i gave my life to a simple chord

sexta-feira, julho 26, 2002

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo

É o seguinte: preciso me divertir. Muito. Rápido. Preciso de uma puta noite agora mesmo. Preciso de uma noite inteira de sexo muito suado. Quero escorrer.
Desabar.
Perder a linha.
Me acabar.
Quero um show de róque com vinho, cigarros e sexo e guitarras distorcidas. Não tudo ao mesmo tempo. Se bem que... uh.

Quero meus amigos, música boa, pessoas felizes à minha volta, ninguém fofocando maldades e mentiras. Quero ver o ar leve e sorrisos por todos os lados, quero meu coração dançando um pouco. Coitado, está duro, todo dolorido. Assim, fisicamente. Estou com dor no coração, passei o dia com dor no coração. Minha boca, meus olhos e meu nariz estão secos, como se eu tivesse sido acimentada por dentro. Na verdade, duvido que alguma coisa esteja funcionando bem dentro de mim hoje. Acordei toda errada, toda fodida, torta, inchada, feia e dolorida. O que é isso, hein? Talvez sejam as Novas Doses do Doutor Boleta, que aumentou tudo e nem avisou. Oh well. Se alguém encontrar meu fígado passeando em Acapulco, diga que mandei um alô.

Nem vontade de escrever eu tive. Escrevi, é claro, mas não tanto quanto escreveria em um dia normal. Um dia normal consiste em escrever praticamente o tempo todo em que estiver acordada.

Tem alguma coisa errada e eu não tenho a menor vontade de descobrir o quê nem aonde.

Quero paz, paaaz, pelo amor de Bunker Hill, em nome de São Chinaski e São Paulo Leminski, encontrem a minha paz e me devolvam, eu não agüento mais olhar para cima, não agüento mais olhar para dentro, não agüento mais nada disso, nada, não, chega.
PÁRA TUDO. NÃO TEM NADA ACONTECENDO.
Só coisas que não me interessam, essas coisas práticas do mundo dos prazos de validade.

Estagnação, água parada. Vou sair por aí pisando em poças e sacudindo árvores.
Mas o que eu estou dizendo? Não choveu. Não chove há tempos. O mundo está seco. Cheio de folhas mortas no chão. Preciso de um gole de qualquer coisa. Preciso me apaixonar de novo. Preciso me apaixonar forte, preciso me perder e ficar cega e sentir alguma coisa que não se repita. Cansei de ver o mesmo filme. É lindo, maravilhoso, o filme mais lindo de todos os tempos, mas já decorei todas as falas.

Por favor, me tragam um filme da Meg Ryan. Eles sempre acabam bem.

Preciso do meu gato, preciso urgente e desesperadamente do meu gato, mas tenho medo que ele caia da janela, então penso duas vezes antes de buscá-lo. Não posso mais ficar sem o meu gato. Nunca pude, mas agora está insuportável. E eu não tenho dinheiro para botar telas nas janelas. E eu não posso ficar trancada aqui com as janelas fechadas, morreria afogada na fumaça. E preciso do Joo, preciso, preciso, não dá pra ficar sem o meu amor felpudo mais um dia. Está decidido. Amanhã ele volta e morreremos abraçados, sufocados na fumaça de Lucky Strike Ultra.

Minha tarde foi ridícula. Fiquei andando pela casa. Andando, andando, dando voltas e mordendo as bochechas. Sinto-me em uma cela, em uma torre, a mais alta do castelo. Inacessível, incomunicável, quicando por todos os cantinhos do lugar ao som de Yeah Yeah Yeahs.

Acho que vou comprar umas tranças e pendurar na janela.

Então eu saí, peguei o metrô e me irritei com as PESSOAS BURRAS que insistem em ENTRAR NO METRÔ ANTES QUE OS QUE LÁ ESTÃO SAIAM. Isso me deixa maluca. Odeio metrô, todo mundo corre e tem pressa, como se fosse o último trem fugindo do Grande & Assustador Peixe Diabólico. Odeio pressa, odeio apressadinhos, odeio o sorrisinho de vitória no rosto daqueles esbaforidos que se acotovelam lá dentro segundos após as portas se fecharem. SÃO APENAS 5 MINUTOS DE INTERVALO ENTRE OS TRENS. Outro chegará em 5 MINUTOS. O que essas pessoas fazem com 5 MINUTOS na vida delas? Aposto todos os meus mamilos que não fazem NADA de útil. Só incomodam e atrapalham o cidadão calmo que está tentando se locomover sem virar uma anchova esmagada no canto.

O resto do dia simplesmente escoou direto para o ralo. Continuei me sentindo isolada, inacessível, incomunicável. Só conseguia dizer NÃO, um categórico NÃO, e balançar a cabeça pelas 3 horas que se seguiram. NÃO.

NÃO.

Duas horas depois, levei um beliscão na bunda e disse sim.

SIM.

Mal acredito nisso.
Eu, meu avô, meu amigo Delaney e... bom, vocês saberão em breve. Tenham medo. De verdade.

Fiz bem, acho. E se não fiz, foda-se. Será só mais um dia, mais um fracasso, mais um cigarro esmagado no cinzeiro.

Viver é temporário.

Criar é atemporal.

Se algum dia eu parar de criar, por favor, chutem meu rabo em praça pública. Cortem minha cabeça, rasguem minha pele, vazem meus olhos, arranquem minha língua e minhas unhas, me esquartejem e vendam os pedaços no ebay. Pensando bem, eu mesma me encarregarei disso. Tirando a parte do ebay, porque estou sem internet.

Achei o dia de hoje completamente inútil até sentir o tal beliscão na bunda. Eram os caras me dizendo "porra, Clarah, deixa de ser cuzona" e me olhando lá de cima, com as mãos na cintura. Daí eu fui lá e fiz. Minha especialidade é ir lá e fazer. Porque os caras estão sempre comigo, na minha cola. Sempre. Os três estão sempre cuidando de mim, minha Santíssima Trindade, muito mais sagrada do que qualquer santo de louça vestindo mantos virgens com os olhos e as palmas voltados para o céu.

O Pai tem um cão e bebe vinho.
O Filho tem um copo e um barrigão.
O Espírito Santo fazia judô e é meio hippie.

Minha Santíssima Trindade, sempre comigo, até que eu esteja com eles.

.: Clara Averbuck :. 5:04 PM

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