terça-feira, janeiro 08, 2002
Happy and Bleeding
Acho que estou presa no Rio. Que nem fiquei presa em Londres, não exatamente contra a vontade mas não totalmente feliz porque eu quero a minha garota. Ela volta pra Reading sábado e eu simplesmente não sei viver sem ela. Me chamem de obsessiva e doentia, que se foda. Não sei e não quero. Então decidi, faz algum tempo, que vou pra lá com ela. Sim, porque entre me foder sozinha no Brasil e me foder na Inglaterra com ela, eu nem pisco. Vou morrer de saudades de todo mundo, claro. Vou viver de subemprego, é lógico. Mas o Arturo Bandini disse assim em uma entrevista imaginária pouco antes de sentir oito pratas escorrendo de seus bolsos para as mãos da puta: "meu conselho a todos os jovens escritores é muito simples: recomendaria a eles que nunca fugissem de uma nova experiência. Proporia a eles viver a vida em carne viva, agarrá-la com coragem, atacá-la com as mãos desarmadas". Dúvidas? Pergunte ao Pó.
Hoje acordei mal. Fraca, mal, com dor em tudo e com a sensação de ter engolido uma bola de canhão tamanha era a dor na garganta. Abrir os olhos, nem pensar. Isso tudo por causa dos choques térmicos constantes. Não existe corpo que sobreviva aos males do ar condicionado. Fui numa farmácia e comprei todos os remédios do universo. Todos. Quero ver esta gripe imbecil conseguir sobreviver a isto. Rá! Eu preciso voltar pra São Paulo hoje, mas deste jeito eu morro no meio da viagem, porque todos os ônibus têm ar condicionado. Grunf. Da farmácia, vim para casa (também conhecida como casa do Nix e do JP), tomei todos eles, tomei um banho (de chuveiro) e enchi a banheira de água quente e óleos e cosméticos e me enfiei lá dentro com o Pergunte ao Pó surrupiado temporariamente da Helena. Toda vez que leio este livro, lembro por que tornou-se o livro da minha vida. É foda. É genial, é simples, é perfeito. Como se não bastasse, foi traduzido pelo Paulo Leminski, outro dos meus escritores preferidos, que, acredite, não são muitos. As notas de rodapé do Leminski não são menos geniais do que o livro. Coisas como "aí vai a tradução literal, que eu tenho mais o que fazer" fazem parte do livro pra mim. Claro que em inglês é incomparável, inclusive li antes em inglês porque é mais fácil de achar (em português é praticamente impossível, já que saiu pela Brasiliense lá nos anos 80), mas em português tem todo um folclore pra mim.
Deixe-me explicar a minha relação com o John Fante.
Ele não é exatamente uma influência, porque eu já escrevia antes de saber da existência dele. O que aconteceu foi identificação imediata, assustadora, do tipo "meu deus, é exatamente isso que eu penso, é exatamente isso que eu faço, meu deus, meu deus!" Tenho noção que não chego aos calcanhares dele, mas olho pro mesmo lado, do mesmo jeito. Foi assim que ele se tornou meu escritor favorito em segundos (o primeiro livro dele que li foi Sonhos de Bunker Hill), deu o nome da minha eterna personagem alterega Camila-Clarah e o nome do minha coletânea de contos, O Cachorrinho Riu que eu ainda não agilizei porque quero que o Máquina de Pinball saia primeiro. Ah, tem gente me esrevendo pra perguntar se meu livro não é lorota. Não, não é. Olha só.
Tá. Agora eu tenho que deitar. Tô mal. Mal. Tá foda. Tchau.
.: Clara Averbuck :. 6:50 PM
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