quarta-feira, setembro 26, 2001
Ok então. O tédio é tanto que resolvi botar aqui um pedacinho do meu livro. Livro? É, livro. Máquina de Pinball.
II.
Give me a lover that won’t give me troubles, some sexy dreams to chew on these bubbles.
Perry Farrell
Incrível como as pessoas parecem interessantes quando você está casado e totalmente sem graça quando você está solteiro. Um horror. Parece até que fumei maconha. Quando fumo maconha todas as pessoas tornam-se escrotas, seus poros aumentam, elas suam, têm cheiro de cheetos e parecem caricaturas de si mesmas. Já perdi o tesão mais de uma vez por causa dessa erva maldita. Cada um com os seus problemas. O meu agora era achar alguém minimamente interessante, e não estou falando de sexo. Aquela história de comer pessoas é só um analgésico. Eu não quero isso, eu não quero isso. Eu definitivamente não quero isso. Groupie por groupie, prefiro um que me dê colo. Colo, preciso de colo.
Da série “coisas que eu não devo fazer nos próximos seis meses”: voltar para Porto Alegre. Porque eu ia querer andar de mãos dadas com ele. Porque eu ia querer acordar na nossa cama, com os nossos gatos e o cheiro dele e as costas macias dele que eu nunca mais vou ver. Porque eu ia querer almoçar com ele, sair com ele, voltar pra casa com ele. Porque eu ia querer voltar pra casa com ele ou voltar pra casa sozinha e encontrá-lo deitado na cama e ouvi-lo usar nosso apelido de casal. Porque eu ia querer voltar pra casa. E eu não tenho mais casa. Não adianta, não aprendo, não entendo que amor dói. Amor vai sempre doer. E a Elza Soares dá de relho em qualquer falsa diva brasileira. Olha, não é por mal, mas essas donas que se acham divas deviam lavar calça jeans no tanque durante o inverno. A Marisa Monte devia lavar lençol com sabão de coco. Sabe? Esfregar mancha em camisa branca e ainda ter que passar calça com pregas. Favor descer do pedestal.
Impressionante também como não tem rádio nessa cidade. Só lixo. Se pego alguém reclamando quando tocar Red Hot Chili Peppers na rádio, juro que bato. Depois de muita procura fui obrigada a ouvir Bon Jovi, a coisa menos pior que encontrei. Ok, sou suspeita, eu era poser, eu era jovem, meus pais estavam separados. Eu gostava do Rachel Bolan, baixista punk-poser-glam do Skid Row. Na verdade, eu queria ser o Rachel Bolan. Mentira, eu tinha certeza que era o Rachel Bolan. Eu disse que era jovem. E quer saber? Pelo menos naquela época os roqueiros comiam mulher. Sim, porque nos anos 80 eles eram gays e dançavam com a parede e sofriam e agora eles são bonzinhos e delicados e sensíveis e sofrem. Não dá, não dá. Homem tem que ser homem e conseguir ser mais mulher que eu. E é aí que entra o Homem Glam, que merece até uns itálicos e uns negritos.
O Homem Glam
Eu estava nessa festa. E essa festa estava cheia de gente estrategicamente descabelada e moderninha. E eu lá no cantinho com meu whisky e meu gelo. Já mencionei que amo gelo? Adoro ficar mastigando e lambendo e botando e tirando da boca. O chato é que os voyeurs também adoram e ficam vesgos olhando. Tinha uns dois ou três em volta. Um saco, não se pode nem chupar gelo em público que os punheteiros se manifestam.
Então, do meio da massa de modernos, surgiu o Homem Glam.
Palpitações.
Ele vestia uma calça de couro e um casaco de oncinha. De oncinha! E não parecia ter ficado duas horas na frente do espelho. Muito pelo contrário, parecia que ele estava com aquela roupa há três dias. Magro. Lânguido. Descabelado e com o nariz empinadinho. Se eu soubesse desenhar um homem que não parecesse um bonequinho da forca, seria algo próximo a ele. Ah, o Homem Glam. Ele bebia cerveja. E eu mordia gelos porque meu whisky tinha acabado e eu não possuía mais dinheiro. Ele parecia ter saído do Maxim´s há 30 anos atrás. Saiu de um show do New York Dolls pra dar uma mijada na rua e acabou ali dentro.
Vamos lá, Camila. Think, McFly. Bole uma estratégia. Ele está bêbado, não pode ser tão difícil. Lá vem ele. Vamos lá, garota, faça valer a fortuna que custou aquele whisky barato.
- Oi.
Ahnnmmmm... Ele disse oi.
- Oooi.
Soei patética. Meu oi estragou tudo. Agora vou apelar.
- Tudo bem?
- Desculpe a falta de sutileza, mas você é o homem mais sexy que já vi.
Não, eu não fiz isso. Ok, agora não pode ficar pior.
- Rá, obrigado, que vergonha... Você também é linda.
Ó, não foi tão ruim assim. Mas a gente sempre pode arruinar bem rapidinho.
- Se nós casássemos e tivéssemos filhos, e nossos filhos tivessem filhos, nós seríamos glammother e glamfather.
Senhoras e senhores, conheçam a pior cantada do universo.
- Glam, é? Eu estava mesmo pensando em usar maquiagem...
Maquiagem. Ele queria usar maquiagem. Eu quero casar agora. Casar e ter filhos com esse nariz lindo dele. Você entendeu. Filhos. Casar. Anjos cantam. O mundo é lindo. Maquiagem. A única coisa mais sexy do que uma mulher acordando com os olhos borrados de lápis preto é um homem acordando com os olhos borrados de lápis preto. E descabelado. Casar agora.
O Homem Glam pediu licença e desceu. Me abandonou. E isso que eu também era linda. Claro, ele era glam e blasé, por que ficaria ali com uma pessoa que passa cantadas desse nível? Droga. E nem dinheiro pra encher a cara eu tinha. Pobre tem que se foder mesmo. Opa, não. Tá voltando. Com bebida. Tá vindo pra cá. Sorrindo. Casar agora. Lindo. Nariz lindo. Me pegou pela cintura. Você sabe tudo sobre um homem quando ele te pega pela cintura. E eu vi que era bom. Então chegamos na minha casa e eu fiquei muito constrangida. Porque eu durmo na sala, já disse. E ele era lindo e eu queria ter uma cama King Size pra caber tudo que eu queria fazer com aquele cara. E eu nem cama tinha. Colchão. Um colchão ridículo com desenhos de bússolas e âncoras. E um lençol do Frajola. Vergonha. De repente “vamos lá pra casa” não parecia uma idéia tão genial. Ora, lá pra casa. Que casa? Eu por acaso estava me referindo àquele meu quartinho especialmente projetado para que as empregadas não fizessem sexo? Azar, foda-se, ele estava ali comigo. E fomos e chegamos e foi na sala mesmo e começou a voar roupa e puta que pariu whatta man e uh, ele não tem pêlos e tem costelas e é mmmaaaagro, uh, whatta man whatta man whatta man. Beijos, muitos beijos e mãos e pele e oh, deus. Parou tudo. Ele disse que não ia conseguir.
Meninos, agora todos prestem muita atenção no que eu vou dizer.
BROXAR NÃO É TÃO RUIM COMO VOCÊS IMAGINAM. NÃO É.
É mais ou menos como se a nossa pussy não abrisse na hora que devia estar molhada e penetrável e quentinha. Eu entendo a frustração de vocês, juro. Mas vocês também têm que entender que pau não é tudo na vida e que se vocês ficarem parando só porque tem uma coisa mole pendurada no meio da pernas aí sim que estraga tudo. Keep goin? Don´t Stop, dizem as vadias na faixa 20 do Usually Just A T-shirt do Frusciante que foi lançando junto com o Niandra La´Des e que pouca gente nota que são dois discos. Até a 12 tem nome, até a 25 são untitled #1, #2 e assim por diante. Perspicácia, por favor. Então ouçam as vadias. Keep goin? Don´t stop. A não ser que tenham perdido o tesão na broxada. Mas enfim, entendam: é pior pra vocês do que pra nós, ou pelo menos pra mim. Se o cara for especial, deixa pra depois, e se não for, é só uma trepada a menos. Eu só queria ter pau na hora de mijar e de gozar na boca. Ejacular longe deve ser uma coisa legal, hein? Mas agora eu vou dormir. O homem glam está muito, muito triste porque broxou. Que saco. Virar pro lado e dormir e acordar e deixar claro que ele tem que ir embora logo. Existem pessoas para dormir com e para acordar com. Eu dormi com ele.
Acordei e fui tomar café. Não, café é jeito de falar. Na verdade era leite em pó com Nescau. Não tomo leite, tenho nojo. Coisas em pó são mais limpinhas. Nojo é uma coisa engraçada: eu engulo porra mas não tomo leite nem encosto em queijo. Até como, mas não toco. A não ser quando é na louça, trabalho sujo que eu sempre acabo tendo que fazer.
Moro com um menino que amo. Amo muito, meu amigo, meu irmão que briga comigo porque eu sacudi as pipocas e o queijo foi pro fundo e que ri quando eu uso tomara-que-caia e diz que é a peça mais engraçada do guarda-roupas feminino. Mas amor nenhum ameniza a irritação de ver duas semanas de louça fossilizando na pia. Morar com homem é uma merda, eles não sabem lavar as próprias meias e ficam esperando que suas mães se materializem para limpar o chão e dobrar as roupas e esfregar as meias e tirar os cabelos do ralo. Não dá. Mas tudo bem, lavar a louça não é das piores tarefas domésticas. Tendo som alto e podendo cantar e levantar as mãozinhas ensaboadas e usar a colher de pau como microfone, tudo fica bem. Stone Temple Pilots, Shangri La Dee Da. Bom pra caralho, como todos os outros. Tem essa música, Hello It’s Late, que me fez chorar copiosamente. It kills me just because it can’t be erased - we’re married. Married. Married. Buá. We’re married. E de repente me dou conta de que a melhor coisa que podia ter me acontecido foi aquele pé na bunda monumental. Sou solteira. Solteira! Livre. We’re not married. Meu ex-namorado tinha alianças, íamos casar, assinar contrato, papel, negócio, ainda por cima foi idéia minha, onde eu estava com a cabeça? Amor não é contrato. Ufa, foi por pouco.
.: Clara Averbuck :. 1:44 AM
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