Arturo Bandini, two in one, machuca de tão bonito. Fiquei tão perturbada que resolvi dormir. Com vergonha de escrever de novo tão cedo (até amanhã, no máximo). Quem eu estava pensando que era, nós duas, Clarah Averbuck e Camila Chirivino, o que nós estávamos pensando, que poderíamos escrever depois de Bandini, de Fante? Qualquer coisa que fizéssemos poderia ser pisada por eles.
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Bom, o prólogo era em inglês, então fui obrigada a traduzir. Não vou publicar tudo, são 20 páginas. 20 páginas inéditas de John Fante, só minhas. Vamos aos poucos, começando pelo primeiro parágrafo. Até porque quem não leu o Pergunte ao Pó não vai sacar. E é o seguinte, respeitei a pontuação do homem, mesmo que soe errado. Respeitei porque foi escrito assim. E é assim que vai ficar.
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Prólogo para Pergunte ao Pó

Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias no começo do Mojave. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome. Sim, pois o último a ver minha garota Camilla Lopez foi um tuberculoso vivendo à beira do Mojave, e ela se dirigia ao Leste com um cachorro que dei a ela, e o cachorro chamava-se Pancho, e nunca ninguém viu Pancho de novo também. Você não acreditará nisso. Você não acreditará que uma garota se aventuraria no deserto do Mojave em Outubro sem nenhuma companhia exceto um cachorrinho policial chamado Pancho, mas aconteceu. Eu vi as pegadas do cachorro na areia, e eu vi as pegadas de Camilla ao lado das do cachorro, e ela nunca voltou para Los Angeles, sua mãe nunca a viu de novo e a não ser que um milagre tenha acontecido, ela está morta lá no Mojave hoje, e Pancho também. Eu não preciso criar um roteiro para isso, meu segundo livro. Aconteceu comigo. Eu estava apaixonado por ela e ela me odiava, e essa é a minha história.

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E essa é a minha história. Minha vida de gato. Minha história, eu, Camila, e meu Arturo. Essa é a minha história. Você não acha que tenho uma história? Eu realmente não me importo, contarei ao pó, se necessário. Ao pó e aos espíritos que sempre me escutam.

.: Clara Averbuck :. 3:26 AM

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