quarta-feira, junho 19, 2002
Queen of the Highway
[ontem]
Voltei.
Cheguei.
Estou viva, como sempre.
Mas só porque o Nix me salvou. Já estava cogitando vender coco na praia, sabe. Pra ser sincera, a opção não me parecia tão ruim comparada com voltar para São Paulo.
A coisa chegou ao insuportável. Meus gatos não estão mais aqui - foram para a creche da Tia Gisele -, não tem internet, não tenho dinheiro pra cybercafé, não consigo encontrar mais nada no caos das caixas, o chuveiro não funciona e os homens continuam martelando. A porra do dia inteiro martelando, martelando. Não fez muita diferença porque consegui dormir muito, não sei como. Dormi a viagem inteira e o dia inteiro. Acordei agora, 7 da noite, totalizando dezessete horas de sono. Como diriam os gatos, life is hard, then you nap. Deve ter sido defesa contra São Paulo. Acontece que pobre é infeliz em São Paulo. Já no Rio, é só sair pra dar uma voltinha na praia, tomar um ventinho na cara que passa. Não passa a pobreza, claro, mas qualquer um é mais feliz podendo dar uma voltinha na praia. E é por isso que decidi mudar para lá de uma vez por todas. Sem ahhs e ohhs. Passo mais um tempinho aqui no meu hotel em frente à pracinha e quando possuir reais, um apartamento lindão (era o que dizia no anúncio) me espera em Copa, pertinho do Nix, da Helena, da Ciça, do Fred e do mar.
Talvez eu volte. Talvez eu nunca mais volte. Talvez eu fuja para NY de navio. Talvez eu volte. Mas agora, preciso do mar.
Ninguém entende quando falo do mar. Não quer dizer que eu seja uma daquelas pessoas que fica o dia inteiro com a bunda assando ao sol. Au contraire, minha bunda é branco starfix, mesmo com resquícios das marquinhas de biquíni que adquiri dia desses na casa do meu amigo M. Meu negócio é ficar olhando para o mar. Olhando as ondas, ouvindo o que ele diz, respirando junto com as ondas enquanto olho o céu sempre mudando de cor lá atrás. Um dia o mar falou comigo. Talvez ele fale sempre, mas foi a primeira e única vez que ouvi. Voltava para casa de manhã, torta de bêbada, quando ele disse um nome, cantou para mim o nome do menino que eu amava. E eu olhei, porque chamar o nome dele era como chamar o meu; fomos um naqueles dias, eu e o menino que eu amava. E o mar cantava o nome dele, indo e vindo. Sorri. E escrevi. Os nomes foram trocados para não causar morte e alguns dos erros bêbados foram corrigidos para melhor compreensão. Não todos, senão perde a graça.
xxx
Arturo
Ar-tu-ro.
Bebi. Bebi pra caralho, não devia, mas bebi pra caralho, muita cerveja.Estou bem. Prometo não corrigir uma linha disso tudo antes de te
mandar.
Vi o primeiro lampejo da luz do sol. Vi o céu mudando de cor, vi o breu se
tranformar em azul e quis que você estivesse aqui comigo, porque ninguém mais daria bola para as nuances do céu bêbado em cima do mar. O mar é lindo, as ondinhas ficaram quebrando todas brancas na areia e dizendo Arturo, Arturo, eu juro que elas estavam cantando o teu nome, eu ouvi.
AAAAAAAAAAAAAAAA
EU TE AMO LOUCAMENTE, EU TE AMO DESESPERADAMENTE, EU NUNCA VI NADSA ACONTECER DESTE JEITO, ISSO ME FAZ ACREDITAR EM AMOR E EM TUDO MAIS QUE EU ACHAVA QUE NÃO EXISTIA ASSSIM. EU ACREDITO EM AMOR. EU TE AMO, PORRA. EU TE AMO.AND I DON'T CARE IF YOU DON'T WANT ME, I'M YOURS RIGHT NOW.
Vou ouvir BRMC e lembrar de ti e da minha cama e da tua carinha linda
ouvindo e concordando que é foda e me abraçando e aiaiai Arturo, sábado eu chego, amanhã eu chego, vamos na Mercearia, vamos dormir juntos, vamos acordar juntos e beber vinho no café da manhã, vamos ouvir o disco inteiro, agora eu tenho o disco inteiro, vamos dormir juntos. Fica comigo. Fica comigo, fica comigo, fica comigo. Fica comigo até o céu mudar de cor de novo. Fica comgio até eu parar de acreditar em amor, nesta merda de amor que me pegou e me comeu de ladinho e me fez acreditar em tudo que eu achava que era fairy tale.
aaaaaaaa
alksjd
eu tou muito bebada,mutio, eu nao quero mais digirtar cuidadosamentem
eu so queria quer tu estuvesse comigo agira jmnalksjndjasd
eu nãon asff
eu te amo, porra.
xxx
Acho que não percebi o céu mudando de cor de novo, porque ele foi embora. Ou melhor, ele simplesmente não voltou. Mas foi tão lindo, tão lindo, tão sagrado e intocável, como quando o mar falou comigo. Nunca mais vai acontecer nada assim na minha vida, eu sei. O mar disse o nome dele. Talvez por isso eu ame tanto aquele cara. Porque consegui ouvir mar cantando o nome dele. Sei que ele notaria as nuances do céu bêbado comigo, ele olha para as mesmas coisas que eu. Especialmente para ele. Acho que ele nunca olhou para mim de verdade. Mas tudo bem, porque eu olhei para ele e isso me rendeu um livro.
Me disseram que não devo demonstrar meus sentimentos, que homens não gostam de mulheres fáceis e têm medo de mulheres intensas.
Conversa.
Quer dizer, pode até ser verdade, mas não valeria nada me apaixonar sem poder me entregar e contar tudo para ele, escrever tudo para ele e tornar tudo inesquecível e maravilhoso até o fim. Porque tudo acaba. Coisas longas demais são muito chatas e normalmente tornam-se mentiras depois de um certo tempo.
Quando eu casar, quero mudar "até que a morte os separe" para "até que o fim os separe".
Se bem que acho que a morte pode perfeitamente ser a morte do amor, que é o fim.
Então é isso, meus queridos. Vou m'embora para o Rio, morar com minha amante mulata com sotaque carioca. Às vezes a gente precisa se separar da nossa mulher para descobrir o quanto gosta dela. E às vezes a gente se separa e nunca mais volta, mesmo depois de largar a amante. Só vou saber quando chegar lá. Agora ela me espera de pernas abertas, a minha amante carioca. E eu tenho que ir. Eu vou.
.: Clara Averbuck :. 9:04 PM
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