sexta-feira, janeiro 18, 2002
Balada para uma idiota
Eu sou uma idiota. Eu fui uma idiota.
Fiz tudo errado achando que estava certa.
Quando menos esperava, pow!, ele me disse tudo de um jeito que não me deixava alternativa senão me esconder atrás de um murinho de tijolos e chorar, chorar muito, dolorido, quente. Chorar é sempre inútil, só serve para esvaziar a maldita represa.
Fiz tudo errado achando que se eu continuasse sendo eu, ele entenderia
e voltaria correndo para os meus braços. Rá. Eu deveria saber que ele tem uma mania irritante de ver tudo ao contrário, julgar, decidir e carimbar. As coisas são como ele decide. Às vezes são mesmo. E às vezes não são. Ele via agressão onde eu sorria. Ele sentia um tiro quando eu dava um beliscão.
E assim foi. E foi. E foi cada vez mais longe, cada vez mais agressivo, cada vez mais dolorido até que eu disse chega, dei um tapa no ar e saí correndo com a mão nos ouvidos. Vi que não tinha volta tão cedo. Porque ele disse que não existe nunca mais.
Eu acredito nele.
Eu sou tão imbecil que acredito cegamente em qualquer coisa que ele me disser. Sei que ele sabe ser um filho da puta, assim como eu também sei, mas ele não faria isto comigo.
Não comigo.
Sou tão idiota que pedi desculpas sabendo que nada mudaria. Eu só precisava pedir desculpas. Ele disse que eu não precisava e tentou devolver as desculpas. Ele sempre faz isso com as coisas que tento dar pra ele. O que ele não sabe é que elas continuam sendo dele. São dele. As desculpas, o livro, o casaco. Tudo dele.
E tudo que eu queria era poder segurar o rosto dele, olhar naqueles olhos verdes mais lindos do mundo e dizer fica comigo.
Fica comigo.
Não sei até quando, não sei como, não sei nada. Fica comigo.
Ele não ia ficar.
Passou a noite fugindo de mim com os olhos e eu, fugindo dele.
Ele, porque não queria chegar perto.
Eu, porque descobri que ainda gosto dele exatamente como no dia em que estraguei tudo, há alguns meses/anos. Mas foda-se. Ele estava ali na minha frente, lindo, lindo, lindo. E meu peito queimava e eu pedia mais e mais vodka sabendo que nunca mais ficaria inconsciente perto dele.
Ele, ele, ele.
Ele.
Cheguei em casa chorando. De novo. E sabendo que a meia-noite do dia 31 ele estaria beijando a namorada.
Poderia ser eu.
Mas eu sou uma idiota.
.: Clara Averbuck :. 5:48 AM
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