i gave my life to a simple chord

domingo, junho 02, 2002

Yesterday

Eu estava apaixonada.
Deu pra notar?
Oh.
Eu estava enlouquecidamente apaixonada, como nunca estive antes. E ele era perfeito. E gostava de mim. E escrevia bem e era lindo e foda e foi lindo e foda quando ficamos juntos e ele dormiu segurando a minha mão. Muito foda. Ele não fugiu de mim... Nas primeiras semanas. Depois ele sumiu pra sempre. Pra sempre. Nunca mais.

Ontem eu peguei meus culhões e fui lá. Meus culhões, dez latas de cerveja, duas amigas e uma noite em claro e fui. E pedi uma dança e perguntei. Não sei porque eu pergunto.

- Minha vida está em queda livre.
- Eu não posso ficar com você. Preciso de uma mulherzinha. E você não merece se transformar em uma mulherzinha.
- Gosto mais do que você escreve do que de você.
- É que eu me apaixonei de novo. Mas as coisas que escrevi pra ela não são tão boas quanto as que escrevi pra você.

Podia ter me dito antes. Podia ter me dito, avisado. Oh, sim: pega as coisas que escreveu pra ela AND SHOVE IT. Elas não são tão boas mesmo. Aliás, duvido que você consiga ser tão bom de novo. Nem eu. Isto é uma maldição. Dias imaculados, my love. Dias imaculados.

Chorei em público. Muito. Vocês me imaginam chorando em público? Na casa de alguém, de costas para as pessoas, virada para uma janela que dava para um prédio, cercada de desconhecidos. Soluçando. Chorando muito, muito, com um punhal no peito. Nunca senti tanta dor. E olha que eu sei sentir dor. Não parei de chorar até agora, se querem saber. Estou um lixo. Chorei em público, em um corredor, enquanto as pessoas não entendiam porra nenhuma e deviam achar que eu era só mais uma bêbada sentimentalóide.

- Eu preciso de uma mulherzinha.

Chorei, chorei, chorei a viagem inteira, as palavras ecoando na minha cabeça, zumbindo nos meus ouvidos, uma noite sem dormir, um dia inteiro bebendo. Ele não gosta de mim. De novo. De novo. E de novo, e mais uma vez, e de novo, até sobrar só um caroço morto de mim e cem pilhas de papéis rabiscados.

Vou morrer sozinha, eu sei.

Nunca vou esquecer esse cara. Nunca. Nem se eu quiser.

Preciso me mudar. Preciso arrumar minhas coisas e terminar um trabalho que não consigo terminar porque estava ficando maluca. Duvido que termine agora. Duvido que termine qualquer coisa agora. Virei um trapinho no canto da sala.

Ontem eu disse que não sobreviveria desta vez. Que não ia dar, que não ia, que eu queria morrer.

Eu sobrevivo. Puta que pariu, eu sobrevivo. Que merda.

.: Clara Averbuck :. 1:36 PM

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