i gave my life to a simple chord

sexta-feira, novembro 16, 2001



Fiascão. Um atrás do outro. Começando pela festa que eu inventei de fazer ontem para arrecadar móveis sem saber que tinha um jogo idiota do Brasil, então vieram cinco pessoas. Meia dúzia de gatos pingados contando comigo. Mas foi fera mesmo assim porque eram cinco pessoas legais e nós comemos pizza e falamos merda e bebemos vinho e ouvimos Strokes e Hi-Fives e fomos pro DJ Club. E eu enchi a cara além da conta. E olha que eu encho a cara constantemente e faço merda constantemente. Ontem foi além da conta. Criei um drink novo chamado Inércia, que consiste em vódega com licor de pelsco e bebi muito daquilo. Muito. E encostei o cara na parede e falei. Falei, falei, falei. Falei tudo. Muitas verdades. Quando cansei de falar verdades, comecei a mentir muito. Acho que nunca menti tanto na vida. Menti por todo o bar e pelos flanelinhas que estavam lá na frente e pelos vizinhos e pelo cara do estacionamento. Menti muito. Quando ele foi embora eu sentei e chorei. Chorei mais do que menti. Desgaste emocional, vódega e um certo alívio: consegui exorcizar de vez o sujeito.

Bom, depois de chorar, tentei comer a consumação porque eu não tinha nenhum dinheiro. Nenhum. Claro que isso não ia me manter longe da vódega, imagina. Mas fui impedida de comer a consumação. Então eu fui lá, entreguei o cpf e a carteira de músico e a frase “só não deixo meu cartão do banco junto porque vou precisar dele pra pagar esta merda”. E fui embora no táxi que alguém pagou. Cheguei em casa e tinha um puff na porta. Eu sempre quis um puff. Não sei de onde veio, mas fiquei feliz, trouxe pra cima e tentei dormir nele. Não rolou.

O problema da vódega é que eu esqueço tudo. Problema sério mesmo. Esqueço o que disse, o que fiz e com quem fiz. Falo, falo, falo e esqueço. Pego e esqueço. Não é lorota, eu realmente sumo de mim. Ontem eu não sumi, o que pode ser bem ruim porque eu disse e fiz algumas coisas que eu gostaria de esquecer. Mas tudo bem, porque hoje eu acordei rindo. Da minha própria cara, pra variar um pouco, mas acordei rindo. Se eu não risse, estava fodida. Minha desgraça é sempre engraçada.

.: Clara Averbuck :. 3:10 AM

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