sábado, junho 08, 2002
Ain't got time to make no apology
[7.6 - 7'28PM]
Esses foram os dias mais rápidos da minha vida. Meu deus, já é sexta de novo. Faz uma semana que estava rastejando ajoelhada no meu quarto e perguntando porque e enchendo a cara e me descabelando e não dormindo e me recusando a acreditar que meu pesadelo era real. Era, nunca foi tão fodidamente real, mesmo enquanto era sonho. Mas acho que acordei e pisei na cara dele. Estou mais forte e menos burra. Não muito menos, só um pouquinho. E estou feliz pelos motivos certos. Meu livro, meu filho, meu livro lindo foi para a gráfica. Ver a capa pronta foi como uma ecografia, como ver os pezinhos e as mãozinhas do meu filho dentro da minha barriga, ainda com os olhos fechados.
Esse monte de caixas empilhadas está me deixando maluca. E preciso de mais caixas. Nunca pensei que minhas coisas ocupassem tanto espaço. Ainda não sei o que vai e o que fica.
Só sei que eu fico.
Meu pai quer que eu volte para Porto Alegre porque entrou para a categoria dos que não possuem reais. Mas eu não vou voltar. Não. Vou morar no hotel um tempo e depois vou sei lá para onde. Acho que vou aceitar o convite do rapaz, se é que ele estava falando sério. Espero sinceramente que sim. Não vou ter dinheiro para ficar no hotel por muito tempo.
Às vezes eu queria que minha vida fosse normal. Mas logo deixo de querer. Não caibo. Ficaria toda torta, toda corcunda dentro de mim. O problema é que as provas vão ficando cada vez mais difíceis à medida que passo de ano. Espero que meu diploma de sobrevivente chegue logo. O diploma, a festa, o discurso, essas coisas.
Continuo com o sono do mal. Muito sono, não tenho vontade de sair de casa e ao mesmo tempo, me mata ficar empilhada no meio da minha vida encaixotada. Que sono. Que sono. Vou tomar um banho e sair, encontrar meus amigos e tudo mais. Ou não, talvez eu simplesmente durma muito. Não sei. Não vou fazer planos pós-banho. Pode ser que eu amoleça e queira deitar e apagar mais do que tudo na vida. Pode ser qualquer coisa. Só vou saber depois, na hora, como tudo na minha vida. Vou ali.
.: Clara Averbuck :. 5:20 PM
|