i gave my life to a simple chord

quarta-feira, agosto 07, 2002

Insônia.

Maldita insônia.

Tudo me irrita.

O relógio. O elevador. Os carros lá longe, muito longe. Os aviões. Meu braço, minha cama, meu travesseiro. Meus dentes. Não tinha mais como ficar deitada, era impossível. Para melhorar, quebrei o jota do teclado ontem, enquanto tentava limpar os gatos que ficaram debaixo das letrinhas. Meu teclado está parecendo um mendigo desdentado, sem o jota e sem o insert. Mas o insert fui eu que arranquei, porque não servia para nada e só incomodava. Odeio insert. Arranquem seus inserts e me mandem, estou fazendo uma coleção. Ai, que saco. São 6'18 da manhã e tudo que eu vejo e ouço lá fora é cinza. Cara, eu detesto guardadores de carros que assobiam. Por que eles têm que assobiar? Eles não desconfiam que as pessoas podem eventualmente acordar com os malditos assobios altos deles? O que eles querem, afinal? E por que eles usam uma variedade de silvos longos e curtos? É alguma espécie de código? Será que eles são uma máfia? Eu acho que são. De qualquer forma, gostaria que todos parassem de assobiar agora mesmo, obrigada. Eles e os pássaros. Aposto que foi um pássaro estúpido que derrubou minhas margaridas suicidas, o que as tornaria imediatamente margaridas assassinadas. Mas algo me diz que não. Tenho a impressão que elas fizeram um pacto. Envolve me deixar na dúvida para sempre e tentar acertar os manés do bar ao lado que falam gracinhas para todas as pessoas do sexo feminino que passam por ali.

Porra, eu estou com sono. Minha cabeça dói. Tenho coisas a fazer hoje, milhares delas. São 6'27 da manhã, o dia fica cada vez mais cinza, não consigo dormir e nem internet possuo. O dia em que eu possuir internet de novo, terei tantos emails não respondidos que vou precisar de um assistente. Eu quero responder, quero responder direito, não só uma linha, tem aquele da moça que falou do vestido, tem o do outro rapaz do Rio que conhece um dos Jotas, tem tanta gente legal me escrevendo emails enormes, mas não posso, não tenho como ficar respondendo emails enormes em cybercafés caros, feios, bobos e cheios de japonesinhos gritando e jogando Counter Strike.

Opa, opa. Tem um risco rosa no céu. Nem tudo é cinza, ainda há esperança, mesmo que eu não consiga dormir de maneira alguma. Tentei contar gatinhos. Tentei relaxar, começar pelo pé e ir subindo, mas quando chegava o cotovelo eu já tinha me desconcentrado. Tentei pranayama, tentei tudo. E nada do sono vir. Tudo me irrita. Tenho vontade de quebrar o elevador. Chutar os relógios. Arrancar meus dentes. Depenar meu travesseiro, furar os pneus dos carros e jogar latas nos aviões. 6'42 da manhã, puta que pariu, puta que pariu. Acho que vou fazer cooper. Não, eu não vou. Só queria parar de morder as bochechas, de bater o pé na parede, de pensar. Parar de pensar. Olá, eu sou um vulcãozinho. Você quer ser meu amigo? Por favor, alguém bate com um tacape na minha cabeça e me faz dormir. Eu não agüento mais. Já sei, já sei, vou deitar e pensar no filme japonês interminável que fui ver hoje. Nunca acabava. Depois da vida. Meu deus, como era chato. E longo. Tinha umas 14 horas, mais ou menos. E uma recepção do lado de fora, com direito a Bruna Lombardi,
flashes, descolados e vinho. Muito vinho. Ninguém quis ficar lá comigo, daí eu roubei uma taça de vinho e ganhei uma carona até em casa. Viemos ouvindo o novo do Chili Peppers. Quem fala que parece o Californication é porque não ouviu Chili Peppers suficiente na vida. Eu gostei, tá. Eu quero. Eu preciso. Algo me diz que esse disco vai salvar minha vida. Não tenho critérios com eles, admito, amo os caras, amor incondicional de primeira banda amada. Mas agora eu vou ali lembrar do conceito de pós-vida daqueles japoneses chatos. Já estou quase ficando com sono, só de lembrar. Vai funcionar, eu sinto. Boa sorte para mim, vou tentar desligar o cérebro e já volto.
[:]
Oh, não. Nem os japoneses me fizeram dormir. 7'50 e eu resolvi apelar: cá estou eu abraçada nas sobras do champagne de ontem. Ganhei champagne ontem. Não sei como sobrou, mas ainda bem que sobrou. Estou bebendo para dormir. Porque champagne me deixa molinha, levinha, com vontade de deitar e fechar os olhos e rir. Champagne é doce como uma flor, acaba todos os meus problemas. Se não fosse tão caro, eu seria uma alcoólatra de champagne.
[:]
Meu deus, não é possível. Tem alguém passeando de elevador por aqui. Nunca um elevador subiu e desceu tantas vezes em uma só manhã. A não ser que tenha rolado um revezamento para a compra de pão, cigarros e leite de todos os membros de todos os apartamentos. Quando um está chegando, o outro já espera na porta e assim por diante. Andar por andar. É a única explicação. Só me resta travar o elevador aqui no topo e botar o colchão na porta. Pronto. Resolvido. Claro, eu sou realmente brilhante. Parece um plano infalível do Cebolinha.
[:]
O champagne não funcionou. Ao sinal, 8'23. O dia está cegantemente claro, o sol bate nos prédios e franze minha testa e meus olhinhos de míope. Acho que vou chorar. Tentei de tudo. Tudo. É o fim. Eu nunca mais vou dormir hoje, já entendi tudo. Acontece que não tem a menor graça assim, isolada. É legal quando meus amigos começam a surgir no icq, chegando no trabalho, perguntam "caiu da cama ou virou" e eu digo "pergunta idiota" e eles dizem "óbvio que não dormiu" etc. Então eu leria jornal, baixaria músicas, provavelmente o novo do Chili Peppers, que ouviria incessantemente pelos próximos 2 meses e infernizaria todos à minha volta cantando bem alto e batucando nas coisas, responderia emails, escreveria em todos os meus 80 blogs, voltaria a escrever no meu brazileira!preta - porque os outros são projetos paralelos -, postaria freneticamente, sairia no solzinho, voltaria, leria um pouco, brincaria com o Joo e finalmente ficaria com sono e dormiria feliz. Eu dava um rim para estar na Vila Madalena agora. Esse lugar aqui não tem a menor graça, não tem casinhas nem pracinhas e tem altas cara de São Paulo. Olho pela janela e vejo um bilhão de prédios até onde a vista alcança, o horizonte é feito de prédios, que coisa horrorosa, eu quero voltar pra Vila Madalena. Quero morar no mato. Na praia. Em NY, que compensa o fato de ter prédios. QUALQUER LUGAR. Aqui não.

Olha a mina que mora de favor reclamando.

Ai não.

Sentiu saudades? =D

Nem um pouco.

Ingrata.

Pentelha.

Vai dormir.

Tô tentando.

Tenta mais.

Não consigo.

Claro que consegue.

Sabe, eu não queria começar isso.

Então não fala sozinha.

Eu nunca falo sozinha. Você sempre responde.

Quem mandou nascer em maio? Devia ter nascido em junho, ninguém mandou ser apressadinha e nascer de 8 meses.

Não foi minha culpa.

Oh, não. Foi minha, decerto.

Qual é a diferença?

A diferença é que eu faço sentido.

Eu disse que não queria começar isso.

Então fica quieta que eu também fico.

Filha da puta. Você sempre faz isso pra ter a última palavra, né?

O que eu posso fazer se minhas respostas calam a sua boca? Haha.

...

Viu?

Leve-me, Senhor. Como se muda de signo? Senhor, mudai meu signo.

Mudai nada, você me ama.

Eu não queria começar isso.

Então termina.

Terminei.

Já te disse que os seus finais são sempre uma merda?

Cala a boca.

Não fica putinha.

Eu vou chorar.

Ohh. Deita aqui, vai.

Chuif. Eu só queria dormir.

Dorme, eu canto pra você.

Não quero.

Vou cantar "Conceição".

Não, pára. Eu não gosto.

Conceição...

Buááá

Viu? Não é tão ruim assim ter insônia.

O seu humor é doentio.

Obrigada. Aprendi com você.

Eu vou dormir.

Pô, não vai ouvir o fim da música?

Boa noite.

[Fade]

.: Clara Averbuck :. 5:32 PM

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