terça-feira, abril 02, 2002
There´s a light that never goes out
Ó Murphy aí. Depois acham que estou me fazendo, mas cada vez reúno mais provas de que Murphy rege a minha vida. Ontem, ganhei uma tv. Desde julho, quando vim morar em São Paulo, que não tenho uma tv. E ontem, meu amigo chegou lá com uma debaixo do braço. Happy happy joy joy! Mas ei, hoje, quando acordei saltitante para ver desenhos e comer cereal e transformar meu cérebro em uma tigela de tapioca, NÃO TINHA LUZ. CORTARAM A MINHA LUZ. Claro, desde dezembro sem pagar, um dia eles se dariam conta. È sem luz, não rola. Sem telefone, tudo bem. Sem pagar o aluguel, agüenta-se. Agora, SEM LUZ, NÃO DÁ.
Escrevi isso tudo no caderno peludinho cor-de-rosa, sentadinha na minha cama, com vontade de rir e chorar ao mesmo tempo e sem ter a quem recorrer. E sem cogitar trabalhar. Não vou. Vai atrapalhar tudo, vai estragar tudo. Não posso trabalhar. Porque isso tudo parece um teste pra ver se eu agüento. E eu agüento. Sem contar que vai ficar trimmmassa no livro novo. Sensacional, haha. Preciso beber. Não. Sem beber. Beber = não caber nas calças. Mencionei que cortaram o telefone de novo? Yeah, esta é a vida de gente que não trabalha. Eu sou um puta exemplo para as criancinhas. É só mostrar o tanto que a Tia Clarah se fode por ter decidido não trabalhar e ser junkie de cadmía que elas vão correndo estudar pra não ficar que nem a Tia Clarah.
Oh, mas vejamos por este lado, não é tão ruim assim. Ficar à luz de velas seria bem romântico se eu não estivesse sozinha. E pelo menos ainda não cortaram a água, e está calor, e eu posso tomar banho frio. E ainda tem gás! Como se tivesse alguma coisa na geladeira, haha. Mas ó, ainda bem que não tem. Ia estragar tudo. Quer dizer, tem vódega e Ypióca da última festa. Eu estava me referindo a alimentos perecíveis, sabe. Beber. Não. Não! Bebeeer. Estou fodida demais para não beber. Mas não vou beber. Não. Se eu beber, vou ficar pior. Vou ficar obesa de novo. Fazia uma semana que não ia à cadmía. O que eu estava querendo? Voltar a parecer uma maldita nadadora nórdica? Nããão. Olha, não me importo tanto em ser pobre, fodida e ficar no escuro. O que estou tentando dizer é que só duas coisas importam realmente: ter comida pro Joo e caber nas minhas calças. E Ele. Mas Ele não me quer e não há nada que eu possa fazer, além de ficar sentadinha no meu quarto, ao lado do celular ligado - e daqui a pouco vai acabar a bateria. Sabe, muita gente me liga o tempo todo, então decidi gastar 0,36 que não possuo só pra saber quando é Ele. E nunca é. Não é há quase uma semana. Já passei pela fase da macheza ("Esse cara tá me fazendo de trouxa. Tô fora"), insegurança ("E se eu for um troféu pra ele? Talvez eu seja um troféu. Um troféu cheio de leitores") e adeus-amor-próprio ("Azar, não posso ficar sem ele. Vai ser do jeito que ele quiser"). Agora, só estou triste. Nenhuma resolução, nenhuma mágoa, nenhum rancor. E não é tristeza-soco. Não estou derrubada nem nada. É aquela tristeza meio conformada; só posso dar de ombros levemente e sentir falta dele. E damn, como sinto. É como se ele fizesse parte da minha vida há muito tempo e agora, sumisse. Não vou beber. Não. Fui pra cadmía e corri corri corri corri. Corri, suei e esqueci. Corri de mim mesma, parada no mesmo lugar ouvindo Hole e suando pra caralho e cantando alto. Tomei banho n'acadmía e vim me refugiar na casa do meu amigo que paga as contas. Dando de ombros. O que eu posso fazer? How can I deal with this, if he won’t get with this? M'I gonna heal from this; he won’t admit to it. Nothing to figure out; I gotta get him out. It’s time the truth was out that he don’t give a shit about me.
.: Clara Averbuck :. 11:40 PM
|