quinta-feira, abril 11, 2002
Hoje, o vazio tomou conta de tudo. Enorme, por todos os lados, tão denso que nem dava pra chamar de vazio. Não dói mais, finalmente consegui me anestesiar a ponto de só sentir o grande vazio. Fumo mais um cigarro, o milésimo cigarro, tentando me sufocar. O nada voltou. Voltou com tudo, maior e mais forte do que nunca. O filho da puta trouxe reforços e desta vez eu não tenho forças pra lutar. Estou fraca. Fraca e pequena. Tão fraca que chego a tremer e mal consigo parar em pé. Fujo de todos os olhares, não quero ser vista, não quero falar, não quero nada. Quero sumir de mim de alguma maneira. Rápido. Quero silêncio, mas minha cabeça não cala a boca. O barulho vem de fora e de dentro e faz tudo tremer. Não consigo, não posso ficar de pé e nem posso deitar. Estou de joelhos esperando pra ser salva, mas nenhum carro pára. Estou ajoelhada no asfalto, bem no meio da rua, com todos os carros zunindo à minha volta, mas ninguém me vê, ninguém pára e ninguém desvia. Eles só não me atingem por acidente. Talvez eles simplesmente devessem passar por cima, dilacerando meu corpo e espalhando meu cérebro e quebrando meus ossos e fazendo um rastro com meu sangue e me dando a única coisa que eu quero agora: silêncio. É impossível achar o silêncio no meio desta bagunça, então calem a boca. CALEM A BOCA, todos vocês, todas vocês. Calem a boca. Eu só quero ficar em paz.
.: Clara Averbuck :. 11:15 PM
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