quarta-feira, novembro 21, 2001
A estrelinha mágica não cantava, gritava
Então eu brilhei. Muito. Quando ele entrou, acendeu uma luzinha que eu tinha certeza estar queimada. Vai ver era só mau contato. Ele entrou e eu sentei. Estava cansada, suja, meu cabelo estava um verdadeiro lixo, mas a luzinha acendeu. São Paulo continuava quente, poluída e opressora, mas o soquinho e o frio na barriga quase me fizeram esquecer que eu estava na Grande Goiaba. Depois eu flutuei até minha cama e dormi. Dormi muito. Não sei se sonhei; sei que acordei tarde e sorrindo. Tomei um banho no chuveiro quente-frio-quente-frio, mas isso não me irritou. Deixei meus óculos de sol imaginando estar nublado e quase fiquei cega com o maldito sol, mas continuava sorrindo como uma Barbie. Peguei um trânsito de merda no primeiro dia em que decidi trocar o metrô pelo ônibus, mas Bukowski estava lá e eu nem dei bola e ignorei as buzinas e os reloginhos marcando "ruim" para a qualidade do ar. Sorrindo como uma Barbie, eu disse.
Não fumei nenhum cigarro, não tomei nenhuma bola. Almocei salada. Meu computador travou 34 vezes, o ventilador estragou, a internet estava lenta e eu estava com o torcicolo do mal. E a luzinha lá, firme. Não preciso de comida, não preciso emagrecer, não preciso de dinheiro, nem de cigarro, nem de vódega, nem de anfetaminas. Não preciso trabalhar nem pagar o aluguel nem a luz nem a água nem o speedy. Não preciso de lentes novas, amaciante, margarina ou um corte de cabelo. Eu preciso dele, mas não agora. Agora eu só quero que ele exista. De longe.
.: Clara Averbuck :. 2:06 PM
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