segunda-feira, abril 08, 2002
TPM e Trepanação - módulo III
da série "parágrafos, não trabalhamos"
A festa. As pessoas pareceram se divertir bastante com minha discotecagem. Fechando hoje três dias sem dormir, devo confessar que não foi exatamente o que chamo de UHHH MAS QUE NOITE DIVERTIIIIIIIIIIDA, apesar de até ter sorrido em alguns momentos ao ver a pista cheia de gente que eu gosto. E isso que tomei uma coisa que deveria ter me deixado alegre e fritando, mas não fez nenhum efeito. E não bebi pra não me tornar A Ébria chata que cambaleia, cospe e canta nos amigos, o que não adiantou nada, porque fiquei sendo a sóbria chata e emburrada que fica nos cantinhos da festa depois de discotecar, mas quando eu olhava para o presente que a minha garota mandou o amigo dela imprimir e me entregar na festa (o que foi uma coisa foda e me fez lembrar porque ela é e sempre será a minha garota), eu sorria de leve e pegava a mão dela because she'll never be alone as long as I'm beside her. Daí voltei lá pelo meio-dia e vi um filme muito, mas muito, mas muito ruim mesmo enquanto congelava naquele ar glacial do ônibus. Sério, quando você achava que não podia piorar, *TCHANAM!*, era surpreendido pela falta de noção dos responsáveis por aquela coisa. É uma espécie de versão, melhor, aversão do clássico dos anos 30 e poucos, O Homem Invisível. Só que era do Paul Verhoven (poxa, tudo bem que o ser humano pode ficar decadente, mas ele está indo longe demais) e tinha o KEVIN BACON. Não dá. Sério, é tão ruim que fui obrigada a ver até o final. Eu tenho este problema com filmes ruins demais: preciso ver até onde chega a palhaçada. Já vi (e obriguei quem estava junto a ver, com direito a cutucões e tudo) coisas como A Vingança do Ninja III e Terror e Êxtase, uma bomba nacional dos anos 80 dirigida por Antonio Calmon e um dos piores filmes que já vi em toda minha vida inteira desde que nasci. Acredite, a redundância ali atrás é a única maneira de ilustrar o quão ruim é aquilo. Poxa, tenho saudades de ver filmes ruins. Na verdade, tenho saudades de ver filmes. Qualquer filme. Porque cinema é caro e eu não tinha televisão. E desde que a tv foi doada, dormi uma noite em casa. E isso me lembra que estou há três dias sem dormir. Uhu, é quase um recorde. Se bem que vai ser difícil superar o Abril Pro Rock do ano passado. Praticamente impossível. Sem contar que eu estava acordada porque era divertido e porque queria ir à praia, não porque o meu cérebro recusava-se a relaxar e me deixar em paz. Eu tenho este problema de hiperatividade mental, tenho certeza que o leitor esperto já percebeu. Agora que não possuo mais reais pra ir à cadmía, que além de me fazer caber nas minhas calças, servia como reguladora e cansadora e me ajudava a dormir, estou fodida. Cogitei correr na rua, mas na boa, acho completamente ridículo correr na rua. Não dá. Só se eu usar um saco na cabeça. Um saco com buraquinhos para os olhos, que nem quando o Garfield fica com vergonha. Sem contar que não pode ser saudável correr nas ruas de São Paulo junto com os carros. Não tem como. Acho que vou ficar correndo pra cima e pra baixo nas escadas do meu prédio. Mas eu tinha alguma coisa pra dizer e esqueci, então fui procurar letras do Black Rebel Motorcycle Club e descobri que elas não existem. Não tem em nenhum lugar. Que nem acontecia com os Strokes lá em 1846, também conhecido como fevereiro do ano passado, quando eu queria muito entender o que era dito em Someday. Entendia algo como "mayam says I'm lacking in depth", que mais tarde descobri ser "my ex says I'm lacking in depth", que faz bem mais sentido. Por falar em Black Rebel Motorcycle Club, hoje me dei conta que gatos pretos só fazem merda. Coitados, eles não fazem de propósito, mas só fazem merda. Pelo menos os que eu tive. A PJ e o Jimi são os mais inoportunos do mundo inteiro. E eles derrubam coisas onde não devem derrubar e pisam onde não devem pisar e deitam em lugares onde não deveriam deitar e quebram o meu Groo e comem as flores de plástico que não morrem e que ganhei do meu amigo no dia em que foi legal pra caralho, quando era legal pra caralho. E colam os bigodes com fita crepe e afiam as unhas no meu amplificador e derrubam a minha guitarra todos os dias e comem a minha cortina-canga e fazem necessidades fisiológicas em lugares errados. O Joo não faz nada disso. Ele é comportado e fofo e sabe muito bem quando está fazendo merda. O-bá, acabei de dar uma tonteada de sono, isso quer dizer que daqui a pouco vou chegar à exaustão e precisar dormir. Yes. YES! Mas não vai dar pra dormir muito porque o Pinheiros - Largo da Batata vai passar e gritar debaixo da janela e os carros vão subir a lomba e fazer um barulhão e os cachorros vão latir e as crianças vão gritar e eu vou querer chutar o rabo de todos eles mas não vou ter forças e vou chorar na cama. Eu choro na cama de manhã quando tenho que acordar cedo. Eu choro de preguiça, sono e calor, mas não ao mesmo tempo. Você conhece alguém que já chorou de calor? Eu já. Porto Alegre no verão é um treinamento para o Inferno. E começaram a passar os ônibus! YEAH! É isso. Deu. Vou embora desta casa. Não agora, com uma trouxinha no ombro contra o sol nascente. Embora seriamente. Embora para um lugar acima do quinto andar e com vista. Quero vista. Quero olhar pela janela e ver alguma coisa além de um escritório de advogados punheteiros que ficam olhando sempre que eu saio do banho. Na boa, estou dentro casa e não vou ficar tendo pudores, era só o que me faltava. Eles deviam ser educados e não olhar tanto. Eles e os caras do prédio da frente. Embora. Embora pra algum lugar silencioso e com vista e sem landladies mafiosas e mais barato. Decidi. Agora. Não quero mais. E tampouco quero ter azia. Deve ter sido o Marlboro Lights que comprei num lugar suspeito perto da rodoviária. Rapaz, aquilo tinha gosto de cebola queimada. É sério. Só podia dar azia na pessoa. Por que eu tenho que fumar o cigarro mais difícil de achar? Vou começar a comprar meus Lucky Strokes de pacotão. Damn. Meu sono passou. Não é possível. Acho que preciso ir no médico, estou falando sério. Não é normal a pessoa ficar três noites sem dormir. Não pode ser. Uma vez eu vi um documentário sobre distúrbios do sono e tinha este cara que simplesmente morreu de não dormir. O cérebro dele foi degenerando até ele virar uma avenca. Demorou algum tempo, é claro. Mas ei, ele começou com três dias. Three days was the morning. Ei, three days é isso! Shadows of the morning light, shadows of the evening sun, till the shadows and the light were one. Como eu ainda não tinha entendido? Respondendo a pergunta de um leitor: eu tenho 4.645.684 tintas guardadas aqui. Não preciso pegar dinheiro da luz ou da comida do Joo para pintar o cabelo. Estocar é viver. Mais um ônibus passando, VRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRUUUUUM, minha casa inteira tremendo, preciso sair daqui, pre-ci-so-sa- ir-da-qui-o-mais-rá-pi-do-pos-sí-vel. Olha só, não dormir funciona como um poderoso analgésico, sem contar a abstração toda, ei ei ei, você não está orgulhosa de mim? Eu sou a rainha da abstração. Passar não passa, mas eu simplesmente não vou mais olhar nem pensar, então tudo vai ficar bem e todos serão felizes e saltitantes e todos usarão coroas de flores na cabeça e correrão por campos de begônias usando cachecóis e echarpes e cabelos esvoaçantes e macios e brilhantes como em um comercial estúpido de shampoo testado nos olhos dos coelhinhos branquinhos e simpáticos. Eu nem olhei pro Rio de Janeiro desta vez. Eu nem abracei o Nix direito desta vez. Eu nem cheguei na beira da praia nem olhei pro céu nem pra ninguém nem comi peixe nem bebi demais e entrei no mar nem fiz merda. Eu não fiz merda. Me sinto muito bem. Acho que estou virando mocinha. Eu não fiz merda! Fui ao Rio de Janeiro e não fiz merda. Não tomei porre, não destruí lares nem amizades, nenhum blog acabou e eu ainda conheci o Sparkazul e a Morte e ganhei da Helena uma pulseira de dadinhos pra tryyyyyyyyyyyyyy my luuuuuuuuuuck with yooooooooou. With me. This life is on my side. E agora meus gatos começaram a correr pela casa e eu vou ali pegar um Marlboro de cebola e alimentar meus filhos. E vou postar imediatamente antes que trave tudo e eu atire o notebuck na privada...................................Postei e voltei pra editar. Esfriou. Frio é tudo, especialmente quando se tem algo macio, quentinho e fofinho como o Joo para dormir com. Isto é, se algum dia eu conseguir dormir de novo. Porque não pensem vocês que eu luto pra não dormir. Simplesmente não acontece. Eu deito e fico rolando e rolando e rolando e levanto e bebo água e volto e levanto e vou ao banheiro e volto e levanto e espremo uma espinha e volto e deito e rolo e rolo e rolo e tento relaxar e tento ouvir música e fico com fome e vou na padaria e volto e desisto. É basicamente isso. Não rola dormir. Mas eu nem acho tão ruim assim, viu. Porque eu não faço nenhuma questão de sair de casa e conviver no momento, o que significa que não preciso coexistir com as pessoas em seu horário comercial. Meu único medo é virar uma avenca, o que desconfio que já começou a acontecer faz algum tempo. Bem, nesse caso, não esqueçam de me regar uma vez por dia.
.: Clara Averbuck :. 6:22 AM
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