i gave my life to a simple chord

terça-feira, março 19, 2002

Dia mundial dos Insights

4AM

Hoje é o dia mundial dos insights.

Porque eu acabei de entender tudo. TUDO. TU-DO. Descobri a origem de tudo que eu faço. E, mais uma vez, o culpado é o meu pai.

(Hoi, pai. Já comentei que meu pai lê o blog? A minha mãe também. Alô, mamãe)

Não sei quantos de vocês conhecem o meu pai, mas garanto que todos deveriam. O nome dele é Hique Gomez e, junto com o Nico Nicolaiwsky, faz uma peça chamada Tangos & Tragédias, que existe desde 1984 e já passou por todas as capitais do Brasil aproximadamente cento e quarenta e sete vezes, além de ter dado um LAÇO naquele mala do Jô Soares umas sete ou oito vezes. Sete ou oito vezes no programa do Jô, cara. E não deixando ele falar, esta é a melhor parte. Deve ser um recorde.

Deixa eu explicar para o leitor ignorante que não sabe do que se trata.

Kraunus Sang e Maestro Pletzkaya vieram da Sbørnia, uma ilha flutuante que desgrudou-se do continente após sucessivas explosões nucleares mal-sucedidas. Ou bem-fracassadas. Você pode encontrar mais informações sobre este maravilhoso país aqui, porque eu não vou ficar explicando. O importante é que Sbørnia tem a Grande Lixeira Cultural, para onde vão todas as coisas que já saíram de moda, de Yahoo (não o portal) a Alvarenga e Ranchinho. De Villa-Lobos até Vicente Celestino.

Vicente Celestino.

VICENTE CELESTINO, MEUS AMIGOS.

FOI ELE QUE ME DEIXOU ASSIM.

Eu fui exposta ao Vicente Celestino JOVEM DEMAIS e virei esta criatura dramática. É sério. Eu fui contaminada muito cedo. Vejam com o que a pobre Clarinha teve contato desde a mais tenra idade.

Tu disseste em juramento
Entre o véu do esquecimento
Que meu nome é uma visão
Tu tiveste a impiedade
De sorrir desta saudade
Que me mata o coração
Se um retrato tu me deste
Foi zombando, tu disseste
Do amor que te ofertei
E eu em lágrimas desfeito
Quantas vezes junto ao peito
O teu retrato conservei
Pensei também ser ingrato
Meu coração bem vês, já não te quer
Eu ontem rasguei o teu retrato
Ajoelhado aos pés de outra mulher
Eu que tanto te queria
Eu que tive a covardia
De chorar este amargor
Trago aqui despedaçado
Teu retrato, pois vingado
Hoje está o meu amor
As sentenças são extremas
Faço o mesmo aos meius poemas
Rasgo os versos que te fiz
Não te comova o meu pranto
Pois quem tem amou tanto, tanto
Foi um doido, um infeliz
Eu ontem rasguei teu retrato
Ajoelhado aos pés de outra mulher

Ha, e essa é das leves. Esse filho da puta era maravilhoso. Dolorosamente maravilhoso. Na verdade, essa nem foi escrita por ele, mas pelo Cândido das Neves, que também escreveu Noite Cheia de Estrelas, uma música fo-da. Tenho certeza que você já ouviu Coração Materno, onde o sujeito apaixonado, a pedido de sua amada, arranca o coração da mãe velhinha que rezava aos pés do altar. O Caetano gravou no Panis at Circencis. E tenho mais certeza ainda que você já ouviu O Ébrio. Inclusive, se você for meu amigo, as chances de ter ouvido DE MIM são enormes. Eu sempre ficava cambaleando e cantando "sooooornei-me um évrio e na vevida eu vusssco esgueceeeeeeer aquele ingrato que eu amava e gue me abanzonooou" na época em que eu era uma ébria e tentava esquecer o ingrato que eu amava e que me abandonou.

Mas não pára por aí, nããão.

Vocês já viram o tipo de humor daqueles dois? Digo, do Tangos & do Tragédias.
...

Drama.
Humor.

Drama e humor.

Máquina de Pinball.

Meu deus, eu realmente sou a filha do Tangos & Tragédias. Sim, porque é que nem a Sandy e o Xúnior, que são filhos do Xi(chi?)tãozinho e do Cho(xo?)roró. É simbólico. Todas as piadinhas durante a minha vida escolar tiveram um fundo de verdade.

Estou pasma com a obviedade disso. Como eu demorei tanto tempo para me dar conta? Ainda bem que parei com as dogras.

Oh sim, in case you're wondering, eu tenho o sobrenome do meu pai também. Eu sou Averbuck Gomes. Como eles tiveram coragem de fazer isto comigo? Ainda por cima, Gomes é o meu último nome, então eu sempre acabo virando Clarah A. Gomes. Eu odeio isso. Me chamavam de "Miss Gomes" em Montana, quando trabalhei de voluntária para cuidar de crianças. Sim, eu fiz isso. Eu gosto de crianças. Especialmente entre 7-10 anos, quando são mais espertinhas e menos metidas a pré-adolescentes. Por favor, não me perguntem o que eu estava fazendo em Montana, oquei? Deus, quanto tédio naquele lugar. A lavanderia era o lugar mais excitante da cidade. Com mais movimento, você sabe. A pessoa mais legal que conheci lá foi um urso que vi no Yellowstone Park. Não era o Zé Colmeia. Teve também um búfalo, mas ele não era exatamente comunicativo e ficou irritado com a câmera do meu pai. Eu também ficava irritada com a câmera do meu pai. Puta merda. Ele filmava tudo. Ele invadia os lugares e perseguia as pessoas com aquela porra daquela câmera. Um dia eu estava me vestindo e ele irrompeu no quarto e todos os hóspedes ruivos me viram sem roupas. Não que eu me importe, mas eles eram americanos e ficaram terrivelmente constrangidos.

Eu fico impressionada com a minha capacidade de fugir involuntariamente dos assuntos.

E agora eu estou ouvindo meu cd do Vicente Celestino. O ideal seria vinil. Vicente Celestino sem chiado fica esquisito, mas meus vinis estão... Esquece. E todas as letras são maravilhosas. E eu quero chorar de tão linda que é a dor dele. A dor da voz dele. Ele foi encarnação da dor de cotovelo. E o Lupicínio, do corno rancoroso. Mas no momento, quero muita distância de cornos rancorosos. Se bem que morto não tem problema, ha ha. MORTOS DEVOLVEM AS COISAS DAS PESSOAS.

Anotação mental #247 - este ano eu vou aprender a falar italiano. Na itália, de preferência.

Ops. Chorei. Uma lagriminha só. Mas foi por causa dele. Digo, do Vicente Celestino. Ele é muito foda. Ele é da época em que morria-se de amor. Bom, morria-se até de vento naquela época, mas tudo bem. Morria-se de amor.

Acho que eu nasci na época errada.

Mas agora eu vou dormir e tentar esquecer que minha janta foi um tomate e uma barrinha de cereais. Ê, vidão! Bom, como se eu fosse comer de qualquer forma. Eu jamais gastaria fortunas em um restaurante francês, comendo coisas esquisitas e pequenas e caras. Também não preciso ficar no extremo oposto, que é o tomate, mas enfim. Às vezes a gente tem que agüentar algumas coisas.

.: Clara Averbuck :. 4:20 PM

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