i gave my life to a simple chord

domingo, fevereiro 24, 2002

Segundo o Nix

O Rio é foda. Sempre.

Agora são oito da manhã e acabo de chegar de uma noite completamente sóbria. A festa foi do caralho e a minha discotecagem foi aplaudida. Nunca vi ninguém aplaudir discotecagem. Será que é prática comum no Rio? Mas também, entende-se: com Stooges, Modern Lovers, MC5, Kinks, Monkees, Lou Reed, BRMC, Strokes, Hefner, Nirvana, STP, Hole e o caralho a quatro, eu também me aplaudiria. Se bem que aplaudiram a Gretchen que o Gabriel tocou depois. Mas foi foda de qualquer maneira, porque o Theddy, que foi quem me convidou pra discotecar, gostou tanto que quer que eu volte bem remunerada da próxima vez. Veja bem: quer que eu volte bem remunerada. Querem me pagar para que eu faça algo que me deixa absurdamente feliz, que é botar música boa e ver todo mundo feliz dançando e olhando com cara de "aí, mandou bem". Eu adoro isso.

Completamente sóbria. Mas só porque não conseguia nem sentir cheiro de álcool por causa de ontem. Putz, ontem. Quebrei meu trato comigo mesma e bebi e existe uma lacuna de três horas da minha vida. Não sei nada. Sumi de mim. Eu tava na praia com o Mr. e de repente eu tava acordando às cinco da tarde com A PIOR RESSACA DE TODOS OS TEMPOS. Isso porque eu e o Mr. ficamos mandando ver na gajaça. Mas assim, mandamos ver mesmo. E eu sumi de mim. Aliás, eu preciso de alguns esclarecimentos:

1. Por que os meus joelhos e meus cotovelos estão esfolados?
2. Como surgiu este grande arranhão na minha coxa?
3. Por que tinha um O.B. na minha bolsa?
4. Isto no meu lábio inferior é uma mordida?
5. Onde está o meu salto?
6. E a minha dignidade?

Pois é. Passados dez anos, depois que virei uma bêbada tão profissional que até parei de beber, dou uma dessas na frente do Mr. de novo e ele teve que cuidar de mim de novo. Na primeira vez eu tinha treze anos e bebi cachaça de anis do bar do João, na Oswaldo Aranha, e ele impediu que eu vomitasse no meu próprio cabelo, que na época era preto e até a cintura porque eu tinha certeza que era o Rachel Bolan. Esta fase veio logo após ao Mike Patton. O horror, horror. Eu era muito loucamente apaixonada pra caralho pelo Mr. Fui por alguns anos. Acho até que ainda sou por causa do rancor do mal que eu tinha por ter levado um senhor pé na bunda. Na verdade, não foi exatamente um pé na bunda, foi só uma rejeição. Mas agora eu não tenho mais problemas porque nós somos amiguinhos de novo. Quer dizer, não sei se ele ainda vai querer ser meu amiguinho depois de ter me carregado de Ipanema até Copacabana. Eu acho. Eu acho que ele me carregou. Segundo o Nix, eu não estava em condições de caminhar e parecia um cocrete de areia quando cheguei semimorta às nove e meia da manhã. Daí o Mr. foi me "ajudar a tomar um banho", o que, além de ser uma coisa fofa, é uma ótima desculpa pra ver meus peitos. E este é o único flash de memória que tenho. A cara do Mr. comigo no chuveiro. Sem som. Só uma foto. Acho que foi o momento em que meu espírito tentou voltar pro corpo, mas deparou-se com aquela cena patética e fugiu de novo. Depois eu corri pelada e molhada pela casa enquanto a faxineira tentava fingir que não tinha nada errado ali. Impressionante, não tenho nenhuma lembrança disso. Devo ter bloqueado. E agora são oito e meia da manhã e estou completamente sóbria sentindo o vento e o cheiro do mar entrando pela janela. E se eu for até a janela, consigo abanar pro mar. Eu amo esta cidade. Amo. Ela tem alguma coisa intensa e linda e bagunçada e viva que não sei identificar e que me fascina.
O Rio é foda. Sempre.

.: Clara Averbuck :. 1:49 PM

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