quarta-feira, abril 24, 2002
À Academia Brasileira de Letras
Eu não quero nunca ter um lugar na ABL. Nunca.
Leminski nunca esteve na ABL.
Quero ficar no mundo dos cachorros vagabundos e sarnentos. Não quero uma cadeira entre o José Sarney e o Roberto Marinho, obrigada. Prefiro morar na rua e sentar no chão.
Hilda não está na ABL, Hilda e Leminski nunca estiveram na ABL.
Ruth Rocha, a culpada por eu ter começado a escrever ainda criança, não está na ABL.
Nunca quero sentar na ABL com os velhinhos. Não vou ter com quem conversar. Prefiro meus amigos junkies e meu gato, que tem muito mais a dizer. Prefiro ficar de pé, na chuva, e morrer de pneumonia pouco depois, maldita, suja, pobre e maldita, como devo ser. Porque os malditos é que são legais. Reconhecimento e cadeiras são para velhinhos que precisam sentar e para os oportunistas. Obrigada, mas prefiro dormir suja debaixo de uma marquise e acordar com o sol me cegando, e caminhar até o metrô, e voltar para casa, e sentar com as pernas encolhidinhas no meu colchão enquanto espanco furiosamente o teclado e fico dentro do meu mundo, porque não pertenço e nem quero pertencer a nenhum outro lugar.
Que se foda a Academia Brasileira de Letras. Eu só quero escrever.
.: Clara Averbuck :. 3:47 AM
|