domingo, junho 23, 2002
O retorno da Pantera Cor-de-Rosa
Eu disse que encheria a cara ontem. Eu disse.
Meus cotovelos estão ralados e não sei onde está minha calcinha. Não que tenha acontecido alguma coisa entre as minhas pernas, não me entenda mal. Não aconteceu nada. Por que aconteceria?
Simplesmente não lembro da noite de ontem. Não lembro.
Sei que sambei. É, eu sambei. Era uma festa cool samba rock cool ultra cool com muita gente feia e nanica. Eu e meu amigo A. éramos as pessoas mais altas do lugar. Nos restou beber. Beber muito. Sabe, encher a cara de verdade. Uísque. Muito uísque. Todo o uísque do bar. Então eu fiquei com tédio e resolvi me fazer de americana. Não é muito difícil de acreditar, já que sou branquela, tatuada e de cabelo rosa. Cheguei para um nanico qualquer e comecei a falar inglês com ele. Falei que era de NY e que tinha me perdido do meu amigo (detalhe: o lugar era minúsculo, impossível de perder um brinco). O inglês dele era uma merda bem grande. E é isso que eu lembro. Não sei como cheguei em casa, não sei como ralei meu cotovelo, não sei onde está minha calcinha. Tenho alguns flashes de cenas, tudo muito embaçado e colorido e escuro, mas não lembro de nenhuma situação.
OH! Lembrei o que aconteceu com a calcinha.
Fui ao toalete das moças e ela rasgou. É, rasgou. Era de rendinhas delicadas e eu estava violentamente bêbada. Rasgou na pressa de me esvaziar. Arranquei a pobre calcinha mutilada e a deixei pendurada no trinco do banheiro. Foi isso.
Fazia tempo que eu não me perdia. É bom se perder. Especialmente porque eu sempre me acho no outro dia de manhã. De ressaca, ainda vestida, com uma puta dor de cabeça e sem saber o que aconteceu com meus cotovelos ou onde estão minha calcinha e minha dignidade, mas me acho. Sempre me acho. Adoro me perder.
.: Clara Averbuck :. 4:55 PM
|