sábado, março 23, 2002
PORQUE EU AMO O MEU PAI
1. Ele tem icq;
2. Ele manda mensagens assim:
yoga(16:53 PM) :
MÚSICO GAÚCHO CHEGA EM CASA CANSADO E JÁ PREPARA-SE PARA ASSISTIR A SHOW INTERNACIONAL DE GRUPO DE DANÇA.
VIOLINISTA MALUCO É CITADO EM BLOG DE FILHA .
FILHA DE VIOLINISTA MALUCO CORRE RISCO DE DESPEJO.
FILHA DE VIOLINISTA MALUCO É CONTRATADA PARA TRADUZIR CRUMB.
ALIVIAM-SE AS PRESSÕES EM TORNO DO DESPEJO DE FILHA DE VIOLINISTA MALUCO.
[Este post ficou pela metade porque eu tive que sair correndo e será deliberadamente editado a partir de agora]
Quando eu estava na pré-escola e era um gênio - isso foi antes das dogras -, me mandaram fazer um trabalhinho de dia dos pais. Não um trabalho de macumba, seu burro. Um daqueles envolvendo purpurina, plasticor e cartolina. Era uma gravata-cartão que não fazia o menor sentido pra mim, já que só fui ver meu pai de gravata lá pelos (meus) dezessete anos, e veja bem, não era uma gravata, era uma gravata do Frajola. Ele sequer casou de gravata. Aliás, vou ver se arrumo uma foto do casamento dos meus pais. É foda. Meu pai vestia uma camisa xadrez e tinha aquele cabelinho cretino de recém saído do exército, e a minha mãe estava com um vestido rosa meio ripongo e ostentava orgulhosamente uma barriguinha que viria a se tornar esta que vos escreve. Ou seja, eu fui no casamento dos meus pais. Não é o máximo? Estava lá, de corpo presente. A família toda estava com uma grande cara de cu, algo como "esta juventude está perdida, este casamento não vai durar" ou qualquer coisa dessas que pensavam de pessoas de vinte anos que casavam de camisa xadrez e vestido rosa. Ano passado, eles completaram 23 anos de casados. Rá. Acho que todos os outros casais da família se separaram, menos eles. Mas eu estava falando do cartão, né? Que coisa mais dispersiva. Depois que eu terminei de fazer muita meleca com plasticor e purpurina, colaram um papel mimeografado assim:
Eu gosto do meu pai porque _______________________________.
Ah, vão tomar no cu. Isso lá é pergunta que se faça para crianças da pré-escola? Eu não fazia a mais puta idéia de porque gostava do meu pai. Por que ele era meu pai, porra. Então, escrevi "porque ele faz a minha mamadeira" e as tias acharam esquisito e completaram com "e enfim, tudo que eu quero", o que era uma mentira enorme e deslavada. É, eu era viciada em mamadeira. Mamei até os três anos nos pobres peitos da minha mãe (cara, ela tem leite até hoje. É sério. Eu ainda poderia mamar se quisesse, mas desconfio que pegaria meio mal) e continuei na mamadeira até uns sete. Chupeta também. Eu adoro chupetas.
TIRE IMEDIATAMENTE ESTE SORRISO MALICIOSO DA SUA CARA SUJA, MALDITO PERVERTIDO.
Este é um problema sério. Porque escrever chupeta é uma coisa esquisita pra mim, já que na minha terra (ou na minha casa) aquilo - o objeto plástico para bebês, que fique claro - é chamado de bico. Só que se eu escrever bico, tenho certeza que metade dos leitores vai me imaginar com uma fantasia de flamingo, o que não deve ser uma visão muito agradável. Então, sou obrigada a usar minha tecla *sap* e dizer chupeta, que tem duplo sentido.
Tudo isso pra dizer que "eu gosto do meu pai porque ele tem icq" não é tão ruim assim. Certo, pai?
.: Clara Averbuck :. 5:07 PM
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