i gave my life to a simple chord

quarta-feira, julho 31, 2002

Out of order
[29.07]

Tô com o meu livro na mão. O 000001.

Não sinto nada. Nada. Achei que sairia virando cabalhotas, mas nada.

Nada.

Deve estar nas livrarias até sexta.

Sigh.

Cheguei em casa, tudo em silêncio, sozinha, sozinha, sozinha. Ninguém pra dividir. Ninguém para acender charutos e me parabenizar pelo primeiro filho. Ninguém. Só uma garrafa de JB que eu roubei do meu amigo M. Que merda, sabe. Nem o Joo está aqui ainda.

Algumas coisas não valem nada se você não tem ninguém pra te abraçar. Quem tem não é quem você quer, então não é ninguém.

É foda. Eu vivo querendo ligar, vivo pensando "mas ele tinha que saber disso" e "o que ele acharia daquilo" e "o que ele faria no meu lugar", vivo querendo mostrar coisas para ele, mas que caralho, ele não fala comigo. Porque não.

Faz uns dois meses que meu coração parou. Não bombeou uma puta gota de sangue para o resto do corpo desde que voltei. Vou precisar de uns socos no peito, umas descargas, uns gritos na cara. Talvez não adiante nada. O filho da puta finalmente parou.

Nenhum ventinho, nenhuma luz, nada me move. Acho que cheguei ao fundo de alguma coisa e atolei. Acabou a queda. Estou imóvel. Nada acontece. É favorável ter para onde ir, mas não tenho a menor vontade de me mexer. Me sinto um fio encapado, impossibilitado de dar choques. Nada.

Chamaram de depressão pós-parto. Muito engraçado.

Um monte de gente pedindo o livro. Olha só, eu não sou um vendedor ambulante de poemas. Eu não sei nada sobre as vendas. Vocês precisam falar com as livrarias. Vai estar nas livrarias, na siciliano, na saraiva, esses lugares assim. Que eu saiba, eles mandam para o Brasil inteiro.

Cansei do meu livro. Não agüento mais olhar para a capa dele. Não quero mais ver. Não quero nada. Não suporto mais esse hype idiota, não quero ninguém me achando "muito phoda" ou querendo ter a minha vida. Isso é ridículo. Minha vida é uma merda, será que vocês não vêem? Mas eu não queria ter a vida de ninguém. É que nem o meu nariz: é uma merda, mas é meu. I just wanna play my music. Quando entrevistei o Fabrizio, ele ficou falando que achava uma merda o hype em volta dos Strokes, que eles nem liam as coisas sobre eles na imprensa e ficavam irritados com aquela merda toda. Eles só queriam tocar. "We're all ugly, man". Somos feios, cara. Somos todos feios e usamos as mesmas roupas desde o colégio. Agora eu entendi tudo. Somos feios, cara. Sem dinheiro para comprar leite e com saudade do meu gato.

Eu gosto de ser gostada e entendida, mas não gosto de adoração cega. Qualquer coisa cega é burra.

Dane-se o hype. Só quero escrever em paz.

- Eu gostaria, se fosse você.
- Eu também gostaria. Mas agora que sou, não gosto mais.


Procurem outro lugar, crianças. O parquinho está fechado. As luzes estão apagadas. Fechado para balanço estático. Estou de férias até não querer mais estar de férias. Vou ver se arrumo um emprego de garçonete por aí. Vou terminar meu livro em paz. Vou voltar a correr e a rolar no chão dos bares, de preferência do bar em que eu trabalhar, para beber de graça. Arrumar umas pessoas novas e alguma bebida bem forte pra me companhar. Meu saco está cheio demais para ser carregado.

Quando eu voltar, eu volto. Talvez amanhã ou depois, falando coisas como "mas onde eu estava com a cabeça" ou "maldita tpm" ou "fuzimo de Bento" ou "vamos todos ao lançamento do meu livro". Eu sou assim mesmo.

cansei.

.: Clara Averbuck :. 3:41 AM

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  • wanna find me?
  • miau?
  • me espalhe, sou uma peste
  • eu leio a bust