i gave my life to a simple chord

quinta-feira, junho 27, 2002

New birds that will project me along a wire from the underground into the air, into the world

Há uns dias, a Anne, minha garota, me mandou uma letra. E eu fiquei dias pensando na letra. Só nela. É uma das melhores coisas que já li. O nome da banda é Migala e eles são espanhóis. O nome da música é The Gurb Song e não é exatamente o tipo de coisa que eu gosto. Algo da coleção de Arab Strap e Godspeed You Black Emperor!, que até têm umas coisas legais só que acaba sempre me dando sono, misturado com Tindersticks, que eu gosto. Mas tá, tenho que admitir que as LETRAS DO ARAB STRAP SÃO GENIAIS. MUITO DJENIAIS. Mas não quero dispersar. Quero que vocês todos que entendem inglês leiam a letra. E quero que os que não entendem leiam também, porque se eu estou aprendendo francês com meu Furby, vocês conseguem entender uma letra em inglês. Sério, é muito foda. Fiquei meio catatônica quando li de tão foda que é. E a música é uma coisa meio minimalista, cheia de silêncios e barulhinhos, e a letra é recitada, e o vocalista tem altos sotaques FROM DÃ BORDER, bem chicano falando inglês, mas é tão lindo, tem uma singeleza e uma doçura naquele sotaque que misturado com aquela letra maravilhosa, me fez ouvir a música no repeat por uma noite inteira. E eu acabei de chorar de novo ouvindo essa letra maravilhosa e vou ouvi-la no repeat de novo e continuar chorando - claro que vou chorar, ando muito emotiva nos últimos dias, será que isso é bom?- , porque é linda para caralho e porque quero ignorar completamente as cornetas idiotas e os fogos e os urros, quero ficar aqui, trancada na minha casa desmontada, só meu colchão e meu computador no meu quarto. Quero esquecer o resto do mundo. Só eu e essa letra. E os pássaros. Porque é esse o ponto.

The Gurb Song

I wanted someone to enter my life like a bird that comes into a kitchen and starts breaking things and crashes with doors and windows leaving chaos and destruction. This is why I accepted her kisses as someone who has been given a leaflet at the subway. I knew, don't ask me why or how, that we were gonna share even our toothpaste. We got to know each other by caressing each other's scars, avoiding getting too close to know too much. We wanted happiness to be like a virus that reaches every place in a sick body. I turned my home into a water bed and her breasts into dark sand castles. She gave me her metaphors, her bottles of gin and her North Africa stamp collection. At night we would talk in dreams, back to back and we would always, always, agree. The sheets were so much like our skin that we stopped going to work. Love became a strong big man with us, terribly handy, a proper liar, with big eyes and red lips. She made me feel brand new. I watch her get fucked up, lose touch, we listened to Nick Drake in her tape recorder and she told me she was a writer. I read her book in two and a half hours and cried all the way through as watching Bambi. She told me that when I think she has loved me all she could, she was gonna love me a little bit more. My ego and her cynicism got on really well and we would say "what would you do in case I died" or "what if I had Aids ?" or "don't you like the Smiths" or "let's shag now". We left our fingerprints all around my room, breakfast was automatically made, and if it would come to bed in a trolley, no hands. We did compete to see who would have the best orgasms, the nicer visions, the biggest hangovers. And if she came pregnant we decided it would be God hand's fault. The world was our oyster. Life was life. But then she had to go back to London, to see her boyfriend and her family and her best friends and her pet called "Gus". And without her I've been a mess. I've painted my nails black and got my hair cut. I open my pictures collection and our past can be limitless and I know the process is to slice each section of my story thinner and thinner until I'm left only with her. I've felt like shite all the time no matter who I kiss or how charming I try to be with my new birds. This is the point, isn't it ? New birds that will project me along a wire from the underground into the air, into the world.

TÁ BOM, EU TRADUZO! VOCÊS PRECISAM LER.

Queria que alguém entrasse em minha vida como um pássaro entra em uma cozinha e começa a quebrar coisas e esbarrar em portas e janelas, deixando caos e destruição. Por isso aceitei seus beijos, como quem ganha um panfleto no metrô. Sabia, não pergunte porque ou como, que dividiríamos até nossa pasta de dentes. Nos conhecemos melhor cuidando das cicatrizes um do outro, evitando chegar perto demais de saber demais. Queríamos que a felicidade fosse como um vírus que alcança todos os lugares de um corpo doente. Transformei minha casa em um colchão d'água e seus seios em castelos de areia negra. Ela me deu suas metáforas, suas garrafas de gin e sua coleção de selos da África do Norte. À noite, conversávamos em sonhos e sempre, sempre concordávamos. Os lençóis pareciam-se tanto com nossas peles que paramos de trabalhar. O amor tornou-se um homem forte, terrivelmente acessível, um mentiroso, com grandes olhos e lábios vermelhos. Ela me fez sentir novo. Assisti a ela se foder, lose touch, ouvimos Nick Drake em seu gravador e ela me disse que era escritora. Li seu livro em duas horas e meia e chorei o tempo todo como se estivesse assitindo Bambi. Ela me disse que quando eu achasse que ela tinha me amado tudo que poderia, ela me amaria um pouquinho mais. Meu ego e seu cinismo se deram muito bem e nós dizíamos "o que você faria se eu morresse?" ou "e se eu tivesse Aids?" ou "você não gosta de Smiths?" ou "vamos trepar agora". Deixamos nossas impressões digitais por todo o quarto, o café da manhã era feito automaticamente, e se viesse em um carrinho, sem as mãos. Competíamos para ver quem tinha os melhores orgasmos, as visões mais bonitas, as maiores ressacas. E se ela engravidasse, decidimos que seria culpa das mãos de deus. O mundo era nossa ostra. A vida era a vida. Então ela teve que voltar para Londres, para ver seu namorado e sua família e seus melhores amigos e seu bichinho chamado "Gus". E sem ela, virei uma bagunça. Pintei minhas unhas de preto e cortei meu cabelo. Abro minha coleção de fotos e nosso passado pode ser ilimitado e eu sei que o processo é fatiar cada seção da minha história, deixando-a mais magra e mais magra até que fique sozinho com Ela. Me sinto uma merda o tempo todo, não importando quem eu beijo ou o quão galante tente ser com meus novos pássaros. É esse é o ponto, não é? Novos pássaros que vão me jogar ao longo de um fio do subterrâneo para o céu, para o mundo.

[7'32AM]

.: Clara Averbuck :. 12:08 AM

Acesse os arquivos por aqui:

  • wanna find me?
  • miau?
  • me espalhe, sou uma peste
  • eu leio a bust