segunda-feira, agosto 26, 2002
[domingo de manhã/noite - 25.ago.02]
Fui, né? Não disse que ia? Encontrei dois leitores. Os dois sabiam meu nome. Juntei um da escada. Bêbado. Só lembrou de mim depois, quando tinha até consciência. Foi ele que me mandou as coisas legais de aniversário. Bateu um orgulho quando soube que era meu leitor. Caindo de bêbado, perdendo a linha, me orgulhei. Quase invejei. Cheguei apenas à fase "ok, Clarah, você consegue andar reto". Pensando "marry me". Só hoje, marry me. Só até a gente praticar o Hank até a exaustão. Já disse que ando testando coisinhas? Ando. Vocês saberão. Será que não? Acho que saberão. Eu saberia. Acho. Porque mal acerto o teclado, que é parte de mim. Porque o último mês passou longe de ser sóbrio. Porque eu quero mesmo que seja assim. Dormir bêbada e acordar para estudar línguas mortas depois de tomar essas coisas de quem tem essas coisas que tenho.
Dona Neosaldina, como está a senhora esta noite? Como vai seu marido, Seu Epocler? Diga que mandei um forte abraço ao garotão e à sua filha, a jovem e formosa Eparema.
Caminhar até o metrô às 7 da manhã chutando a mesma garrafa plástica e falando sozinha, bem alto. Acordar com dor nas pernas, não estou acostumada jogar futebol. "Quer carona, gata?" "Não sou puta" "Ah". É que eu tava com o vestido rosa de quando eu me apaixono. Acordei agora, 8 da noite, achando estranho estar escuro. Não gosto de acordar à noite. Cozinhando meu almoço da semana, em duas panelas grandes. Arroz selvagem, que surpreendetemente nada tem a ver com a catuaba selvagem, e lentilhas. Se me pagarem amanhã, terei dinheiro. Senão, nunca mais. Só no ano que vem, depois de 31 de dezembro, pode uma coisa dessas? Aceitamos doações. Tratar aqui. Aceitamos bebidas e alimentos não-perecíveis e integrais. Sabe, minha família é vegetariana e integral, só sei comer essas coisas. Porque não basta passar fome, tem que ser fresca.
Quantas mulheres disseram "marry me" e saíram pra beijar outro cara? Francamente, nenhuma. Não que seja uma boa idéia, não é, mas porra, uma garrafa de vinho e mais aquelas cervejas todas não me deixaram escolha senão dar um vexamezinho, nem foi tão grande, eu só não tinha dinheiro pra pagar a conta. Mas não tem problema, eu moro lá e doei meu pôster da Duff pra eles.
A Anne será minha companheira de línguas mortas. Compraremos dicionários e aprenderemos tudo sozinhas, para nada. A síndrome das línguas mortas fez mais duas vítimas. Além disso, ele tinha um cão palíndromo. Compraremos dicionários, fumaremos cigarros, aprenderemos a falar grego e praguejar em Íidiche. Talvez japonês. Antes, grego e latim.
Situação patética do dia: não tenho mais fósforos. Acendi uma vela com o último, roubado do meu amigo na tarde de ontem, e fico acendendo cigarros e incensos ali. Poxa, cara. E amanhã? Não posso dormir com uma vela acesa, é claro que a casa pegaria fogo e eu morreria presa no último andar e sem internet.
E não me perguntem sobre literatura, sobre subjetividade ou objetividade. Não sei falar, só fazer. Um dia saberei, junto com as línguas mortas. Mas agora eu não sei, então não perguntem. Sei ler e escrever. Não sei falar.
Então vou dormir, porque tudo dói, tudo duro ["como o lutador", diria a Mari]. Aaaai, ai.
.: Clara Averbuck :. 5:09 PM
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