sexta-feira, janeiro 18, 2002
In the sun, sun having fun, it's in my blood
Acho que quero todos os meus dias como hoje. Talvez um pouco menos solitários.
Acordei de manhã com o carteiro espancando a campainha e tentando entregar o melhor presente dos últimos tempos, tirando a guitarra: um aspirador de pó que a minha mãe mandou. É, meu amigo. Posso ser considerada uma maníaca por limpeza e é impossível ter uma casa limpa quando tudo que você tem para limpar o carpete imundo é uma vassoura de piaçava. Tenho cá minhas dúvidas se este carpete é cinza mesmo ou se é pó. Um lixo. Então desembrulhei o aspirador como uma criança abrindo um presente de natal e desembestei a limpar o chão enquanto Jimi, o mais novo habitante da casa, miava desesperadamente no banheiro. É, achei mais um gato. Fiz a Cami parar o carro no meio da rua e me arrastei durante longos minutos no asfalto, me esgueirando debaixo de um carro (detalhe: de vestido e plataformas). Depois de expulsar os porteiros que atrapalhavam tentando ajudar com vassouras e guarda-chuvas, consegui resgatar o neguinho raquítico. Fofíssimo, ele. Ju-ju e PJ não concordaram comigo e o pobre Jimi (sim, vem de Hendrix) teve que ser exilado no banheiro cor-de-rosa.
Daí eu fui pra academia e suei um pouco. Não muito. O Couch Potato se recusou a acreditar que eu tinha engordado um bilhão de quilos e ficou falando que eu estava bem. Yeah, right. Essa gente de academia adora uma parrudinha. Esteira, bicicleta e abdominais, nesta ordem. No meio da terceira série de abdominais, começou a tocar Soma na rádio. Entendi que era uma recompensa divina depois de uma hora suando ao som de Will Smith e aquele do little bit of Monica in my life, como é o nome do sujeito? Acho que a música é Mambo no. 5. Whatever. Só sei que amanhã eu não esqueço o walkman e levo um livro.
Depois de tirar minha calça ridícula de lycra, resolvi passear pela Vila Madalena e descobri que moro no lugar mais foda de São Paulo e não sabia. Tem tudo aqui, desde sapateiro (minhas botas de estimação estavam destruídas desde Reading e minha bolsa estava com a alça arrebentada), afiador de alicates (não posso me dar ao luxo de ir à manicure há oito meses), cabelereiro (talvez um dia minha alquimias capilares dêem errado e eu precise recorrer a um profissional), restaurantes (se bem que parei de comer de novo; entre comer mal e não comer, fico com a segunda opção. Comida boa custa reais e eu não os possuo para gastar em futilidedes. Fim), Pet Shop (você sabe quanta ração três gatos consomem? Um monte) e tudo mais. Tudo. O solzinho do fim de tarde me fez bem. Sair de casa me fez bem. Preciso sair e respirar, mesmo que "respirar" em São Paulo seja uma contradição em termos.
É incrível como ter um pouco de dinheiro, só um pouquinho, faz uma puta diferença. O simples fato de poder comprar um locker pro meu quarto, daqueles de escola, de metal, trimmmassa, me fez ficar muito feliz. Vou poder arrumar minha casa aos pouquinhos, botar meus quadros na parede, ganhar mais móveis (lembrando que ainda estou aberta a doações de qualquer espécie), concretizar meus planos de pintar a sala de azul e vermelho e o meu quarto de... rosa e mais mil coisas. Eu amo o meu apartamento. Mesmo que tenha uma cachoeira no meu quarto, eu amo meu apartamento. Mesmo que todas as minhas roupas tenham mofado por causa da cachoeira e agora estão todas na lavanderia, eu amo meu apartamento. Amo. Tenho quase tudo que preciso. Menos ele. Mas isso se resolve com R$ 15 semanais, que é o preço de uma garrafa de vodka. Quando possuo reais, compro Absolut, que é 30. Mas normalmente é Smirnoff mesmo. Ruim e baratinha. De qualquer forma, chega de beber. Hoje eu não bebi. Saí, fui num bar, todo mundo se embebedou e eu não bebi uma gota de álcool. Não foi esforço: eu simplesmente não estava afim. Não preciso disso. Pensando bem, também não preciso dele. Que se dane.
Ah, sim: eu tinha planos de ver O Ébrio que passou hoje no Sesc Ipiranga, mas não rolou. Era longe. Damnit. Preciso ver isso. Não, não é por identificação. Ok, talvez um pouco.
.: Clara Averbuck :. 6:54 AM
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