i gave my life to a simple chord

quinta-feira, setembro 27, 2001

Já comentei aqui o quanto eu amo Strokes? Não? Ok. Tire suas próprias conclusões. Primeiro, leia I'm with the band, parido por esta que vos escreve e Cecília Gianetti, a garota mais foda do país. Depois, compre a Revista Atlântida e leia minha entrevista com o Fabrizio Moretti, baterista brasileiro deles. Então espere uma semana e vá ao site da Trip e leia minha resenha do disco dos garotos, Is This It. Daí compre a próxima Trip assim que sair e leia a outra entrevista que fiz com o mesmo Fabrizio (e que foi impiedosamente amputada), desta vez ao vivo em Liverpool, no show que está relatado logo abaixo porque eu ainda não botei na minha página.

THIS LIFE IS ON MY SIDE

Up on a hill is where we begin this little story, a few days ago.
Não interessa como ou pra quem ou quando, mas fui para o Reading Festival, na Inglaterra, com o objetivo de ver The Strokes, minha banda preferida desde janeiro, quando ouvi “Last Nite”. Claro que pretendia ver PJ Harvey, Hefner, And You Will Know Us Blablablabla, Cosmic Rough Riders e mais mil coisas (que acabei não vendo porque festival é uma merda e tudo acontece ao mesmo tempo e você tem que correr de um lado para o outro e mesmo assim perde metade), mas a principal razão eram os derrames. Não ouviu ainda? Pó pará. Pare tudo, saia do computador, dê pulinhos pela sala, volte para o computador, pegue o Winmx e baixe o disco inteiro, chamado Is This It (ou tome vergonha nessa cara suja e compre o cd) que está por todos os lugares aqui na Inglaterra, de onde vos escrevo na noite de domingo diretamente do meu quarto no Generator Hotel (segundo diz aqui na entrada, “the only place to stay in London”) depois de perder o vôo para honrar a tradição. Mas viu, Strokes. Quando você ouvir e se apaixonar pela banda também, vai entender as Aventuras de Lady Averbuck no Reino Unido. E se você não se apaixonar, paciência. People, they don’t understand. Eles realmente não são tudo isso que falam: são muito melhores.

Viagem planejada há meses com a soulsister e detalhes e muita expectativa. Dois dias antes a mãe dela tem um ataque de Kyle’s mom e resolve que ela não vai, sem mais explicações e sem discussão possível. Quase desisti e mandei todo o trabalho às favas, mas não permitiram e lá fui eu. Por pouco não perdi o vôo, esqueci cartão de crédito, esqueci lente, esqueci máquina, o diabo. Então depois do sumiço das minhas malas, um vôo cancelado e quatro horas em Amsterdan notando que as européias não têm absolutamente nenhuma bunda, cheguei em Reading. Eu deveria estar lá às duas da tarde para uma entrevistinha antes do show dos meus meninos, que eu obviamente perdi. No choice now, it’s too late. Quase chorei, mas sou um lenhador e estou oquei e resolvi ir para Leeds no outro dia. Rá. Não dava tempo. I missed the last bus will take the next train I tried but you see era caro demais e eu não possuía libras naquele momento. Ah é, Murphy? Então eu vou pra Liverpool, seu filho da puta. Você não vai estragar isso. Enough is enough. Pago do meu bolso, faço o que for. Estava lá para ver os Strokes e não arredaria o pé antes disso. I’ll try my luck with you.

Cheguei em Liverpool depois de quatro horas em um trem vendo coisas que eu sempre achei que eram cenários de filmes. Castelinhos, casinhas, pessoas com cara de inglesas proletárias com sotaque, outro mundo. I’ve been in town for just fifteen minutes now. Não fazia idéia de como chegar ao lugar onde seria o show, The Lomax. Saí da estação, dobrei numa rua qualquer e dei de cara com o lugar. E com o ônibus dos Strokes. E veja só, meu amigo, meu camarada, com os Strokes. Olá, brasileira, jornalista, perdi no Reading, falei com o Manager, entrevista. Pronto, estava dentro. E nem precisei mentir.

Eu estava tão preocupada com a pauta da entrevista - que foi deixada de lado e esquecida devido ao nervosismo adolescente que apoderou-se de mim para, segundo o Fab, dar lugar a uma conversa de buddies, o que é muito melhor - que só alguns momentos antes do show, depois de ver a passagem de som, de conversar com todo mundo e filar cigarros do Julian que me dei conta que veria o show mais importante da minha vida. Era por isso que eu estava ali, porque estou no momento de coisas acontecendo e eu precisava ver um show durante a fase de hipnose e paixão cega pela banda, não dez anos depois quando eles resolvessem ir pro Brasil. Que merda morar no Brasil quando realmente se gosta de música.

O show, cara. Não tomei uma puta de uma nota, dei uns tapas de maconha antes com o tour manager dos Moldy Peaches, tomei umas cervejas especialíssimas, troquei de roupa porque tinha passado horas em um trem pra chegar em Liverpool (com direitos a comentários infames como “you changed, you’re not the same person I met before”) e quando me posicionei pra tirar as fotos, caiu a ficha. Eu estava em um show dos Strokes. Fiquei imediatamente sóbria e o sorriso rasgou-se na minha cara e permanece até agora por todos os séculos dos séculos amém. Aquilo era o show do Faith No More que eu perdi aos 11 anos no auge da paixão porque não tinha quem me levasse, era o Tokyo Tattoo e o John Frusciante com 17 anos tocando de saia rosa pink no meio dos japoneses, eram os Strokes tocando na minha frente, o Julian olhando pra minha câmera e jogando o pedestal no chão e bebendo whisky sem gelo and I am stop and go in your eyes. Não lembro a ordem das músicas, não faço a menor idéia e nem me interessa. Cada vez acredito menos em ordem, de qualquer tipo, para qualquer coisa. Lindo, show maravilhoso, a qualidade do som estava perfeita, a luz estava perfeita, eu escorreguei na escada e quase fiquei paralítica e rasguei minha calça de couro na bunda mas foda-se, estava em um show dos Strokes. O lugar devia ter mais ou menos 300 pessoas suadas e felizes, mas todas elas juntas não chegavam ao chão abaixo dos pés da minha felicidade. Eu vi um show dos Strokes, puta que pariu. No, girlfriends, they don’t understand. Your grandsons, they won’t understand. On top of this I ain’t ever gonna understand como pode ser tão simples e tão bom e tão cru e tão genial.

Tomei muita cerveja e comi todas as cerejas do camarim da minha banda preferida. I just want to misbehave. I just want to be your slave. Someday I ain’t wasting no more ti.i.i.i.ime. Acho que é isso o que chamam de êxtase. They’re gonna win someday, well they will.


.: Clara Averbuck :. 2:08 PM

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