i gave my life to a simple chord

domingo, março 10, 2002

I'm a Bitchnik

Show do Thee Butcher's Orchestra. Primeira vez que cogito ir no Orbital em muito tempo - aquela padaria sufocante enche o saco. Fábio e Flávia desistiram de ir e ficaram se enroscando na cama. Eu fui. Usando meu vestido preferido (rosa, óbvio, e muito curto e muito legal) que não cabia em mim há alguns tantos meses. Caber nas próprias roupas é uma satisfação sem precedentes. Unhas dos pés e das mãos pretas, lingerie de vinil comprada em NY (gastei fortunas em lingerie de vinil e pelúcia e oncinha e uh numa loja chamada Religious Sex, quando eu possuía reais e ia pra NY e comprava coisas) meia arrastão (toda furada, porque elas sempre furam e fica mais legal assim de qualquer jeito) e o meu sapato de stripper. Já contei que decidi virar stripper? Depois eu conto. Então eu estava aqui na esquina da minha casa esperando um táxi e fumando um Lucky. Eis que pára este carro com um casal de uns trinta e poucos anos e uma criança no banco de trás.

- Oi.

Levantei uma sobrancelha.

- Oi.

- O que você vai fazer hoje?

Peraí. Será que... Bom, vamos ver.

- Vou numa festa.

- Não quer sair com a gente?

Se fosse qualquer outro dia da minha vida, eu teria escarrado na cara da mulher e enfiado o cotovelo dela no nariz do marido. Mas hoje eu estava in the mood de ver qual era.

- Não.

Ela pareceu surpresa.

- Não??? Por quê???

Mantive a indiferença.

- Porque não.

- Quanto você cobra?

Se fosse qualquer outro dia da minha vida, eu teria furado o olho da mulher com meu cigarro e enfiado meu salto agulha no nariz do marido. Mas hoje eu estava fina. Continuei com a mesma cara. Não me mostrei abalada, nem ofendida, nem nada.

- Eu não sou puta.

Pela primeira vez, entendi o que a expressão "empalidecer" significa. Ela empalideceu e se afogou de constrangimento. E a única coisa que conseguiu dizer foi "ah".

- Ah.

E foi embora. E eu fiquei rindo sozinha na esquina de casa. Yeah, meu figurino funcionou. Eu estava realmente vestida de puta. Whore. Hor. Hor! Sabia que eu já fiz pontinhas em filmes? Em dois. Nocturnu, do Dennison Ramalho, e A Festa de Margarete, de Renato Falcão, um cineasta amigo da família que mora em NY. Fui puta nos dois. Eu sou uma boa puta.

Então entrei no táxi e dei o endereço do Orbital. "Rua Augusta, por favor". O taxista me deu uma olhadinha de lado e eu deixei quieto. Nem preciso dizer o que ele estava pensando.

Grande show, bela festa. Um calor feladaputa dentro daquele lugar. Simplesmente não tinha oxigênio ali. Estou falando sério. O Lúcio, meu amigo - sim, meu amigo, quem não gostar do Lúcio que vá dar cu na areia - tocou Dirty Hippies, Tainted Love. Não ouviu ainda? Se fodeu. Por algum motivo, tiraram a página do IUMA do ar. As duas, do Jazzie and the Pussycats e dos Dirty Hippies. As pessoas têm dificuldades em acreditar que sou eu cantando. Rá. Imagina se elas me ouvissem cantando jazz. E elas ouvirão, acredite. E quem quiser, just ask.

Então acabou a festa. E chegou este menino (lindo) me convidando para ir ao Love Story. Pra quem não sabe, é o lugar para onde as putas vão depois do trabalho. Nem pestanejei. É CLARO que vamos. Chegando lá, o choque: o ingresso custava 50 pratas, 25 para estudantes. Ele era estudante. O porteiro olhou pra mim, olhou pra ele, olhou pra mim, olhou pra ele e perguntou:

- Ela é moça?

Moça. Sim, eu sou moça. Fiz a melhor cara de puta que pude (ou seja, não mudei de expressão) e disse, sorrindinho:

- Sim, eu sou.

- Então você entra de graça.

E eu entrei. Moça.

Deus, aquele lugar. AQUELE LUGAR. É gigantesco e estava cheio de putas lindas e manés feios. Mas o que mais tinha era japonês. Caralho, a porra da colônia japonesa inteira estava lá dentro, eu juro. A música era horrível. Techno unts unts da pior qualidade, e pra melhorar, tinha algum panaca fazendo comentários absurdos em um microfone, uma espécie de DJ interativo. Horror. Ficamos por ali, vendo as putas dançando nos palquinhos e os manés babando e as luzes piscando. Nos divertimos horrores, ninguém imagina o quanto. E ainda roubamos cada um seu respectivo cinzeiro, onde se lê "roubado do Love Story". É sério. O banheiro e estava cheio de putas lindas. Todas adoraram minha bolsa de coração vermelho e eu fiquei explicando onde comprei. Enquanto esperava na fila, fiquei examinando o roxo na minha boca no espelho com ares de "aquele cliente filho da p... ahn, imbecil me bateu, céus, como sofro" e suspirando e balançando a cabeça de leve. Ninguém perguntou nada, mas todas me olharam com cumplicidade. Elas sabem como é.

Ficamos por ali mais um tempo e às 6, decidimos que era hora de ir. O lugar continuava completamente lotado e não ia parar tão cedo. Na saída, os seguranças sorriram para mim. Eu juro que nunca vi seguranças tão simpáticos em toda a minha vida. Eles realmente estavam ali para nos proteger. Digo, para proteger as moças. Uau. Fim de semana que vem eu volto lá.

Só digo uma coisa: já sei onde vai ser o lançamento do Máquina de Pinball.

O dia está lindo e eu vou dormir com o Ju, que aparentemente é a única criatura que quer dormir e acordar comigo. Ele dorme abraçado em mim, com a cabeça no meu travesseiro e a patinha no meu pescoço ou no meu rosto. Eu amo o Ju mais do que sequer gosto de 90% das pessoas que conheço. Boa noite.

.: Clara Averbuck :. 7:52 AM

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