quinta-feira, julho 18, 2002
Red Hot Chili Peppers
[18.jul - 2'24AM]
Esse negócio de ficar sem internet perdeu totalmente a graça. Chega. Espero ansiosamente os homens do Speedy por aqui nos próximos dias. Venham logo, homens do Speedy. Obrigada, Moço Que Pagou O Speedy. Você vai para o céu, é sério. Obrigada do fundo do meu coraçãozinho murcho. Não estou com a menor vontade de sair da minha casinha, nem para ir até a esquina. Todas as minhas coisas paulistas estão aqui agora, está tudo limpo e organizado e eu fumo cigarros e acendo incensos para acabar com o cheiro de cigarro, olhando em volta, contentíssima por estar sozinha nesta casa com esta vista e meus cds na geladeira. Pois é. O moço dono da casa deixou sua geladeira aí, então a minha está na sala, servindo de porta-cds. O ferro está guardado no congelador e as fitas estão nas prateleiras da porta. Sensacional.
Ando possuindo reais nos últimos dias, então resolvi comprar. Só quem não possuiu reais sabe como é bom poder comprar. Adoro comprar coisas. Não toneladas de coisas, como fazia quando era recebida com nobreza e tinha alcovas de cetim. Coisinhas, porta-retratos e imãs de geladeira e meias e calcinhas novas porque as minahs estavam imprestáveis e livros baratos da L&PM e coisinhas, coisinhas pequenas e baratinhas. Um despertador da Barbie que parece saído de um cartoon, uma caneca de coração, só bobagem. Porque agora minha casa virou casa de gente. A outra era grande demais e parecia que nunca estava limpa e que as coisas estavam espalhadas por todos os lados, todas distantes umas das outras e frias e caladas. Aqui está perfeito, é do tamanho certo para mim, tudo conversa e eu fico quieta. Ando quieta, quase muda. Conseguiram me derrubar, acho, mas já levantei e estou saindo do banho, com aquela moleza pós-vapor. Daqui a pouco me visto e saio para a rua de novo e tudo volta ao normal. O Joo e os Outros chegarão, meus gatinhos lindos. Ainda não os trouxe porque aqui é muito alto e tenho medo que eles caiam. Se o Joo cair, eu me atiro atrás. Na hora. Talvez algum anjo surja e ampare os dois ou entregue um pára-quedas ACME para cada um, mas como acho pouco provável, prefiro esperar que as telas sejam colocadas nas janelas. Telas baratinhas, para poder tirar e levar junto depois onde quer que eu vá.
Minha pimenteira sobreviveu. Quando sequei, ela secou junto. Pensei que fosse morrer, mas ela é a minha pimenteira e não só sobreviveu como está cheia de folhas novas e deu à luz a sete novas pimenteirazinhas. Essa é a minha planta.
Mas ainda está tudo vazio e gelado. Estou pairando no silêncio. Deve ser a falta de internet. Deve ser a falta de bolas. Deve ser a falta do que achei que seria e não foi. Mas a Raquel me disse que chega, senão daqui a uns dias vou começar a me perguntar por mim mesma e não vou me achar. Cessei de sofrer, Raquel. Estou apenas em suspenso e às vezes volto ao turbilhão, mas só porque gosto dele. Mentira. Ele surge e me arrasta e não tenho forças nem vontade de lutar. Antes me surpreendia, agora é só "oh, você de novo", e eu vou, e vou, e nado e engulo um monte de água para depois secar ao sol, deitada na praia, sozinha. Sozinha. Sozinha. Isso nunca vai ter fim.
Preciso comprar um espanador. Um espanador e um roupão. Não quero mais viver sem roupão, depois de passar um fim-de-semana de governanta na casa do meu amigo M. Fiquei sozinha lá, vendo 200 filmes e dormindo e escrevendo e usando o roupão felpudo dele. Procurei por todos os lados um roupão felpudo rosa, mas só achei branco e não posso usar essas coisas brancas porque desboto. Sério. Meu cabelo desbota muito. Então preciso de um roupão rosa ou vermelho. Felpudo e quentinho. Não vou nunca mais usar roupas em casa, só o meu roupão felpudo, se algum dia eu possuir um, junto com pantufas para manter meus pés feios quentinhos.
Someone to watch over me.
Buscando alguma coisa que não sei direito o que é, talvez seja amor, talvez seja inspiração, ar, estou trancada no porão e preciso daquelas lufadas de ar puro, limpo, que vem junto com uma caralhada de luz arregaçando minha alma e meu sorriso e me fazendo levantar do cantinho em um salto e correr para a porta, que sempre fecha na minha cara. É isso. Vivo trancada em um porão e às vezes algumas pessoas abrem a porta da cela e me dão ar e luz e algumas palavras para que eu me enrosque e me esquente, algumas palavras de lã macia. Quando estou quentinha e pronta para sair, blam, a porta bate na minha cara.
Mas se é assim que tem que ser, eu deixo. Se é assim que terei que viver, eu vivo. Porque eu sobrevivo, como a minha pimenteira, que no fim do inverno vai estar cheia de pimentinhas vermelhas como sangue, pronta para tê-las arrancadas e para fazer mais pimentinhas até o dia em que secar completamente.
.: Clara Averbuck :. 10:24 PM
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