i gave my life to a simple chord

domingo, maio 19, 2002

Parece que ele foi embora pra sempre.

Eu sei que não. Sei que ele vai voltar e que vai ser foda e que vou sorrir de novo, acordar de novo com ele do meu lado. Mas agora, parece que ele foi embora pra sempre. Porque ele está muito longe. Muito, muito longe. O corpo dele está aqui do lado, dá pra pegar um ônibus e chegar rapidinho, dá pra ir de carro ou de moto ou de trem ou de bicicleta e nem dá tempo de dormir. Mas ele está longe, a milhas, mares, planetas de distância. É provável que nem lembre da minha existência. Deve estar afogando-se em dor e culpa inúteis. Deve estar engasgado, cheio de porquês e tristeza, sentindo-se sozinho e incompreendido.

Eu te entendo, meu querido. Te entendo inteiro. O tempo todo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, eu te entendo. Sei sobre a bola de espinhos rasgando teu peito, sobre a confusão e a dor e a falta de ar e a perda de chão te deixando sem saber para onde ir, sobre os soluços e as lágrimas queimando teu rosto de menino e entrando na tua gola. Sei sobre nada mais importar, sobre o mundo ficar pequeno e perder o sentido. Já estive lá e sobrevivi. Sozinha, fodida, sem ninguém para me dar a mão. Você também vai sobreviver. É forte como eu, nada vai te deixar no chão. E se deixar, estarei aqui para te puxar pra cima e te abraçar e te dar colo e te limpar as feridas. Estarei aqui para qualquer coisa, meu querido. O mundo pode cair, explodir, inundar, me ameaçar, a terra pode tremer e gritar e espernear e fazer o que quiser; nada vai me fazer sair do teu lado. Sabe, eu estava sozinha. Sempre estive. Era só eu. Outros não entendiam, achavam exagerado, dramático, falso. Não entendiam nem nunca vão entender nada. Estava sozinha sempre estando acompanhada. Sozinha. Já tinha me conformado quando você veio. E veio com tudo. Não achei que existisse nada assim fora dos livros que não li e dos filmes que não vi. Agora que sei, nada mais me interessa. Pode ser que um dia você não me queira mais, nunca se sabe para onde a vadia da vida quer nos levar. Não importa, não importa. Você existe. É o suficiente para me deixar dormir em paz.

Mas agora, parece que você foi embora pra sempre. E dói, dói pra caralho, a tua dor multiplica-se um bilhão de vezes em mim, mas tenho que agüentar. Eu disse qualquer coisa. Sei que logo vai ficar tudo lindo de novo, mas agora tenho que sobreviver com uma calcinha rabiscada, uma letra no meu braço e toda a memória que conseguir reunir. A minha é péssima, você sabe. Não esqueço meu nome porque os outros me chamam. Mas lembro tão bem de você. Inteiro. Cada cantinho. Lembro de você inteiro. E cada movimento teu dentro da minha cabeça me dá friozinhos bobos na barriga, soquinhos, meu coração idiota fica dançando e não consigo evitar um sorriso fraquinho.

Se não for amor, não quero nem saber o que é.

Parece que você foi embora para sempre, mas não quero nem saber onde você anda.
Só espero que a nossa vida puta, vadia e doida varrida te empurre logo para os meus braços.
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Você realmente roubou todas as minhas palavras. Tento escrever sobre você e só consigo escrever para você. Oh, esqueci que isso era tudo que você queria de mim. Esqueci também de avisar que só vendemos o pacote completo. Dá pra devolver ou tá difícil?

Ah.

Não precisa devolver nada. Pode ficar com elas, junto com o resto. Brinde. De graça. You took the best, so why not take the rest? Take all of me. All of me.

.: Clara Averbuck :. 5:11 PM

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