i gave my life to a simple chord

domingo, agosto 18, 2002

"Oi, Vista Venus"

Foi assim que fui cumprimentada na metade da noite de ontem, quando chegava tardiamente ao Juke Joint. E eu não fazia idéia do porquê. E fiquei vermelha, porque me imaginei falando todo o tipo de obscenidades envolvendo guitarras para o moço da Jaguar. A coisa foi piorando e piorando ao longo do fim da noite, quando os presentes no dia anterior me davam olá e eu não sabia quem eram eles. Bom, eu não sabia nem como tinha chegado em casa, que dirá com quem eu falei. Isso porque simplesmente perdi a linha no lançamento. Mas eu podia, tá, era meu lançamento e aniversário do Hank, eu não só podia como devia. Admito que deveria ter comido mais do que um copo de leite o dia inteiro e que o porre de champagne da noite anterior ainda não tinha passado, de modo que todas aquelas três garrafas de vinho branco que entornei me deixaram absolutamente fora da casinha e incontrolável - segundo relatos, porque eu não estava presente no momento. Dizem que eu parecia uma "gata no cio" (sic). Meda, pânica, horrora, desespera. Tudo que sei é que saí beijando todas as pessoas que tive vontade (e que me quiseram, é claro). Todas. Não foram muitas, sabe, a idade vai deixando o nosso critério mais e mais apurado e é por isso que ando com a impressão de que vou morrer velha e solteirona. Mas como eu ia dizendo, saí distribuindo beijos em meninos e meninas, o que deve ter deixando uma rapeize meio chocada, mas foda-se, porque era meu lançamento. Tive medo que aquilo tudo virasse uma reprise do meu aniversário, que foi uma merda (junto com o mês de maio inteiro, uma merda, um dos piores da minha vida), mas ei, foi o contrário, era como se eu estivesse fazendo aniversário pelo Hank. Foi do caralho. Obrigada a todos os leitores fofos que foram e compraram meu livrinho, me afofaram e me agüentaram sendo guei - porque agora eu sou um gay afetado, o que me lembra o Clodovil e aquela entrevista horrorosa. Aiaiai. Vamos lá.

Clodovil e Sua Entrevista Horrorosa

Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei ir naquele lugar. Começando pelo fato de que o Clô me deixou esperando uma hora sem nenhum álcool, o que obrigou eu e Babai a irmos até um lugar ali perto tomar um vinhozinho. Quando finalmente chegou a minha vez, depois do WANDO (cara, o Wando é MUITO FEIO PRA CARALHO) e do Max Fivelinha, a bicha me apresenta como "escritora e apresentadora de TV".

APRESENTADORA DE TV?
Daonde diabos ele tirou aquilo, jamais saberemos.

E essa foi a melhor parte.

Ele me chamou de Clarrá Averrbück, assim mesmo, como se eu fosse algum tipo de francesa. E é óbvio que Averbuck é JUDEU, ele sabia disso, tanto que ficou matracando sobre ventres judeus e essas coisas que quem não sabe o que falar diz. E eu lá, com a sobrancelha direita quase indo parar na nuca, um monte de luzes na minha cara, uma pintura do Clodovil atrás de mim, suando, nervosa, tímida, deslocada, puta e tentando achar engraçado.

Bom, ele não sabia absolutamente nada sobre a minha pessoa e insistiu em me tratar como se eu fosse uma pré-adolescente transgressorazinha e mal-vestida e mimada sem nada a dizer. Em vez de falar do LIVRO, que ele obviamente não leu e nem vai ler, perguntou se eu pegava mulher, se eu me importaria se meu pai tivesse um namorado, sobre o tamanho da minha bunda e uma série de baboseiras que não interessavam a ninguém. Basicamente, uma entrevista inútil. Nem o jantar valeu, era um peixinho mixuruca que não mataria nem a fome do Joo. Fui obrigada a ficar sendo blasé e discordando de praticamente tudo que ele dizia, com exceção do fato de que eu era uma bicha e tinha muitos amigos gays. Esqueci de mencionar que meus amigos praticamente acabaram com meu glitter, mas é que eu estava realmente nervosa. Eu não sou boa com gente, não sou mesmo. Especialmente com gente de ombreiras e bronzeado artificial e que acham que sabem alguma coisa sobre a vida só porque tem 66 anos. Ah, pelo amor de deus. Quer dizer, o Clodovil é um cara legal, ele tem uma puta coragem, acho que foi a primeira bicha assumida da televisão brasileira, mas cara, que entrevista de merda.

Depois, eu e Babai fomos para o Bar Brahma, porque achei que Cidão & o Senhor que Cantava com o Vicentão tocariam. Não, eles não tocariam, estavam de folga. Mas como o acaso é legal às vezes, tinha nada mais, nada menos do que um show dos DEMÔNIOS DA GAROA. Ninguém deve saber, mas Babai, assim como meu avô Léo, o Chirivino, o que deu o sobrenome da minha Camila, ama samba. Ama. Foi lindo, foi muito lindo, eu e Babai bebemos dois champagnes e vimos aqueles velhinhos maravilhosos tocando altos hits do Adoniran Barbosa e sambamos e foi lindo, lindo, lindo. Lembrei do Dan Fante me dizendo para entrar em contato com minhas raízes, me dizendo para ir para a Itália, e ali, no meio daqueles velhinhos do Bixiga e do lado do meu pai, pude sentir a presença do meu avô e toda a minha brasilidade e minha italianice. Ele anda bem perto ultimamente, sabe, desde aquele dia em que lembrei da minha infância e chorei como uma garotinha, meu avô veio para perto, veio para perto da Camila, de mim, e aqui ficou. E não vai sair nunca mais, meu avô querido. E puta que pariu, que saudades de casa, de Porto Alegre, do meu pai, de tocar com meu pai. Dia 2 será meu lançamento, vou tocar e gravar e ver meus amigos e será lindo. Porque afinal, eu preciso entrar em contato com as minhas raízes. Sei que elas estão em todos os lugares, na Itália, na Ucrânia, mas vamos do começo: agora eu quero ir para casa. Só um pouco. Depois eu volto.

.: Clara Averbuck :. 7:55 PM

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