i gave my life to a simple chord

segunda-feira, agosto 26, 2002

FUN HOUSE - she's got a tv eye on me
[escrito no bar, atirada no sofá ao som da jukebox - 24.ago.02]

Ok, então eu achei que tinha tido uma noite foda, Irmãos Rocha! (porque Irmãos Rocha! tem exclamação), um monte de gaúchos, um monte de tri e bah e éam e beibeam. O meu sotaque por todos os lados. Meus amigos, o Bel, todo mundo, puta que pariu. Daí tinha a inauguração desse lugar, Fun House. Sabe, os Stooges são meio que meus assim, não se deve sair por aí nomeando festas de Fun House. Mas eu queria ver, queria saber se era um iniciado ou um oportunista. Fun House. Fiz todo mundo caminhar até lá, subir uma puta lomba (lomba, subida, sabe? Oh, os não gaúchos), suar, reclamar. Mas chegamos. Podres, cansados. Morrendo por uma cerveja. Uma casa, tocando Stooges. Fotos do Richard Hell na parede. Um pôster do Bukowski, alô, vou repetir bem alto agora, um pôster do Bukowski, será que vou ter que gritar? UM PÔSTER DO BUKOWSKI, do Hank. Eu disse que iria embora de São Paulo, que estudaria no mato. Que nada acontecia, que yadda yadda yadda. Esqueçam tudo. Agora mesmo, esqueçam todas as minhas reclamações. Morarei nesse bar. De agora em diante, esqueçam meu celular, minha hotline. Desistam. O som é alto demais para que eu escute alguma coisa. Querem me achar? Venham à Fun House. Eu disse Fun House, alô, vou falar mais alto, FUN HOUSE. Hoje é aniversário do Leminski, sabe. E eu virei aqui, na Rua Bela Cintra, 567. Acabou tudo que não seja esse lugar. Nada mais a declarar. Uma vida toda se forma aqui, eu vejo, eu vejo todo mundo conversando e nadando em música boa, música daquelas que salvam o indivíduo e une quem tem que estar junto. Não existia um lugar como esse, não sei antes de mim, mas enquanto, não existia. De agora em diante, o Fun House é a minha casa. E é tudo que tenho a dizer sobre o assunto.
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Eu sabia, eu sabia que o Leminski não me decepcionaria. Logo ele,o gênio da Santíssima Trindade, não me decepcionaria. Porque cada um me deu o que pôde. Fante me deu Arturo, Hank me deu o livro. Não sabia o que esperar de Leminski, o gênio, o kamiquase. Agora entendi tudo. Tudo, tudo, até essa lua filha da puta que me olha mesmo depois do céu já estar claro. Hoje é aniversário dele, sabe? São Paulo Leminski que começou essa coisa de Céu da Cirrose, de Santíssima Trindade. Foi ele que fez isso tudo existir, ainda antes de eu me achar. Eu sabia que algo foda me esperava, sabia que essa lua não poderia estar muda. Estava só esperando, sem esperar nada, como sempre. Soprando a fumaça e falando que não espero nada, mas porra, como espero, como espero. Algo que me faça sorrir de novo iluminando tudo e ficando besta, contando pra todo mundo sem ter nada pra contar, sem abrir a boca, só com o sorriso. Cerveja na mão, 6 da manhã no metrô, me sinto nova. Desde anos, milênios atrás, há 5 meses, não sorria deste jeito. Muito tempo para uma vida curta como a minha. Mas eu sabia, eu sabia que algo me esperava hoje, sabia como quem deita na praia sabe que vai amanhecer, como todas as florzinhas esperam a primavera chegar para abrir os olhos. Eu sabia. Tinha que ser hoje. Hoje. E foi. E não importa o que aconteça, eu sorri. Em nome de São Paulo Leminski, amém. Eu já sabia.

.: Clara Averbuck :. 5:08 PM

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